Preços voltam para a “caixa” no final da safra, mas futuro deve ser de recuperação

 Preços voltam para a “caixa” no final da safra, mas futuro deve ser de recuperação

(Por Cleiton Evandro dos Santos, AgroDados/Planeta Arroz) Os preços do arroz no Rio Grande do Sul derreteram em maio, e levaram junto a reação que era vista também no restante do Brasil entre março e abril. A queda, segundo o indicador de preços do arroz em casca Cepea/Irga, para 50 quilos, foi de 6,3% com o mês de maio se encerrando com as cotações em R$ 82,75 e em valor equivalente em dólar, pelo câmbio desta quarta-feira, em US$ 16,29.  No primeiro dia útil do mês passado (2/5) a saca de arroz era cotada a R$ 88,10, valor que então era equivalente a US$ 17,46. Em reais, portanto a queda foi de R$ 5,35, valor equivalente a pouco mais de um dólar por saca.

Nem todos os fatores que causaram a queda de preços estão diretamente relacionados ao mercado do arroz. Mas, sabe-se, por exemplo, que a safra gaúcha deve ficar em torno de 7,1 a 7,2 milhões de toneladas e a brasileira em torno de 10 milhões de toneladas. Com as boas exportações de 2022, sabe-se também os estoques são menores. A leitura do mercado é de que oferta e demanda estão ajustadas e há uma gordura para uma balança comercial superavitária.

A situação é mais pontual. O que se percebe-se é que o comportamento do mercado do arroz “voltou pra caixa”, ou seja, à condição de um ano típico com oferta concentrada no final da safra, também pelo atraso no ciclo das plantas. Há lavouras sendo colhidas em pleno junho, coisa que há muitos anos não se via. Trata-se de uma concentração de fatores negativos que individualmente não afetariam com grande impacto o mercado, mas em conjunto estão fazendo estragos no preço ao produtor.

Se a relação de oferta e demanda está ajustada, por outro lado as importações do arroz branco e integral do Paraguai – que já teria vendido 70% da sua safra  para o Brasil para carregar nos próximos cinco meses – está balizando preços em São Paulo e Minas Gerais em valores que decompostos representariam entre R$ 68,00 a R$ 72 por saco de 50 quilos, perfazendo uma média de R$ 70,00. E a indústria nacional precisa buscar condições competitivas. Uma das formas é assumindo o prejuízo, outra é buscando matéria-prima em valores competitivos. Isso pressiona as cotações.

Ao mesmo tempo, em função do vencimento de créditos de custeio, CPRs e com preços da soja e do milho em baixa, muitos produtores optaram por negociar o arroz a espera de uma recuperação mais forte dos valores dos demais grãos. Isso aumentou a oferta. A indústria recuou e muitas ficaram mais de uma semana fora do mercado. As tradings entraram pontualmente para realizar compras após o dia 20, mas fecharam carga, em alguns casos, em quatro horas, e saíram do mercado.

Com a previsão de uma ótima safra nos Estados Unidos, o Brasil deve perder espaço em mercados essenciais para exportar, o que é o caso do México e da América Central para arroz em casca. E isso gera uma condição em que as cotações para o futuro no Brasil – também com reflexos já demonstrados para a CBOT – são previstas mais baixas pelo represamento de produto interno. As tradings apostam que a janela de embarques deve se dar até setembro, no máximo, e depois as exportações devem se acalmar, o que tem possibilidade de ocorrer.

De qualquer maneira, os embarques estão na média dos últimos cinco anos, exceto por 2022 que bateu um recorde com as vendas de 2,11 milhões de toneladas. O arroz beneficiado é quem está destoando, com remessas mais fracas em quantidade e preço.  A balança comercial do quadrimestre é superavitária.

A queda vertiginosa da soja, do milho, do trigo e do petróleo e as referências futuras da Bolsa de Chicago estão atingindo em cheio as cotações brasileiras do arroz neste momento pelo ponto de concentração da oferta. Quem poderá resolver isso é o dólar, que ameaça pequena reação. Reunindo dólar fortalecido e preços internos mais baixos, começa a se criar boa perspectiva para a retomada mais forte das exportações. Quando o Brasil exporta, os preços recuperam-se, nem que seja parcialmente. E isso pode alavancar uma recuperação.

Outra boa expectativa se cria pela redução dos custos de produção a partir dos menores preços de fertilizantes e defensivos. Alguns agentes julgam que os R$ 82/83 de média atual no Rio Grande do Sul, no ano que vem, poderá ser mais remunerador do que os R$ 87,00 em que os preços andaram. Fato é que nesta safra que ainda está sendo colhida em pleno 2 de junho, nenhum destes valores cobre integralmente os custos de boa parte dos produtores. E nem estamos falando nos prejuízos das quebras.

Preocupa o carregamento de estoques para o segundo semestre do ano safra se os produtores resolverem não vender e travarem a “roda” da comercialização.

Com um câmbio levemente mais favorável e em cima do quadro de oferta e demanda, espera-se que os preços do arroz se recuperem antes de setembro, que foi o caso do ano passado. Mas, é mais uma torcida do que uma certeza, afinal a queda dos preços das commodities não deve apresentar uma recuperação tão significativa ao longo do ano por causa da expectativa de uma grande safra norte-americana e no hemisfério norte. El Niño, porém, deve ser agregado a este contexto.

 

 

 

2 Comentários

  • Se ainda tão colhendo deva ser menos 0,5% nessas altura, as quebras são reais com a estiagem. Com esses preços provavelmente tendo elnino se prefira plantar mais soja nas áreas seguras, pq várzea representa risco muito alto pro arroz, descansar terra com gado se faz necessário.

  • O USDA está perdendo a sua credibilidade mundial em função das últimas previsões que não se confirmaram! Confio que o arroz comece a disparar já em agosto. As grandes indústrias estão com seus estoques defasados! E já gastaram sua maior munição esse ano: – O arroz do Mercosul!!! Faltarão de 2 a 3 milhões de toneladas nessa safra. O mar recuou mas o tsunami vem atrás! Os que tem leitura contrária melhor se informarem um pouquinho mais! Em ano de El Nino é muito arriscado plantar nas várzeas! Quem se atracar vai se lascar isso é fato. E metade das áreas cultivadas no RS e SC são várzeas! Não tem mais como tapar o sol com a peneira! Ademais temos que seguir plantando 800.000 hectares. É por ai pessoal. R$ 78 de preço não cobre os custos! CPRs cada vez se afundam mais! Abraço.

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