O dia em que o milho foi a estrela na Fenarroz

 O dia em que o milho foi a estrela na Fenarroz

Antônio da Luz: milho oferece mais renda

(Por Cleiton Evandro dos Santos, Planeta Arroz) O arroz não deixará de ser o grande personagem da Fenarroz, afinal há mais de um século de história que relacionam a região e a Capital Nacional do grão, mas a programação técnica desta quarta-feira deu o tom e vastos argumentos pelos quais o evento tornou-se uma multifeira de agronegócios. O milho chegou a ofuscar o brilho do arroz e ganhou notoriedade em momentos distintos no Cacisc ao Meio-Dia, com o economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz, e no Seminário do Irga, que trouxe dois dos maiores especialistas em cultivos alternativos em terras baixas a Cachoeira do Sul, o professor da UFRGS e consultor do Irga na área de milho, Paulo Régis da Silva, e o professor Enio Marchesan, do Grupo de Pesquisa em Arroz Irrigado e Culturas de Terras Baixas (GPAI) da UFSM.

A diversificação de culturas em áreas de arroz foi a tônica de eventos paralelos da feira. Há 10 anos não se poderia sugerir redução de área de arroz, pois não havia alternativas. “Sabíamos que o ambiente de várzeas não tinha outra alternativa cultural e que o Rio Grande do Sul reduzir produção de seria a senha para os países vizinhos, mais competitivos e com menores custos, aumentarem suas áreas e isso não iria gerar renda ao setor. Hoje, temos tecnologia e meios para produzir soja e milho em terras baixas, e isso tem se mostrado viável. Talvez assim, substituindo arroz por soja e milho, gradativamente, se consiga recuperar o preço do arroz. Hoje, um saco de 50 quilos de arroz vale, no mercado, R$ 11,00 a menos do que custa para ser produzido”, ilustrou Antônio da Luz.

Por outro lado, ele destacou que a configuração de diversos fatores globais estão indicando a tendência de uma crise global de alimentos. E neste aspecto o Brasil terá grande oportunidade e grande responsabilidade, pois é o maior exportador de grãos do mundo. “No momento, o foco são commodities como soja, milho e trigo e proteínas que estão em evidência, mas gradativamente temos certeza que o arroz alcançará um patamar de recuperação. Para isso não será apenas a conjuntura internacional que irá mudar, é preciso fazermos nossa parte. E nossa parte, aqui no RS, que produz 70% do arroz do Brasil, é reduzir área e ocupar este espaço com soja e, principalmente, milho”.

A insistência do economista pelo milho diz respeito à insuficiência produtiva do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, que hoje são importadores do grão para suprir suas cadeias de carnes e lácteos. “Hoje o milho custa menos para produzir e gera 26% mais renda que o arroz. É um cálculo simples, mas que o produtor precisa fazer”, agrega. Ele também explicou que o fato de Cachoeira do Sul produzir soja em 110 mil hectares, também é um sinal de que o milho será uma consequência. “O milho é companheiro e sucessor da soja por motivos agronômicos e econômicos e traz com ele inúmeras oportunidades, desde indústrias de rações até a produção de energia e fortalecimento das cadeias de proteínas”, exemplifica.

IRRIGADO

O professor da UFRGS, Paulo Régis da Silva, enfatizou que juntamente com a soja o milho é a grande esperança da metade sul gaúcha. “Num terceiro ano de La Niña, como está sendo previsto, não recomendaria o plantio em coxilha sem uma grande estrutura de irrigação e disponibilidade de água, mas as terras baixas resolvem isso, pois têm umidade. Seja em sulcos-camalhões, que há oito anos dão ótimos resultados nos meus experimentos, camalhões de base larga ou outros modelos, os resultados podem ser muito bons com um manejo adequado”, recomendou.

Ele também explicou que em regiões mais quentes, como a Fronteira Oeste, é possível plantar o milho em agosto e depois ainda fazer uma safrinha de soja. “Se a gente botar o arroz e a pecuária no ciclo, é possível fazer quatro safras seguidas, sendo uma delas de carne”, brincou.

INFRAESTRUTURA

Enio Marchesan, da UFSM, enfatizou que os 10, 12 anos de experiência dos arrozeiros com a soja em terras baixas deram a base necessária para, agora, a introdução do milho neste ambiente. “Passamos este tempo todo aprendendo a dominar o ambiente de várzeas, os nossos tipos de solo, a drenagem e a irrigação, a adubação, que exigem outros modelos diferentes do arroz para estas culturas. Agora, temos uma base melhor e o milho vai aproveitar esta bagagem”, enfatizou. Pelo menos três arrozeiros cachoeirenses já plantam milho em sistema de sulcos em áreas de arroz, numa área pouco inferior a 250 hectares. Superfície que poderá chegar a 500 hectares na próxima temporada. A programação técnica prossegue hoje, a partir das 9h.

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