Superoferta derruba preços e arrozeiros gaúchos anunciam redução de área semeada
(Por Planeta Arroz, com agências) Após colher a maior safra de arroz dos últimos cinco anos, os produtores gaúchos enfrentam um paradoxo desconcertante: silos abarrotados e prejuízos crescentes. A supersafra 2024/2025, que totalizou 8,7 milhões de toneladas, não trouxe alívio financeiro ao setor — pelo contrário, provocou uma forte retração nos preços e obrigou o Rio Grande do Sul, maior produtor do país, a rever suas estratégias para o próximo ciclo.
Durante coletiva realizada nesta semana na casa do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), na 48ª Expointer, ficou claro que a euforia pela produtividade recorde de 9.040 kg/ha foi ofuscada por problemas estruturais do mercado. O preço médio do arroz despencou de R$ 118 para R$ 67,27 por saca em apenas 12 meses, segundo dados do Cepea/Irga — uma queda de mais de 40%.
Com o cenário de superoferta e desvalorização, os produtores agora projetam uma retração de 5,27% na área plantada para a safra 2025/2026, que deve recuar para cerca de 920 mil hectares. A decisão, segundo representantes do setor, é uma tentativa de conter os prejuízos e buscar maior equilíbrio entre oferta e demanda.
“Estamos quebrando com os silos cheios”, resumiu Domingos Velho Lopes, vice-presidente da Farsul, durante o evento.
Erros estratégicos e gargalos comerciais
Além da safra histórica, outro fator contribuiu para a crise: a aposta excessiva no mercado interno. A baixa competitividade das exportações brasileiras e a priorização das vendas domésticas, em detrimento da busca por mercados externos, se mostraram estratégias equivocadas diante do excesso de oferta.
Para reverter esse quadro, o Irga informou que está intensificando ações junto à agência estadual InvestRS e à ApexBrasil, visando ampliar a exportação tanto do arroz em casca quanto do beneficiado. O objetivo é reduzir a dependência do mercado interno e abrir novas frentes comerciais no exterior.
Outra alternativa em análise é a conversão de áreas de arroz em pastagens, principalmente no Sul do estado, onde há tradição na pecuária. A medida é vista como uma saída temporária para aliviar a pressão sobre o setor até que o mercado retome estabilidade.
Reação dos governos estadual e federal
Na tentativa de dar suporte imediato ao setor, o governo do Rio Grande do Sul anunciou uma campanha institucional intitulada “O arroz é a energia que une o Brasil”, com foco na valorização do produto e estímulo ao consumo nacional. A iniciativa inclui ações em TV, internet e redes sociais ao longo do segundo semestre.
Já no âmbito federal, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) informou que lançará novo leilão de R$ 300 milhões em contratos de opção de venda (COVs) para a safra 2025/2026, como forma de garantir uma remuneração mínima aos produtores. A medida é considerada uma extensão dos leilões realizados nos últimos meses, incluindo o certame recente de R$ 181,1 milhões, que comercializou 109,2 mil toneladas do grão.
“O governo federal está com a mão estendida para quem produz. Queremos ajudar tanto o mercado interno quanto abrir portas no mercado externo”, afirmou o presidente da Conab, Edegar Pretto, durante a Expointer.
Segundo Pretto, o México é um dos mercados em negociação, após visita recente de autoridades brasileiras ao país, que contou com a presença do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro.
Apesar do anúncio, a recepção entre os produtores ainda é cautelosa. Para Denis Dias Nunes, presidente da Federarroz, o momento exige prudência:
“Temos que analisar os dados com calma. A prioridade agora é resolver questões de crédito, exportações e área plantada. A formação de estoques pelo governo é algo que precisa ser avaliado com cuidado”, declarou.
Um setor entre extremos
A atual crise no arroz evidencia os riscos de um mercado altamente suscetível a oscilações de oferta, falta de diversificação comercial e intervenções tardias. A supersafra, que poderia ser comemorada como símbolo de eficiência produtiva, acabou revelando vulnerabilidades logísticas, comerciais e políticas de um dos setores mais tradicionais do agro brasileiro.
Com menos área projetada e o desafio de escoar estoques ainda robustos, o ciclo 2025/2026 começa sob o peso da cautela. Resta saber se as medidas adotadas serão suficientes para reequilibrar o mercado — e recuperar a confiança dos produtores.


