Camil: Investimentos de maior retorno serão mantidos; expansão inorgânica também
(Por Isadora Duarte, Broadcast Agro) A combinação de juros elevados, inflação em alta e arrefecimento da economia não vai afastar a Camil Alimentos da maioria de seus projetos de expansão. A companhia pretende seguir com os projetos de maior retorno, mesmo aqueles que necessitam de maior volume de recursos, segundo o diretor-presidente da companhia, Luciano Quartiero. Já aqueles de menor retorno tendem a ser freados momentaneamente.
“Optamos por esperar para iniciar alguns investimentos, assim como estamos implementando outros que fazem sentido. Os investimentos de menor retorno que não são críticos foram adiados e os de maior retorno, prosseguidos”, disse Quartiero, em entrevista exclusiva ao Broadcast Agro, ao comentar os resultados da companhia no primeiro trimestre fiscal de 2022. A companhia atua em arroz, feijão, café, açúcar, massas e pescados.
Um dos projetos que a companhia optou por prosseguir é a construção da nova termoelétrica em Cambaí, na região de Itaqui (RS). O projeto de geração de energia a partir de casca de arroz prevê aporte de R$ 150 milhões. A conclusão do projeto está prevista para julho de 2023. De acordo com a empresa, a termoelétrica usará toda a casca de arroz das plantas da região e permitirá à companhia ser autossuficiente em energia na região. Hoje, mais de 90% da energia utilizada nas plantas da Camil são de fontes renováveis. Deste montante, aproximadamente 40% é produzido pela própria empresa por meio da casca do arroz.
Outro projeto que está mantido, no momento, é a construção de uma nova fábrica de arroz em Cambaí. O projeto exige aporte de R$ 250 a R$ 300 milhões, com execução estimada de 18 a 24 meses. A obra, contudo, ainda depende de licenciamento ambiental para ser iniciada. “O processo de licenciamento continua. Hoje, como ainda não temos todas as licenças, não podemos iniciar. Mas é um projeto que colocamos muito esforço em análise e, considerando o cenário atual, se tivesse aprovado hoje, provavelmente não postergaríamos”, contou Quartiero.
Além dos projetos de investimento na estrutura própria, o crescimento inorgânico, por meio de fusões e aquisições de outras empresas (M&As), também continua no foco da empresa, antecipou o executivo. “Continuamos ativos em buscar novos negócios. Nos últimos 9 meses, integramos quatro novas aquisições, duas novas categorias e um novo país e nossa capacidade de integração está sendo comprovada. Estamos preparados para isso”, comentou o diretor-presidente.
No ano passado, a companhia fez quatro aquisições, entrando em novos segmentos de atuação, como massas e café, e em novos países, como o Equador. Há interesse ainda da companhia por outros segmentos dentro da cadeia do trigo, como biscoitos e farinha, segundo Quartiero. “Mantemos interesse em categorias de alto giro e também temos vontade de levar novas categorias aos países que estamos, além de entrar em novos mercados na América do Sul e Central, como a Colômbia, que é um desejo antigo”, apontou.
A situação financeira da empresa permite o apetite por novos negócios, segundo Quartiero. “A Camil tem estrutura de capital muito sólida. Ainda temos capacidade para fazer novas aquisições de pelo menos R$ 1 bilhão. Não temos nenhuma preocupação com capital”, apontou. Segundo o executivo, há ferramentas de captação de recursos que podem ser lançadas como a oferta de ações por parte da família controladora da empresa. “Hoje a família que controla a empresa detém 64% de participação e tem disposição para baixar a participação até 40% se necessário, o que aumentaria a capacidade de valor nominal para aquisições significativamente”, apontou Quartiero. A alavancagem da companhia, relação entre dívida líquida e Ebitda, também permite tal movimentação, já que encerrou o primeiro trimestre fiscal deste ano em 2,4 vezes, abaixo do limite considerado adequado pela própria empresa, de 3,5 vezes.