Abertura da Colheita do Arroz debate produção de alimentos no Pampa sob pressão ambiental e comercial

 Abertura da Colheita do Arroz debate produção de alimentos no Pampa sob pressão ambiental e comercial

Foto: Jô Folha

(Por AgroEffective) A produção de alimentos no Pampa Gaúcho enfrenta diversos desafios relacionados aos compromissos ambientais e às leis, como a preservação da vegetação nativa e a conservação do bioma, por exemplo. E do ponto de vista de boa parte dos produtores rurais, algumas leis dificultam a expansão agropecuária, muitas vezes sob o pretexto de proteger o meio ambiente.

Essa problemática norteou o painel “Seminário Gestão – A produção de alimentos no Pampa Gaúcho frente aos compromissos ambientais e a legislação nacional”, que ocorreu nesta quarta-feira, 19 de fevereiro, dentro da programação da 35ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz e Grãos em Terras Baixas, realizada em Capão do Leão (RS). O evento teve como painelistas o vice-presidente da Farsul, Domingos Velho Lopes, o superintendente do Senar, Eduardo Condorelli, e o consultor de Meio Ambiente e Pecuária Familiar da Fetag-RS, Guilherme Velten Jr.

Em sua exposição, o representante da Farsul destacou o entendimento “equivocado” da mídia e de parte da população (nacional e internacional) sobre possíveis impactos negativos da produção agropecuária sobre o meio ambiente. Ele esclareceu que, apesar do setor ser, de fato, responsável por 50% das emissões de carbono no Brasil, os lançamentos de poluentes brasileiros representam apenas 2,28% das emissões globais.

“Das emissões de carbono mundial, 73% provém do transporte da energia, a agricultura é 18%, a indústria, 5%, lixo ou resíduos, 3%. E nossas emissões representam 2,28%. A Europa emite 7,8%. E nós é que somos os errados, não é? Nós é que não cumprimos as metas ambientais. Nós é que somos responsáveis pelo aquecimento global. Nós que somos responsáveis pelas grandes emissões. Isso é um absurdo, não é, pessoal?”, comentou Domingos Velho.

O desconhecimento sobre informações como essas estaria na raiz de cobranças absurdas da comunidade internacional sobre as formas de produzir no país, além de embasar leis que não estão adequadas com a realidade agropastoril. Porém, segundo o vice-presidente da Farsul, o agro brasileiro já está se alinhando ao plano de Agricultura de Baixo Carbono (ABC) – iniciativa do governo brasileiro criada para incentivar práticas sustentáveis na agropecuária, reduzindo a emissão de gases de efeito estufa e promovendo a adaptação às mudanças climáticas.

Para Domingos Velho, essa adequação representa grandes oportunidades para o setor, tanto no mercado interno quanto no externo. “O Brasil produz alimentos suficientes para alimentar 900 milhões de pessoas, o equivalente a 11% da população global, podemos aumentar a produção sem aumentar a área e todas as cadeias e ainda capturando carbono”, afirmou.

Já Eduardo Condorelli atribuiu a má vontade de certos players internacionais aos produtos brasileiros à uma guerra comercial disfarçada, segundo ele, de preocupação ambiental. “Os franceses vendem um misto quente, uma torrada, por R$ 55,00. Mas quando a gente chega com nosso presunto, o queijo, o pão feito com farinha brasileira, a gente permite que essa torrada possa ser vendida por R$ 15,00. A gente chega estragando o brinquedo deles. Se colocar um ovo, o sanduíche deles sobe R$ 20,00. Mas eles querem vender a torradinha por R$ 75. E é isso que de fato acontece no mundo. A gente está estragando o negócio dos outros. A gente está chegando e vendendo arroz barato e bom. O produtor de arroz do México não está feliz com isso. Assim como o francês também não está feliz. O produtor italiano não está feliz. O alemão não está feliz. É no meio dessa confusão toda, que a gente está metido. O assunto vai muito além, muito além de uma preocupação ambiental ou de produção ambiental. A gente está falando de guerra comercial no planeta mesmo”, exemplificou.

É através do Projeto de Recuperação de Biomas – idealizado em 2018 pela Fetag-RS em parceria com o governo do Estado e a iniciativa privada – que a promoção da conservação e recuperação dos biomas Pampa e Mata Atlântica estão se integrando a práticas sustentáveis ao desenvolvimento da agricultura e pecuária familiar.

As medidas adotadas envolvem a recuperação de áreas degradadas, preservação da biodiversidade local, capacitação técnica, desenvolvimento de sistemas agroflorestais e outras práticas que conciliem produção e preservação ambiental, entre outros. O projeto destaca-se por sua abordagem integrada, que alia conservação ambiental, desenvolvimento econômico e fortalecimento da agricultura familiar.

“Incentivamos os produtores a abandonar práticas convencionais por outras mais modernas, uma agricultura de baixo carbono e valorizando a rentabilidade. A gente tem que melhorar como entidade, temos de vender melhor nosso peixe. O agricultor está fazendo a coisa certa. Só que o agricultor da região sul é condenado pela situação da Amazônia. É colocado tudo no mesmo saco e não pode ser assim, porque os dados mostram a diferença e vamos mostrar isso na COP 30”, antecipou o consultor da Fetag-RS, Guilherme Velten Jr.

A 35ª Abertura da Colheita do Arroz e Grãos em Terras Baixas é uma realização da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) e correalização da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), além do Patrocínio Premium do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) e apoio da Prefeitura Municipal de Capão do Leão. O evento tem como tema “Produção de Alimentos no Pampa Gaúcho – Uma Visão de Futuro”. Mais informações pelo site colheitadoarroz.com.br.

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