Arroz tende a valorizar a partir de outubro
(Por Luciara Schneid, Diário Popular) A redução de área no Rio Grande do Sul, estado que produz 71% da safra orizícola nacional, será o “fator novo” para compor o cenário de preços entre setembro e fevereiro, os seis meses restantes do ano comercial que vai de 1º de março a 28 de fevereiro, e também no período comercial de 2023/24. A observação é do analista Cleiton Evandro dos Santos, da AgroDados Inteligência em Mercados de Arroz/Planeta Arroz. “A redução de área, por si, projeta uma safra menor no Estado, embora o clima ainda vá interferir no resultado. Ao confirmarem-se estas projeções, e a depender da produtividade efetivamente obtida, poderemos ter uma variação acima ou abaixo dos
10%”, diz.
Neste aspecto, Santos destaca a necessidade de observar outros dois fatores: esta será a terceira safra sob influência do fenômeno La Niña, que traz menor volume de chuvas a boa parte das regiões arrozeiras gaúchas e, por causa da disparada dos custos de produção nos últimos três anos, pode ocorrer uma
redução nos níveis de tecnologias aplicadas em algumas lavouras, como por exemplo em fertilizantes.
Outro fator que o analista considera importante observar é o comportamento do câmbio. “Nos padrões atuais de suprimento, que é inflado também por importações, o mercado doméstico não dá suporte a elevações mais significativas dos preços ao produtor e ao longo da cadeia produtiva. Então, precisamos
exportar ao menos de 15% a 20% do arroz que produzimos no Estado e, com isso, valorizar os outros 80, 85%”, aponta.
Ele enfatiza que a demanda global, a eficiência no “time” das vendas internacionais pelo setor e, principalmente o câmbio, são fatores decisivos. “Hoje, é fundamental exportar para equilibrar oferta e demanda e garantir a remuneração adequada aos produtores”, diz. Ao consumidor a diferença é mínima e o arroz segue sendo o produto de maior rendimento, qualidade e menor preço na cesta básica, ressalta.
“Então, a relação custo x benefício é muito favorável para quem consome. Essa não é a realidade do produtor, por exemplo, que em muitos períodos do ano, e até em algumas safras, não consegue obter um
preço de venda que supere a totalidade de seus custos”.
O fato da Zona Sul concentrar o principal polo de beneficiamento, o porto de onde partem mais de 95% das exportações brasileiras de arroz e, também, o salto em eficiência das lavouras de arroz da Zona Sul nos últimos dez anos, associado à conversão de áreas de pousio em rotação com soja, permitem à região ter melhores preços do que nas demais praças gaúchas.
“A disputa pelo grão entre indústria e tradings ajuda a elevar as médias de Pelotas para R$ 78,00 por saca de 50 quilos, em casca, e até R$ 83,00 posto no porto, enquanto as demais regiões precisam descontar o frete que chega a até R$ 7,00 no caso do envio da Fronteira Oeste para Rio Grande”, exemplifica.
Para Santos, os preços do arroz ao produtor tendem a se elevar entre o final de outubro e o final do ano comercial, em fevereiro. “É natural e histórico que a medida em que alcancemos o pico de entressafras, os preços se recuperem”, afirma.
E neste ano há três componentes importantes que poderão fortalecer esse movimento: a previsão de um significativa redução de área no Rio Grande do Sul, no Brasil e no Mercosul; aspectos competitivos como um bom volume das exportações que foram destravadas a partir de julho no Rio Grande do Sul e um
cenário internacional positivo, pois os Estados Unidos, que são os grandes competidores do Mercosul estão colhendo uma safra menor e a Índia, o maior exportador mundial estabeleceu sobretaxas sobre o seu arroz, o que deve impactar os preços globais e manter o arroz brasileiro competitivo.
“Não devemos ter preços espetaculares para o arroz em casca até fevereiro, como os mais de R$ 100,00 que tivemos em 2020/21, mas há uma tendência de recuperação gradual a ponto de tornar o grão que ainda está nas mãos dos produtores, um pouco mais rentável”, diz. E sempre é bom iniciar uma nova safra de um patamar mais alto, pelo menos empatando com o custo, pois traz uma grande possibilidade de reação ao longo do ano, finaliza.