Mercado do arroz se mantém estável, mas pressionado
(Por Cleiton Evandro/Revista Planeta Arroz) O mercado de arroz no Rio Grande do Sul se mantém com preços estabilizados acima dos R$ 100,00 para o grão com 58% de inteiros acima, produto cada vez mais raro nas ofertas pontuais que ocorrem, em especial nas regiões Central, Campanha e Oeste gaúchas. O Indicador de Preços do Arroz no Rio Grande do Sul, publicado por Cepea/Esalq e Irga, tem mantido um crescimento mais lento, mas constante ao longo do mês, acumulando cerca de 1,5% de valorização.
Com os arrozeiros preocupados em ocupar com eficiência as janelas climáticas para a semeadura tanto no RS como em Santa Catarina, as negociações têm acontecido lentamente. Sem a presença das tradings em busca de arroz em casca – as cargas que estão por sair até o final do ano já estão compradas – a indústria tem pressionado por menores cotações da matéria-prima na abertura dos mercados sob o argumento de que não consegue repassar o valor e colocar sua margem na venda do fardo beneficiado ao varejo.
O cálculo, utilizando-se as médias como parâmetro, realmente não fecha e fica bastante apertado para algumas marcas que operam na parte inferior das tabelas sem grande flutuação. Deve-se, porém, observar que a venda de algumas marcas no varejo em condição de oferta, bem abaixo do preço de mercado, tem razões muito particulares. Ou trata-se de produto de “enxoval”, promocional, de lote que o varejo quer desovar, ou o tradicional “chamariz”, ou seja, uma ferramenta de marketing que vende arroz barato em espaços muito próximos de produtos de valor agregado maior e perecíveis (como hortifrutigranjeiros) para atrair o cliente.
Há industriais que afirmam verem suas marcas sendo negociadas abaixo do preço de custo em algumas redes. O que faz sentido para quem opera o varejo, mas não para quem lhe abastece e mesmo ao fornecedor da matéria-prima. Outro fator que acende o alerta para a indústria é a redução no volume dos pedidos que já estão sendo realizados pelas grandes redes varejistas para o giro de dezembro/janeiro. São meses de baixo consumo e cujas negociações se estabelecem com pressão ainda maior dos atacadistas e supermercados, seja pelo corte de volume, seja pela exigência de preço.
Dito isso, é importante deixar claro que o Brasil tem negociado pouco volume com o exterior e ainda se trata de contratos antigos. Boa parte do grão em casca que está sendo embarcado em navios cada vez mais raros, é remanescente de negócios de arroz abaixo dos R$ 100/102,00 por saca colocada no porto (em alguns casos, embarcada). Isso, apesar do bom volume de remessas que houve nos sete primeiros meses do ano, testa a capacidade do mercado interno. Pode o consumo interno em decréscimo nos próximos meses e com ausência das exportações sustentar as atuais cotações?
A resposta estará muito mais concentrada nas cotações “climáticas”, a partir da projeção do avanço do plantio no país, e no câmbio, do que propriamente na relação oferta x demanda. Neste aspecto, porém, há uma particularidade. Aqueles 2 a 3 pontos de média – e até 5 em alguns casos e regiões – perdidos na qualidade industrial do grão por causa da estiagem e das altas temperaturas na safra passada no Rio Grande do Sul, muito especialmente na Fronteira Oeste e na Depressão Central gaúcha. Hoje, boa parte da oferta remanescente no Rio Grande do Sul é de arroz abaixo de 55% de inteiros, o que supre o mercado de parboilizado – até certo ponto – e Tipo 2 para baixo, mas pode manter valorizada a oferta cada vez mais exígua do padrão acima de 58% de inteiros e, mais ainda, do produto acima de 60%.
Nesta intrincada e complexa equação, seguimos semeando quando é possível, o quanto é possível, e negociando nas condições que o mercado oferece. Mas, torcendo para que as próximas notícias deem suporte aos preços ao longo da cadeia produtiva. Afinal, se há uma certeza neste setor é que o arroz, ao consumidor, ainda é o produto mais barato da cesta básica e aquele que gera maior relação entre custo x benefício nutricional/alimentar.