Mercado de arroz busca seus caminhos, apesar das ameaças
(Por Cleiton Evandro, AgroDados/Planeta Arroz) O mercado de arroz gaúcho, e por consequência, do Brasil, está encontrando os seus caminhos, apesar de pairar a ameaça de intervenção do governo federal com uma compra no exterior que parece cada vez menos provável. O déficit fiscal e a desconfiança do mercado financeiro com relação à política econômica do país têm gerado uma desvalorização significativa da moeda brasileira, que já está entre as cinco que mais depreciaram no ano frente ao dólar estadunidense. A diferença cambial, com o dólar passando de R$ 5,18 para até R$ 5,57, tem ajudado a restabelecer a demanda da América Central pelo arroz brasileiro. E isso está permitindo às tradings competir com o mercado interno.
O preço corrente na maioria das praças gaúchas fica entre R$ 115,00 a R$ 120,00 ao produtor, o que tem mantido o mercado praticamente andando de lado, estabilizado, mas com um fluxo de negócios considerado razoável ao longo da cadeia produtiva. O agricultor vende o que precisa para suas contas dentro do mês, a indústria segue comprando da mão para a boca e o varejo, embora tenha buscado por um fardo a menor preço, o faz a “meia-pressão”, ainda não integralmente convencido de que há abundância da matéria-prima. Lê a oferta como bastante ajustada. Junho deve marcar uma redução de algo em torno de R$ 5,00, em média, no fardo negociado pela indústria gaúcha.
O que dá um fôlego ao varejo – e à indústria – e o fato de boa parte dos consumidores terem se estocado em maio, o que vem fazendo sentir uma menor demanda “na ponta”, ou seja, nos supermercados. E isso permeia a cadeia produtiva, gerando um volume de negócios estável e levemente abaixo do normal. Gradativamente o arroz voltou aos folhetos de ofertas, e marca oportunidades de até R$ 24,50 por pacote de cinco quilos de arroz branco, do tipo 1.
LEILÃO
O governo federal, definitivamente, meteu-se em uma enrascada ao anunciar o interesse em comprar até 1 milhão de toneladas de arroz branco (1,47 milhão de toneladas de arroz em casca) no mercado internacional. As três tentativas de leilão de compra foram abortadas, seja por falta de recursos, de oferta ou de certeza da lisura dos processos. A baixa oferta internacional de arroz de qualidade é outro problema que o governo precisa administrar, juntamente com a insatisfação dos produtores, muitos deles atingidos por inundações históricas, da indústria e até mesmo do varejo.
A repercussão foi muito negativa e, agora, o governo federal tenta encontrar uma saída. Recorreu até aos produtores em busca de uma medida capaz de reduzir os preços médios ao consumidor dos R$ 5,50 a R$ 7,00 (que estão equalizados com o mercado em todo o mundo) para os R$ 4,00 que são a meta de valor de venda por quilo do Palácio do Planalto, mesmo que o governo precise subsidiar em R$ 1,00 o quilo numa operação internacional. A ameaça do governo não foi suficiente, até agora, para impor uma retração significativa nos preços, mas segurou uma escalada de alta.
Para muita gente no setor, essa era mesmo a intenção: deixar “no ar” uma possibilidade de importar para manter a pressão e não permitir uma evolução mais importante nos preços ao longo da cadeia produtiva. O custo é alto para a imagem do governo, que não tinha tantos admiradores no agronegócio e, com a intenção de intervir no mercado perdeu boa parte do que restava de apoio neste ambiente de negócios.