Arroz sob pressão: setor enfrenta crise com queda de preços, alta nos custos e políticas descoordenadas

 Arroz sob pressão: setor enfrenta crise com queda de preços, alta nos custos e políticas descoordenadas

Henrique Dorneles: Produtor penalizado

(Por Planeta Arroz) Após alcançar preços recordes em 2024 em razão das enchentes que devastaram lavouras no Rio Grande do Sul, o setor arrozeiro brasileiro entra em 2025 sob uma tempestade perfeita: queda abrupta nos preços, elevação de custos e medidas do Governo Federal que, segundo lideranças do setor, têm agravado a crise.

A principal crítica do setor é direcionada à Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que lançou contratos de opção de venda no fim do ano passado, durante a entressafra do arroz, em valores muito abaixo do mercado e até mesmo do custo de produção. O movimento, considerado precipitado e descolado da realidade do campo, acabou por antecipar a queda das cotações em mais de 10%, conforme previa a cadeia produtiva, mas foi ignorada pelas autoridades federais.

Com clima favorável e colheita robusta revelando produtividades elevadas em diversas regiões, o mercado desabou ainda mais. Hoje, os preços recebidos pelos produtores sequer cobrem os custos de produção, afetando tanto a agricultura familiar quanto os grandes produtores.

Além disso, novas medidas econômicas vêm impondo ainda mais dificuldades ao setor. O Governo Federal propôs aumento no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), alegando a necessidade de equilibrar as contas públicas. Paralelamente, foi anunciado o retorno da bandeira vermelha na conta de energia elétrica — encarecendo o custo de irrigação, secagem, armazenagem e beneficiamento do arroz.

A justificativa para a bandeira vermelha foi o acionamento de termelétricas em razão da estiagem, ainda que apenas o Rio Grande do Sul tenha enfrentado escassez de chuvas recentemente — e o estado sequer abriga as principais hidrelétricas do país.

“Para cobrir gastos desproporcionais e ineficientes, o Governo impõe maiores custos produtivos, retirando competitividade que já não era adequada”, lamenta Henrique Osório Dornelles, presidente da Câmara Setorial do Arroz. Segundo ele, os reflexos dessas medidas já são sentidos pelas comunidades da Metade Sul do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, fortemente dependentes do cultivo do arroz.

A tendência, segundo Dornelles, é que outras regiões do Brasil abandonem a cultura do arroz, migrando para alternativas como soja, milho ou mesmo a pecuária, atividades com menor necessidade de capital, maior liquidez e menos exposição a oscilações de política pública.

Em um cenário de mudanças climáticas e vulnerabilidade alimentar crescente, o alerta é claro: o abandono da cadeia produtiva do arroz por falta de políticas adequadas pode afetar diretamente a classe média e baixa brasileira, comprometendo o abastecimento e o preço de um alimento essencial à mesa da população.

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