Startup japonesa lança sorvete à base de arroz e mira o mercado global
(Por Vitor Di Renzo) A foodtech japonesa Kinish acaba de apresentar ao público sua mais nova criação: um sorvete vegano que substitui completamente os laticínios e valoriza as propriedades sensoriais únicas do arroz.
A marca The Rice Creamery chega com três sabores e já está disponível na loja Tokyu Store, no bairro Toritsu-Daigaku, e no e-commerce da Seijo Ishii. Mas os planos são ambiciosos: ainda este ano, a linha deve estrear nos Estados Unidos, começando por Washington, DC.
Com 60% menos açúcar que a média do mercado japonês e 62% menos emissões de gases de efeito estufa, a novidade conversa com consumidores cada vez mais atentos à saúde e ao impacto ambiental.
Essa linha de sorvetes surge enquanto a Kinish avança em outro projeto ousado: desenvolver proteínas do leite sem origem animal cultivadas em plantas de arroz, usando a técnica de molecular farming.
Arroz como protagonista
Embora tanto o leite quanto o arroz estejam entre os grandes emissores de metano da cadeia alimentar, o impacto climático do leite é mais que o dobro do do cereal. Além disso, o número de produtores de laticínios no Japão vem caindo há décadas, assim como o consumo de leite.
O cenário é propício para alternativas: em 2023, 2,4% dos japoneses se declararam veganos (mais que o dobro de 2017), e estima-se que até 90% da população seja intolerante à lactose.
Ao invés de tentar imitar o sabor do leite, a Kinish aposta na doçura natural das variedades japonesas de arroz, conhecidas por serem curtas, arredondadas e levemente pegajosas — características que trazem textura e sensações únicas, difíceis de reproduzir até mesmo com laticínios.
O sabor original, batizado de Honoka, combina xarope de arroz e pasta de castanha de caju com açúcar, glicose, fibras, sal e estabilizantes. Já o Master’s Uji Matcha nasce de uma parceria com a tradicional processadora de chá Hotta Katsutaro Shoten. O terceiro, Elegant Dutch Chocolate, homenageia a introdução do chocolate no Japão pelos holandeses, usando cacau em pó de origem holandesa.
Com preço sugerido de ¥347 (cerca de US$ 2,35), a linha deve ganhar espaço gradualmente em lojas de conveniência e outras cidades japonesas. Testes de degustação antes do lançamento renderam elogios como “surpreendentemente delicioso” e “rico em sabor, mas com final leve e agradável”.
Muito além do sorvete
O lançamento abre uma nova frente de receita para a Kinish e financia seu trabalho com molecular farming, técnica que permite modificar geneticamente plantas para que produzam proteínas de origem animal. No caso da empresa, o alvo é a caseína, principal proteína do leite de vaca, cultivada em plantas de arroz anãs — que medem apenas 20 cm e podem ser cultivadas em escala dentro de fazendas verticais, usando menos terra, menos água e reduzindo drasticamente o tempo de colheita.
Em parceria com a Universidade de Shizuoka, a Kinish projeta uma planta industrial dedicada ao cultivo desse arroz especial. A meta é unir a caseína produzida no cereal ao amido de arroz para criar não apenas sorvetes, mas também queijos veganos com textura e sabor equivalentes aos de origem animal.
“Nosso objetivo é explorar ao máximo o potencial do arroz e da nossa tecnologia para criar alternativas inéditas aos laticínios”, afirma o fundador e CEO Hiroya Hashizume.
A empresa integra um grupo crescente de startups que usam o molecular farming para produzir proteínas animais em plantas, ao lado de nomes como Alpine Bio, Mozza, Miruku, Veloz Bio e Finally Foods. Outras, como New Culture, Fermify e Those Vegan Cowboys, apostam na fermentação de precisão para o mesmo fim.