Arroz abaixo do custo

Grande oferta no Mercosul pressiona mercado de arroz e gera perdas aos produtores

O cenário atual da cadeia orizícola no Brasil e no Mercado Comum do Sul (Mercosul) acende um sinal de alerta para os produtores brasileiros. A maior oferta do cereal no bloco, com mais de 16 milhões de toneladas disponíveis, está trazendo consequências preocupantes ao mercado interno, conforme explicou Alexandre Azevedo Velho, presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz).

“A safra maior no Brasil e no Mercosul está gerando um excesso de cereal concentrado em todo o bloco econômico. Isso está pressionando negativamente as cotações no mercado doméstico, uma vez que os custos de produção dos países vizinhos são menores e eles têm como grande consumidor no bloco exatamente o Brasil. Este comportamento está provocando prejuízos importantes ao rizicultor nacional, em particular aos gaúchos”, afirmou Velho.

Segundo ele, o custo médio de produção do arroz está acima de R$ 90 por saca, enquanto os preços praticados em algumas praças estão entre R$ 68 e R$ 70 — valor até R$ 22 abaixo do desembolsado para produzir uma saca de 50 quilos de arroz em casca. “É prejuízo na certa. E, se considerarmos o custo total de produção, estaríamos falando de valores muito próximos dos R$ 100”, observou.

Essa diferença crítica afeta diretamente a rentabilidade das lavouras e desestimula os produtores. Velho lembrou que a expectativa para uma comercialização minimamente viável era de preços próximos a R$ 100 por saca — patamar que já apresentaria dificuldades para viabilizar a próxima safra. “Chegamos a comercializar arroz a quase R$ 130, mas agora estamos muito abaixo do necessário”, lamentou.

Outro fator de pressão vem dos países vizinhos. O Paraguai e o Uruguai, que também colhem safras expressivas, têm praticado preços mais baixos, o que afeta diretamente a competitividade do arroz brasileiro no mercado internacional. “Estamos perdendo negócios de exportação para esses países, que estão conseguindo colocar o produto com preços mais atrativos em função dos menores custos de produção. O Uruguai consegue vender arroz para exportação na faixa dos US$ 12 a US$ 12,50, enquanto o Paraguai negocia até por US$ 11 em alguns casos. Isso acaba influenciando negativamente as referências de valor também no mercado interno brasileiro”, observou o presidente da Federarroz.

ÁREA
A decisão de ampliar a área plantada no Rio Grande do Sul para mais de 970 mil hectares foi individual, reconheceu Velho, mas os efeitos são coletivos. “Estamos vivendo uma tempestade perfeita ao contrário. A realidade hoje é de preços que trazem prejuízo muito grande ao produtor”, alertou. Para ele, se nada for feito, há risco concreto de uma forte retração da área plantada já na safra 2025/2026, especialmente no Rio Grande do Sul.

MEDIDAS
Diante desse quadro, a Federarroz defende medidas emergenciais, como o escalonamento dos pagamentos dos custeios. A aposta da entidade é de que fatores externos possam trazer algum alívio a partir do segundo semestre. “A partir de agosto e setembro, poderemos ter notícias relacionadas à safra americana, que podem oferecer um alento e esperança de valorização dos preços. Além disso, é nesse período que se encerra a oferta paraguaia nos grandes centros brasileiros, o que pode reequilibrar a balança”, projeta.

A depender do comportamento dos preços ao longo do ano — não apenas do arroz, mas também de outras culturas e da pecuária —, parte da área que foi expandida na safra atual pode migrar para soja ou pastagens no próximo ciclo.

FIQUE DE OLHO

Para Alexandre Velho, o setor arrozeiro precisa de respostas urgentes para evitar uma retração drástica da atividade. “Precisamos de medidas que garantam renda ao produtor e sustentação ao mercado. Caso contrário, o setor poderá viver um processo de desmobilização, especialmente no principal estado produtor do país, o Rio Grande do Sul”, concluiu.

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