Nanotecnologia combina fungo letal para insetos a substratos da cultura do arroz, com foco no manejo sustentável de pragas

 Nanotecnologia combina fungo letal para insetos a substratos da cultura do arroz, com foco no manejo sustentável de pragas

(Por Milena Almeida) De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), anualmente, insetos-praga causam a perda de até 40% das colheitas globais. No Brasil, os prejuízos provocados por esses organismos podem ultrapassar R$ 55 bilhões de reais por ano, impactando diretamente a segurança alimentar e a economia no país. Para conter esse problema, o uso de defensivos químicos tem sido amplamente adotado há décadas, mas acarreta consigo sérias consequências ambientais e para a saúde humana.

Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), a exposição prolongada aos agrotóxicos está associada a diversos tipos de câncer, além de intoxicações agudas e crônicas. Além disso, no meio ambiente estes compostos afetam a biodiversidade, contaminam solos e recursos hídricos, e comprometem a qualidade dos alimentos.

Frente a esse cenário, cientistas têm buscado alternativas mais sustentáveis e seguras. Dentre as abordagens mais recentes está a dos pesquisadores Liliam Katsue Harada, Mariana Guilger-Casagrande, Tais Germano-Costa, Natália Bilesky-José, Ricardo Antonio Polanczyk, Paulo Gonçalves da Silva, João Vitor Silva e Silva, Renato de Mello Prado, Leonardo F. Fraceto e Renata Lima, parceiros do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Nanotecnologia para Agricultura Sustentável (INCT NanoAgro). Os pesquisadores desenvolveram uma solução inovadora que associa nanopartículas biogênicas de sílica (SiO₂-NPs_bi), obtidas a partir da casca de arroz, com o fungo Beauveria bassiana, um conhecido agente biológico utilizado no controle de pragas.

Na inovação, as nanopartículas foram sintetizadas por meio da interação da biomassa inativa do fungo Fusarium oxysporum com resíduos agrícolas ricos em silício, como a casca de arroz — um exemplo de reaproveitamento inteligente de resíduos agroindustriais. As nanopartículas biogênicas de sílica, formadas a partir do processo inicial, foram então encapsuladas junto ao Beauveria bassiana, aumentando significativamente a viabilidade e a eficiência do fungo como bioinseticida, conforme ressalta Renata Lima, uma das cientistas envolvidas no processo.

“Ensaios laboratoriais demonstraram que a combinação dessas nanopartículas com o fungo foi altamente eficaz no controle de importantes pragas agrícolas, como as lagartas Spodoptera frugiperda, Spodoptera cosmioides, Chrysodeixis includens e Rachiplusia nu. As taxas de letalidade do composto alcançaram 100% nas três primeiras espécies e 86% na última — resultados superiores à aplicação isolada das nanopartículas ou do fungo”, enfatiza.

A Dra. Renata destaca também a segurança da formulação. “Testes in vitro com linhagens celulares humanas (3T3 e HaCaT) não indicaram efeitos citotóxicos significativos, sugerindo que o composto é seguro para aplicações agrícolas. Além disso, as nanopartículas demonstraram estabilidade e apresentaram alto teor de silício, o que também abre possibilidades para seu uso como biofertilizante”.

A tecnologia desenvolvida representa um avanço importante para o manejo sustentável de pragas na agricultura, ao reunir eficácia, baixo impacto ambiental e valorização de resíduos agroindustriais. A pesquisa, que reuniu cientistas do Laboratório de Avaliação da Bioatividade e Toxicologia de Nanomateriais da Universidade de Sorocaba (UNISO) e do Laboratório de Nanotecnologia Ambiental da Universidade Estadual Paulista (UNESP), abre novas frentes para o desenvolvimento de defensivos biológicos mais eficientes e seguros, contribuindo para a transição rumo a uma agricultura mais verde e resiliente.

Mais sobre o INCT NanoAgro

Criado com o objetivo de qualificar e congregar recursos humanos de alto nível de diferentes áreas para promover avanços na fronteira do conhecimento em nanotecnologia para Agricultura Sustentável, o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Nanotecnologia para Agricultura Sustentável (INCT NanoAgro) faz uso de componentes da biodiversidade brasileira e de suas interações ecológicas para desenvolver sistemas integrados para o controle de pragas e doenças, nutrição e estímulo de crescimento vegetal, de forma a aumentar a produtividade agrícola sem desconsiderar a segurança ambiental e da saúde humana, criando um protagonismo do país no cenário mundial. Para saber mais sobre o Instituto, acesse: https://inctnanoagro.com.br/.

Deixe um comentário

Postagens relacionadas

Receba nossa newsletter