Por que a Camil vai “sub-arrendar” terras em operação no Paraguai

 Por que a Camil vai “sub-arrendar” terras em operação no Paraguai

(Por Karina Souza, TheAgribiz) Na divulgação de um trimestre de fortes resultados, a Camil encontrou analistas mais curiosos sobre a decisão da empresa de entrar no Paraguai, numa transação que pode custar até R$ 250 milhões para a empresa, como mostrou The AgriBiz.

Questionado nesta sexta-feira, Quartiero apresentou mais detalhes sobre a operação: a Camil vai operar no Paraguai com uma estratégia de arrendar e “sub-arrendar” terras com o objetivo de garantir fornecimento de arroz e dar suporte a pequenos produtores.

O modelo já teve resultados comprovados pela empresa no Uruguai. Nos últimos anos, a Saman (marca de arroz da Camil no Uruguai) arrendou terras de um grande proprietário e sub-arrendou a produtores menores de arroz.

Trata-se de um ponto imprescindível para a operação recém-anunciada, uma vez que o Paraguai tem uma tradição de operar de forma totalmente verticalizada entre o campo e a indústria. Para dar uma dimensão disso, a Camil chegou a avaliar, ao longo dos anos, a possibilidade de construir uma indústria no Paraguai, mas viu que o modelo não pararia de pé sem o acesso direto ao fornecimento.

“Nesse movimento de arrendar e sub-arrendar, copiando o modelo uruguaio, vamos garantir originação de arroz para a Camil Paraguai”, afirmou o CEO.
Passo a passo

A Camil vai adquirir a operação paraguaia da Rice Paraguai e 80% da Villa Oliva, mas vai desmembrar as empresas em terras (uma operação que não será detida pela Camil, mas por Luciano Quartiero, como a própria companhia já havia sinalizado) e as plantas industriais, essas sim, adquiridas pela empresa. Toda essa ginástica deve ser concluída até o primeiro trimestre do ano que vem.

Com a aquisição, a Camil vai ter 10% da produção paraguaia, mas não pretende parar por aí. O CEO afirmou que vê potencial de crescimento grande, uma vez que há áreas próximas à futura fábrica da companhia que podem ser desenvolvidas, refletindo um potencial de crescimento ao longo dos próximos anos.

Numa visão mais imediatista, crescimento foi também a palavra-chave para o segundo trimestre da empresa.

Um trimestre forte (mas sem surpresas)

Nos três meses encerrados em agosto, a Camil contou com a influência do deslocamento de demanda do primeiro trimestre para a demanda de arroz, além de mostrar crescimento na operação de alto valor agregado, com ganhos em volume e em faturamento.

Nos três meses encerrados em agosto, a receita da companhia avançou 12%, para R$ 3,2 bilhões, com margem de 8,8%, um avanço de 1,5 ponto percentual na comparação anual. O lucro líquido no período também refletiu a força do trimestre, somando R$ 119 milhões, mais do que o dobro do ano passado e 21% acima das expectativas dos analistas Thiago Duarte e Guilherme Guttilla, do BTG Pactual.

O avanço na última linha do balanço foi influenciado por outros fatores fora da operação, como uma redução no pagamento de impostos, envolvendo a subvenção do ICMS e um benefício fiscal envolvendo a operação da Saman no Uruguai.

Sob o aspecto operacional, a divisão brasileira vendeu mais em volume, principalmente influenciada pelo primeiro trimestre atípico. Além disso, os preços também subiram, numa combinação que trouxe receita de R$ 1,8 bilhão no segmento de alto giro (que compreende as vendas de arroz e de açúcar).

Para o segundo semestre, Quartiero mantém uma visão cautelosa, tendo em vista que pode haver um aumento de 5% a 10% na produção durante a próxima safra. A visão do CEO é a de que, mesmo com o aumento, o impacto em preços deve ser minguado, tendo em vista a necessidade de recompor estoques.

“Algumas regiões do Rio Grande do Sul estão em linha com o prazo e outras estão mais atrasadas em função do clima. É cedo para mensurar impactos, mas vemos uma parte significativa do estado com atrasos. No Uruguai, tudo segue em linha com o ritmo de plantio dentro do esperado”, disse Quartiero.

Na divisão de produtos de maior valor agregado, o crescimento em preços surpreendeu. A principal contribuição veio do café, com novas embalagens e expansão do portfólio — uma estratégia combinada com o aumento de preços também de pescados e de massas.

Por outro lado, a principal influência negativa veio dos biscoitos. “Não damos guidance de margem, mas estamos a 70% de onde gostaríamos de estar [em biscoitos]. Os volumes vêm crescendo trimestre após trimestre, mas ainda temos uma capacidade ociosa grande, mesmo executando o preço certo”, disse Flávio Vargas, CFO da Camil.

Olhando para fora do Brasil, a operação internacional encolheu na comparação anual, embora tenha crescido em volume trimestre a trimestre, apoiada principalmente no aumento da exportação de arroz do Uruguai. O decréscimo ano a ano está relacionado a uma forte base de comparação no mesmo período do ano passado, pontuou o CEO.

No consolidado, a Camil fechou o trimestre com uma alavancagem de 3,5 vezes Ebitda. A companhia tem uma leitura de covenants anual, sempre em fevereiro. No segundo trimestre, sazonalmente, a empresa também teve um consumo de caixa de R$ 288 milhões, uma dinâmica que deve melhorar no segundo semestre.

A trajetória de desalavancagem da companhia, somada com os ganhos de margem na comparação anual, formam as bases para a recomendação de compra de analistas para o papel. Negociada a 10% do fluxo de caixa livre para 2025, a Camil ainda tem uma avaliação interessante na bolsa, defendem os analistas do BTG.

Nesta sexta-feira, as ações da companhia operam em queda de 3,6%, cotadas a R$ 8,23. Nos últimos 12 meses, entretanto, a valorização supera 9%. A companhia vale R$ 2,8 bilhões na Bolsa.

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