Federações rurais sugerem redução da área de arroz para todo o Brasil

(Por Correio do Povo/RS) Às “vésperas” do início do plantio da próxima safra, a Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) e a Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) começaram a recomendar aos orizicultores a redução da área dedicada ao grão. A orientação é para todos os produtores do Brasil em virtude da depreciação do preço da saca do cereal, no decorrer deste ano, com valores insuficientes para a cobertura dos custos dos agricultores. “A meta para o Rio Grande do Sul é de 8% e para o restante do país 30% na área”, afirmou o economista-chefe da Farsul, Antônio Da Luz, durante o evento Tá Na Mesa, da Federasul, em Porto Alegre, nesta quarta-feira, dia 27.

Em virtude da relação inversa entre os custos de produção e os preços, para ele o setor pode enfrentar um “iceberg” de crise em 2026, caso essas metas de redução não sejam alcançadas.

“Ainda dá tempo de desviar e evitar o excesso de oferta e preços em queda. Já fomos em todas as regiões arrozeiras (do Estado) para levar esta mensagem de mudança porque o cenário para o próximo ano é bem diferente do que vivemos nos últimos anos”, alertou.

Da Luz ressaltou que o Rio Grande do Sul concentra dois terços da produção nacional de arroz e que 2025 deve terminar com estoques altos do grão com grandes possibilidades de impactos de oferta excessiva em 2026. Conforme dados do Instituto Riograndense do Arroz (IRGA), no último ciclo de safra foram semeados no Estado mais 970,1 mil hectares de arroz, um crescimento de 7,8%. O economista-chefe da Farsul, acrescentou que os demais estados brasileiros foram responsáveis por em torno de 700 mil hectares. “Temos (gaúchos) uma produtividade bem maior”, detalhou.

O presidente do Conselho da Federarroz, Alexandre Velho, destacou que as recentes operações de Contrato de Opção de Venda (COV), conduzidas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), estão sendo um “remédio” muito amargo para os orizicultores.

“A Federarroz sempre foi e continuará sendo contra a formação de estoque público porém o que aconteceu é que tivemos um aumento generalizado de área no Brasil nos dois últimos anos. Ampliamos 230 mil hectares no país (nesse período). Por exemplo, Mato Grosso que semeava 40 mil hectares passou para 130 mil hectares. E, o Mercosul também aumentou a área”, sublinhou.

Sobre os países vizinhos, Velho também pontuou que as exportações do arroz nacional também foram impactadas pela competição. “Este ano perdemos (cerca) de cinco/seis navios, que deveriam ser exportados do Rio Grande do Sul, para o (arroz) da Argentina, do Paraguai e do Uruguai. Estamos falando de mais de 4 milhões de sacos de arroz”, finalizou.

Aposta na pecuária

Segundo o presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Gedeão Pereira, a pecuária pode vir a ser um dos possíveis investimentos a serem considerados pelos produtores rurais em substituição a redução da área de plantio da próxima safra de arroz. A observação do dirigente foi realizada durante o Tá Na Mesa. “O (grão) a R$ 120,00 a saca no ano passado nos induziu ao aumento de área no Estado e não contávamos, jamais que fosse (reduzir) a R$ 65,00, quase a metade. Só tem uma saída que é reduzir a área e o produtor tem que ser gerente de suas atividades”, afirmou.

Para o dirigente, a pecuária pode ser uma opção para ocupar este espaço, inclusive nas propriedades com outras atividades impactadas pelos prejuízos decorrentes dos extremos climáticos recorrentes no Rio Grande do Sul. “Se ela vai conseguir não sei. Mas é uma pergunta que nós estamos fazendo”, considerou, reforçando que o Estado está no epicentro da crise climática na América Latina e seus eventos descapitalizaram e endividaram o setor.

“A grande realidade que estamos vivendo é que a atividade agrícola no RS está muito comprometida. Talvez um dos momentos mais difíceis da história da agricultura no nosso Estado”, finalizou.