Muito além do lucro

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Apresentação de resultados do RMM na Argentina

Rice Money Maker: a evolução da rizicultura e o foco em sustentabilidade

 

Uma transformação silenciosa, porém robusta, está em curso nas lavouras de arroz da América Latina. Iniciado pioneiramente em 2021, a partir do curso de Agronomia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), o projeto Rice Money Maker (RMM) vem unindo produtores rurais, universidades, associações e empresas de tecnologia com um objetivo ambicioso: tornar o cultivo de arroz mais sustentável, eficiente e rentável. A iniciativa nasceu com 14 lavouras distribuídas entre Argentina, Brasil e Uruguai e, em 2022, foi ampliada ao Paraguai, consolidando-se como referência em inovação agrícola na região do Cone Sul.

Nas safras 2023/24 e 2024/25, 31 lavouras participaram do projeto. O diferencial do Rice Money Maker está na metodologia baseada em dados de campo, que permite mensurar a sustentabilidade dos sistemas de produção por meio de indicadores econômicos, ambientais e sociais. Os resultados impressionam: a produtividade média das lavouras avaliadas foi de 13,4 toneladas por hectare, com uma lacuna de produtividade de apenas 21%, muito abaixo da média regional, que é de 48%. Isso indica uma busca eficiente pelo potencial produtivo das áreas analisadas. Claro que se trata de áreas de elite, nas quais os produtores estão dispostos a alcançar um patamar elevado não apenas de produtividade, mas também de sustentabilidade econômica, social e ambiental.

Para o coordenador Alencar Zanon, da UFSM, a análise dos dados permite identificar os principais fatores limitantes dos resultados nas lavouras. Na safra atual, destacaram-se a data de plantio, a nutrição das plantas e a densidade de semeadura. Essas informações, além de orientar os investimentos dos produtores, contribuem para a adoção de práticas assertivas e sustentáveis

Outro ponto relevante do projeto é a relação entre produtividade e emissões de gases de efeito estufa. Segundo o Rice Money Maker, lavouras mais produtivas tendem a emitir menos CO₂ equivalente por unidade de arroz produzida. Os fertilizantes foram apontados como os principais responsáveis pelas emissões (63%), seguidos pelos produtos fitossanitários (16%).

ECONÔMICO
No aspecto econômico, o RMM indicou que as lavouras mais lucrativas não são necessariamente as que mais investem, mas sim aquelas que aplicam estrategicamente os recursos para resolver gargalos produtivos de forma sustentável. No campo social, o programa inclui indicadores como sucessão familiar, geração de empregos, inclusão de gênero e engajamento comunitário — dimensões essenciais para a continuidade da agricultura e o fortalecimento do meio rural.

Selo certifica a sustentabilidade

Como cculminância do Rice Money Maker, nasceu o selo Safe Rice, a primeira certificação voltada exclusivamente à sustentabilidade da produção de arroz na América Latina. O selo indica lavouras que adotam práticas agrícolas responsáveis, conciliando produtividade, redução dos impactos ambientais, viabilidade econômica e compromisso social, mediante um protocolo rigoroso de indicadores e ações.

Bruna Pinto Ramos, pesquisadora da FieldCrops, revelou a expectativa de que, em breve, consumidores de toda a América possam encontrar, nos supermercados, o arroz certificado como seguro, sustentável e socialmente responsável. “O Rice Money Maker não apenas colhe dados, mas também um novo futuro para a agricultura”, disse.

Alencar Zanon, avaliando a experiência do RMM nas lavouras do Mercado Comum do Sul (Mercosul), entende que “o caminho da lucratividade e redução do impacto ambiental das áreas passa por identificar o potencial produtivo da lavoura e os fatores que limitam sua chegada ao melhor resultado. Então, fazer investimentos focados em superar as limitações e colher mais, e com mais qualidade”.

Alencar Zanon, coordenador do FieldCrops e RMM

Inovação que transforma a agricultura latino-americana

Desde 2021, o Rice Money Maker tornou-se um importante projeto de produção sustentável de arroz na América Latina, realizado pela equipe FieldCrops, ligada à Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), em parceria com instituições do Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. A meta é promover práticas agrícolas que conciliem produtividade, sustentabilidade e equidade social.

Nas safras 2023/24 e 2024/25, participaram 31 lavouras, quatro países, e ocorreram mais de 200 dias de campo para 1.300 produtores, técnicos e interessados. No programa, cada lavoura é monitorada desde o pré-plantio, passando pela semeadura até a colheita. Aplica-se um questionário sobre manejo, insumos e práticas, e são calculados indicadores ambientais, econômicos e sociais que resultam em um índice de sustentabilidade individual e coletivo. A eficiência produtiva, medida pela relação entre rendimento real e potencial da lavoura, é um importante indicador. Áreas com eficiência acima de 70% recebem o selo Safe Rice, um reconhecimento oficial de sustentabilidade.

Entre os resultados, destaca-se que os produtores campeões emitiram, em média, 15% menos CO₂ equivalente por unidade de arroz produzida do que os demais. O manejo fitossanitário mais eficiente, combinado à redução no uso de insumos, é reconhecido por causar menor impacto ambiental. Também são mensuradas a relação custo/investimento e os resultados em produtividade e sustentabilidade ambiental.

Questão básica

A equipe FieldCrops, que integra o Rice Money Maker, é formada pelos pesquisadores Bruna Pinto Ramos, Camille Flores Soares, Érico dos Santos Drobut, Vitória Signor, Lauren Machado Lago, João Vitor Maia, Nereu Augusto Streck, Giovana Ghisleni Ribas e Alencar Júnior Zanon. A equipe também promove o Soybean Money Maker, com a meta de identificar e desenvolver sistemas sustentáveis de produção da oleaginosa. Os resultados são publicado em livro disponibilizado gratuitamente no site da UFSM.

Redução de yield gap

As lacunas de produtividade nas lavouras participantes (yield gap) do Rice Money Maker (RMM) giraram em torno de 20%, bem inferiores às lacunas médias nacionais na América Latina (44%). Assim, o manejo adotado tem o poder de elevar rendimentos até próximo do potencial real. Enquanto as lavouras que participaram do RMM colheram, em média, 13,4 mil quilos por hectare, o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) estima que o Rio Grande do Sul colheu 8.558 kg/ha. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) indica 8.715 kg/ha. A diferença é de 36,1% e 35%, respectivamente, nas áreas gaúchas, cuja média é considerada alta.

A redução das brechas produtivas entre os melhores e os menos favorecidos pontos ou quadros de lavoura das propriedades é a meta do RMM, mas uma feliz conclusão nesses quatro anos de estudos é que a sustentabilidade agronômica se mostra viável: maior produtividade aliada a práticas eficientes reduz emissões e promove a rentabilidade, sem depender de maiores custos.

Segundo os coordenadores Alencar Zanon e Camille Flores, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), a intensificação sustentável é essencial para atender à crescente demanda global por alimentos, alinhando produtividade, cuidados ambientais e qualidade social. O projeto Rice Money Maker, liderado pela equipe FieldCrops da UFSM, tem mostrado como a orizicultura latino-americana pode evoluir rumo a uma produção agrícola mais eficiente, sustentável e lucrativa.

Os campeões do Rice Money Maker:

Safra 2021/22 – Ceagro – Curuzu Cutiá, Corrientes, Argentina.
Safra 2022/23 – Arrozal El Inmigrante – Barrancas, Uruguai.
Safra 2023/24 – Marcos Schmulkler S.A – San Salvador, Argentina.
Safra 2024/25 – Agropecuária Munari – Torres, RS, Brasil.

Fonte: equipe FieldCrops.

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