Embrapa propõe ação da cadeia produtiva para fortalecer o arroz de terras altas no Cerrado
Chefe geral da Embrapa Arroz e Feijão, Elcio Guimarães, na abertura do InovArroz – Foto: Sebastião Araújo
(Por Rodrigo Peixoto/Embrapa) Diante de mais de 200 participantes presentes no 1º Fórum Nacional de Arroz de Terras Altas – InovArroz, realizado nos dias 23 e 24 de setembro, em Goiânia (GO), o chefe geral da Embrapa Arroz e Feijão, Elcio Guimarães, destacou a importância de buscar parcerias para o desenvolvimento do arroz de terras altas no Cerrado, frente a inovações recentes pelas quais passa o setor produtivo, que envolvem o uso de cultivares mais produtivas, com maior qualidade de grãos; e a inserção do cultivo em sistemas integrados em sucessão de culturas e sob irrigação por pivô central.
“Essa reunião não é apenas da pesquisa e da transferência de tecnologia, é um evento com representantes de grandes segmentos da cadeia produtiva, passando pela pesquisa pelo consultor técnico, pela indústria e pelo consumidor. O arroz de terras altas cresceu em importância com vocês e, nós da pesquisa, tivemos a felicidade de desenvolver alguns aspectos tecnológicos, dentre eles, cultivares mais adaptadas”, enfatizou Elcio em seu discurso de abertura do Fórum Nacional.
Segundo ele, o InovArroz possui uma característica inédita. “É a primeira vez que nós focamos nossa atenção para o debate em um dos sistemas de produção de arroz, que é o sistema de arroz de terras altas, em especial, ao arroz produzido sob irrigação por pivô central”, complementou Elcio.
Ainda durante a abertura do evento, como um dos anfitriões do InovArroz, o presidente do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (IFAG), Armando Rolemberg, ressaltou o papel da disseminação de inovações e de informações de qualidade para o desenvolvimento tecnológico e o estabelecimento de parcerias estratégicas. Ele pontuou que um dos objetivos do IFAG é “trazer a tecnologia para perto do setor produtivo, identificar gargalos do setor produtivo e levá-los para próximo da pesquisa”.
O InovArroz foi estruturado para discussão de temáticas agrupadas em quatro painéis. No primeiro deles, foram abordados casos de sucesso que impulsionaram o desenvolvimento do arroz de terras altas cultivado sob pivô central.
GENÉTICA
O pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão, Adriano Castro, rememorou a trajetória do programa de melhoramento de arroz ao longo da história do cultivo no Cerrado, principalmente, a partir da década de 1990, quando uma nova concepção para a cultura começou a ser preconizada.
“O arroz passou a ser pensado dentro de sistemas de produção em ambientes de cultivo após soja e milho”, afirmou Adriano. Ele contou que os experimentos para seleção de linhagens foram reorientados para alcançar melhor desempenho nesse tipo de condição, com rotação de culturas, em solos férteis e corrigidos; e em lavouras em plantio direto.
Adicionalmente, houve outros dois aprimoramentos citados por ele que já vinham sendo conduzidos e se intensificaram, até os dias atuais. O primeiro foi a melhoria da qualidade de grãos, do ponto de vista comercial do produto, com a obtenção de cultivares de arroz de terras altas de grãos agulhinha, os preferidos por consumidores. Isso ocorreu em meados da década de 1990.
Já por volta dos anos 2010, o pesquisador disse que houve bastante trabalho de pesquisa com foco na estabilidade do rendimento de grãos inteiros no beneficiamento, o que permitiu às indústrias ter mais grãos íntegros para empacotar em suas marcas e menos quirera (arroz quebrado), produto menos valorizado.
Ainda no mesmo período de 2010, além de orientar a seleção do programa de melhoramento para o desenvolvimento de cultivares arroz de terras altas para ambientes de rotação de culturas em plantio direto, Adriano contou que houve a incorporação de modo mais intensivo, da perspectiva de introdução do cultivo em sistemas integrados de produção com irrigação por pivô central, em sucessão a culturas de grãos e de hortaliças no Cerrado.
De acordo com Adriano Castro, alguns benefícios começaram a ser percebidos, pois o cultivo do arroz dessa forma ajudava a quebrar o ciclo de pragas e de doenças já estabelecidas nas lavouras. Por outro lado, a qualidade da palhada de arroz para plantio direto também trouxe pontos positivos, sob o aspecto da fertilidade para as culturas subsequentes.
Esse trabalho de pesquisa culminou com o lançamento da cultivar da Embrapa BRS A502, em 2020. Esse material foi o primeiro que conseguiu reunir as virtudes preconizadas pelo programa de melhoramento em sua história mais recente. “Há relatos de produtores que alcançaram mais de 100 sacos por hectare (seis mil quilos) sob pivô central, produtividade agronomicamente interessante e que era um dos objetivos que buscávamos na seleção de linhagens”, acrescentou Adriano.
SUSTENTABILIDADE
Para o futuro, o pesquisador Adriano listou alguns desafios na pesquisa para maior sustentabilidade da cultura do arroz. Além do trabalho contínuo de seleção de linhagens, existem perspectivas no que diz respeito ao desenvolvimento de bioinsumos, eficiência no uso da água e geração de herbicidas combinados a genes de resistência nas plantas de arroz. Existem ainda lacunas de conhecimento para entender melhor o impacto de benefícios do arroz no sistema de produção e também no que tange à abertura de novos mercados para o cereal.
Outros três painéis do evento aprofundaram a discussão desses assuntos debatendo pontos específicos relacionados ao manejo da cultura e a oportunidades de mercado e de promoção comercial do arroz. Houve a participação de produtores rurais, pesquisadores vinculados a universidades, profissionais ligados à extensão rural e a empresas de consultoria técnica e de produção de insumos, e representantes do segmento das indústrias.
O 1º Fórum Nacional de Arroz de Terras Altas – InovArroz, foi organizado pela Embrapa Arroz e Feijão, pelo Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (IFAG), Sindicato da Indústria do Arroz do Estado de Goiás (SIAGO), Federação das Indústrias do Estado de Goiás (FIEG) e pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE). O evento aconteceu no Oft Alfre Hotels, em Goiânia (GO).


