Mercado e as avaliações na UTI

Autoria: Marco Aurélio Marques Tavares – Administrador de Empresas e Produtor Rural.

Várias justificativas têm sido explicitadas nas últimas semanas sobre o “complicado” mercado do arroz.

Após as cotações (Indicador ESALQ/Senar RS) alcançarem o pico de preço, em reais (R$ 45,77) e em dólar (U$ 12,33), há 45 dias, e atingindo o preço de paridade internacional, começaram a ceder gradualmente, repentinamente e permanentemente, despencando na última sexta-feira para U$ 10,79 ou R$ 41,17 e com várias justificativas…

Inicialmente, foi a valorização do real frente ao dólar, em razão da mudança nos rumos da política nacional, que impacta na paridade internacional, mas o dólar contrariou as previsões (<R$ 3,5) e passou a orbitar numa faixa superior a R$ 3,70 e hoje surpreendeu, ultrapassando R$ 3,90;

Também a “propalada” redução de consumo interno (redução das vendas ao varejo (?), apesar de que o cereal apresentar uma demanda inelástica, pois sendo um produto essencial (e barato) é menos sensível a alteração de preços e sabidamente diante de uma grave crise econômica, como é o caso, não é substituído por produtos de maior valor agregado e mais caros, mas por coincidência ou não, a Conab reduziu o consumo nacional de 12 milhões de toneladas para 11,8 milhões, nos últimos relatórios;

Outra justificativa foi o aumento expressivo da oferta do casca nas últimas semanas, o que provocou o efeito manada, precipitando a queda de preços(ou o contrário (?). Sabidamente há uma concentração expressiva de indústrias,e que formatam preços, embora estivéssemos na entressafra (sazonalmente não há excesso de oferta num curto prazo), onde grande parte do produto já foi comercializado e naturalmente fica concentrado em produtores mais capitalizados, e como tivemos um início de plantio mais tardio, (chuvas intensas no início de outubro), deverá determinar um alongamento da entressafra;

Também se alegou as questões referentes ao Mercosul, sendo que é inegável a maior competitividade dos vizinhos, notadamente o Paraguai, mas estamos credenciados com um volume apreciável de exportações que atingiram quase 1,1milhão de toneladas nos oito meses do ano, podendo atingir um recorde histórico e com um superávit expressivo de quase 500 mil toneladas. Importações em torno de 1 milhão anuais (inferior a 10% do consumo) podem balizar os preços internos(?) e também considerando que somos exportadores líquidos, atualmente;

E agora, a pá de cal, segundo a análise abaixo, Cepea/”Esalq “ o excedente do mercado doméstico é um dos maiores dos últimos 4 anos e o consumo está enfraquecido, justificado pelas vendas de arroz beneficiado ao varejo nos últimos dois meses”.

Embora, segundo os “dados oficiais”, leia-se Conab, o estoque de passagem, em 28/02/2019, será de 775 mil toneladas (20 dias de consumo) e um dos menores dos últimos anos), e que também, considera um superávit de apenas 200 mil toneladas (contra os atuais 500 mil) no atual ano-safra e ainda prevê uma produção abaixo da média nacional (-6%) e um estoque de passagem ainda menor para o próximo ano safra(!)

Realmente meus caros, o setor arrozeiro está na UTI. A falta de competitividade, mobilização, indignação, representatividade, unidade, falta de estratégias e soluções, confiabilidade de dados, dificuldade de avaliações e de previsibilidade de cenários determinam um fácil diagnóstico e um difícil prognóstico.

Não tenho saudades e não sinto falta dos tempos em que fui diretor de Mercados da Federarroz e consultor de Mercados do Irga.

3 Comentários

  • O produtor tem que fazer um ”mea culpa” (muitos) pois pegam dinheiro das indústrias, as malfadadas CPRs com vencimento na colheita, fazendo que as mesmas ‘arriem’ o preço na safra, efeito pelo qual todos saem prejudicados!!

  • Amigo, não duvide da estagnação do mercado consumidor. Aqui na outra ponta, em São Paulo, está tudo parado.
    É surpreendente, mas há mais elasticidade do que imaginamos no consumo do arroz. Atribuo esse efeito aos estoques em toda a cadeia produtiva (intermediáros, indústria e varejo), que vão sendo baixados diante do marasmo no mercado e da safra que se avizinha.
    Por outro lado, há alguma elasticidade nas vendas na própria gôndola. Imagino que o consumidor também deixe abaixar seus estoques e, na falta, recorra a marcas de baixíssima qualidade, que talvez empreguem matéria-prima paraguaia. Também há de se considerar que nem todos os consumidores coloquem na ponta do lápis os seus custos com alimentação e acabem trocando uma refeição completa com arroz e feijão por um pão com qualquer coisa para economizar.

  • Não é cabível que se queria dar de ”São Tomé” ver para crer, no presente momento, mas o varejo, cito as grandes redes abastecedoras compradoras das maiores industrias transformadoras de produtos primários como o arroz, não apresentem dados relativos aos seus volumes de venda. Por que a associação dos super mercados não vem a público e apresenta sua planilha de vendas mensais de seus últimos dois ou três anos ? Seria de estrema valia para a população e principalmente os produtores saberem a realidade do consumo e na venda da ”outra ponta ” como industriais, corretores e varejistas costumam dizer ??? O silêncio e a omissão conspiram a favor de interesses escusos em que vantagens financeiras sobrepõem a real situação de um mercado em que a classe produtora é sempre enrolada por seus algozes como indústria e varejo!!!

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