Exportações esfriam e comercialização fica em stand by
(Por Cleiton Evandro dos Santos, AgroDados/Planeta Arroz) Depois de reagir em julho, mercado do arroz em casca mostrou enfraquecimento nos primeiros dias de agosto no Rio Grande do Sul e as explicações são muito simples: o real voltou a valorizar-se sobre o dólar e o país perdeu competitividade para seguir vendendo o grão para o exterior como vinha fazendo nos últimos 45 dias. Como as indústrias não acompanharam as tradings nos preços da matéria-prima, pois não conseguiam repassar, as cotações perderam o suporte e houve retração em algumas praças. De outro lado, o movimento de baixa, mesmo que leve inicialmente, preocupou os produtores e a oferta aumentou.
Com o varejo também travado nas compras, a indústria segue pressionada entre um fornecedor que busca negociar apenas sob condições de elevação dos preços do arroz em casca e um varejo que quer preços cada vez mais baixos pelo arroz beneficiado. Com isso, cotações que chegaram a R$ 80,00 livres na Fronteira Oeste (R$ 87,00 com fretes e taxas para o porto), recuaram para R$ 77,00/78,00 na indústria. E sem demanda de exportação. Em Santa Catarina, recuaram até R$ 73,00. Mesmo em liquidação para o produto depositado.
Outro fator que está pesando sobre o mercado brasileiro – hoje o mais caro do Mercosul – de exportação, é o avanço da colheita dos Estados Unidos. O Brasil vendeu de 400 a 500 mil toneladas nos últimos 45/60 dias. E vai embarcar esse volume nos próximos 60/90 dias. E passou a sofrer uma concorrência mais forte nos mercados que disputa com os norte-americanos, que são as Américas e o Oriente Médio. O mesmo vale para o Uruguai, ainda que cerca de 30 dólares mais competitivo que o arroz brasileiro, por tonelada.
Como as tradings já estão “compradas” a movimentação segue fraca. Teria, o dólar, que voltar para as imediações de R$ 5,30 para uma retomada dos negócios, pois o arroz segue em alta nos EUA.
A expectativa, a menos que haja uma mudança mais importante no aspecto cambial por fatores macroeconômicos, contaminação da economia brasileira pelas eleições, ou a temida – para uns – suspensão das exportações da Índia que elevaria os preços mundiais do arroz, é de que os próximos 60 dias devem se resumir a embarques e negociações muito pontuais por parte das tradings que operam no Brasil no que diz respeito ao arroz em casca e o beneficiado. Quebrados seguirão com demanda firme para a África e pet food para Europa e EUA.
As tradings esperam a volta do movimento de demanda mais forte em novembro/dezembro. Como os principais importadores das Américas: Cuba, México, Peru e Venezuela deverão ter colheitas menores, a esperança do Mercosul permanece para novos negócios mais vultuosos até o final do ano comercial.
MERCADO DOMÉSTICO
Do ponto de vista do mercado doméstico, apesar do tamanho, há esperança de que o aumento do auxílio social federal dê suporte a um volume maior de compras pelo consumidor brasileiro. Mas, de outro lado, a indústria entende que este é um mercado que está entre a estabilidade e a gradativa retração do consumo. E que não dá suporte, sozinho, à elevação das cotações. A oferta superior à demanda brasileira, gerada pela safra com números dentro do espectro de normalidade, apesar de importantes perdas pontuais, as importações mais fortes do primeiro semestre e o represamento do produto por falta de interesse de negociação pelos agricultores, tende a seguir pressionando para baixo os preços do arroz em casca nos próximos meses.
Ou seja, o Brasil é dependente de novos embarques para equilibrar oferta e demanda e cotações que remunerem melhor o grão. O início do plantio em setembro em algumas microrregiões do Sul, também tende a gerar maior oferta pela necessidade de caixa de alguns produtores. Por outro lado, um fator que poderá ajudar a consolidar cotações mais elevadas, avalia a cadeia produtiva, seria um corte mais drástico na intenção de plantio.
O mercado tende a se autorregular, mas a indústria que não conseguiu acompanhar as cotações das tradings agora deve a ajustar seus valores a patamares que compensem os preços do fardo ao varejo. Se não consegue repassar os valores ao varejo, tentará reduzir os da matéria-prima. Lógica que a cadeia produtiva conhece muito bem. No momento, a expectativa é de que Argentina, Uruguai e Brasil reduzam a área semeada, enquanto o Paraguai deve aumentar. O clima, no momento, e a disparada do custo frente aos preços médios da região, têm sido determinantes para a tomada de decisão. O Paraguai já começará a plantar na próxima semana.