Quanto mais alto o preço, maior o tombo
Lição de 2024/25 não foi suficiente para mudar o comportamento do setor
Ainda que entre o início de junho e o fim de julho os preços tenham evoluído para o arroz em casca no Rio Grande do Sul,e, por ser parâmetro, em todo o Brasil, as cotações acumulam forte queda no ano, refletindo em toda a cadeia produtiva. Segundo pesquisadores da Esalq/USP, que elaboram o indicador de preços do arroz em casca para o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) e o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), a média do cereal subiu 3,64% na parcial do mês (até 25 de julho), mas no balanço de 2025 ainda registra baixa de 30,57%.
Essa desvalorização tem gerado consequências aos produtores que, em muitos casos, estão vendendo o arroz em casca por valores abaixo do custo, estimado em torno de R$ 90,00, em média. “O cenário compromete a rentabilidade da atividade e coloca em risco o planejamento da próxima safra, desmotivando o orizicultor, que agora pretende reduzir a área de plantio”, explicou o coordenador do índice e professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), Lucílio Rogério Alves.
O setor industrial também enfrenta dificuldades em repassar preços ao varejo e ao consumidor final, especialmente diante de estoques adquiridos a valores mais altos e da elevação de custos, sobretudo os relacionados à logística. A margem de lucro da indústria, portanto, também está pressionada, dificultando a busca por preços muito acima dos já praticados pela matéria-prima.
Firmeza
Com demanda firme e oferta restrita, as cotações do arroz em casca no Rio Grande do Sul subiram no fim de julho, atingindo R$ 69,37 no dia 29, com valorização acumulada de 4,44% no mês. Pelo câmbio da data, o valor corresponde a US$ 12,46. A necessidade imediata de compra por parte de algumas indústrias, aliada à demanda para exportação, levou a reajustes pontuais nas ofertas.
No entanto, a liquidez permaneceu limitada, pois a maioria dos produtores adotou postura cautelosa, negociando apenas volumes esporádicos para cumprir obrigações financeiras, enquanto aguarda preços mais favoráveis.
A perspectiva de exportações contribuiu para sustentar os valores no mercado interno. O line-up do Porto de Rio Grande indicava a presença de navios graneleiros atracados que, segundo agentes, estavam previstos para embarcar arroz. Alguns agentes relataram a expectativa de que o produtor de arroz destine a matéria-prima para os portos, a fim de garantir melhores cotações internas.
Referência externa
O contrato de vencimento setembro/25 na Bolsa de Chicago, Chicago Board of Trade (Cbot – CME Group), subiu 2,02% de 18 a 25 de julho, com média de US$ 12,62 por quintal (US$ 278,11 por tonelada ou US$ 13,91 por saca de 50 kg). Considerando essa cotação e o dólar médio de R$ 5,55 no período, esse contrato, em reais, equivaleria a R$ 1.543,52 por tonelada, o que corresponde a aproximadamente R$ 77,17 por saca de 50 kg FOB (Free on Board).
Questão básica
O produtor mantém postura defensiva, apostando em preços melhores, mas corre o risco de carregar estoques em um cenário de superoferta e queda de preços. A entrada da safra americana, o excedente do Mercado Comum do Sul (Mercosul), a queda no consumo e a falta de liquidez podem agravar a crise no segundo semestre, com a pressão dos países vizinhos para se livrarem de estoques de passagem, concorrendo dentro do Brasil com cotações muito competitivas. Exportar, mesmo com margens apertadas ou empatando com os custos, pode evitar prejuízos maiores em 2026. O setor precisa agir com urgência para vislumbrar preços realmente remuneradores em 2027. Tudo isso ocorre aguardando definições sobre as possíveis novas tarifas aos produtos brasileiros baixadas pelo governo de Donald Trump, dos Estados Unidos da América (EUA).
Pressão dentro e fora do país
O mercado brasileiro de arroz enfrenta forte pressão interna e externa, o que afeta a formação dos preços. Em primeiro lugar, devido à grande safra de 12,3 milhões de toneladas colhida em 2025, juntamente com a possibilidade de um estoque de passagem de 2,5 milhões de toneladas para 2026/27. Com o acréscimo dos excedentes do Mercado Comum do Sul (Mercosul), o volume necessário a ser escoado pelo bloco econômico pode ultrapassar cinco milhões de toneladas. A janela de exportação, entretanto, é curta, pois a entrada da nova safra na América do Norte, em setembro, deverá tornar os EUA mais competitivos diante dos mercados do continente e do Oriente Médio.
No Brasil, além da queda no consumo identificada em nova pesquisa, o escoamento para o mercado internacional enfrenta resistência das tradings junto aos produtores, que pedem, a cada oportunidade de negócio, pelo menos R$ 1,00 a mais por saca, buscando, ao menos, equilibrar as cotações com o custo de produção.
Entre fevereiro e maio, por exemplo, o Brasil perdeu exportações de 120 mil toneladas para países vizinhos, em especial Paraguai e Uruguai, que operavam com preços mais acessíveis. O Uruguai, a título ilustrativo, fechou um “preço-convênio” de US$ 12,00 por saca, depois de ter operado a US$ 17,00 em 2024. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) tenta intervir com leilão de compra de 110 mil toneladas, mas o impacto esperado é limitado, tanto pelo volume quanto pelas regras pouco atrativas. No mercado físico gaúcho, as negociações, lentas, registraram, no fim de julho, preços variando entre R$ 65,00 e R$ 74,00 por saca.
De olho no excedente
A safra brasileira de arroz 2024/25 deverá fechar com produção recorde de 12,32 milhões de toneladas, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Trata-se de um aumento de 16,5% em relação à safra anterior e do maior volume colhido nas últimas temporadas. Enquanto a produção cresce, o consumo interno permanece estável, estimado em 10,5 milhões de toneladas para 2024/25. A Conab também revisou para baixo o consumo da safra 2023/24, que ficou em 10,547 milhões de toneladas, após atualização dos estoques pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Como resultado do aumento expressivo na produção e da demanda estável, o estoque final da safra 2024/25 deverá saltar para 2,12 milhões de toneladas, o maior patamar dos últimos anos. Para comparação, ao fim da safra 2023/24, os estoques estavam estimados em apenas 496,8 mil toneladas.
BALANÇA COMERCIAL
A Conab também projeta crescimento nas exportações brasileiras de arroz, passando de 1,362 milhão de toneladas em 2023/24 para 1,6 milhão de toneladas na safra atual. Essa expectativa é sustentada pela previsão de queda nos preços internos em 2025, o que deve tornar o produto brasileiro mais competitivo no mercado internacional. Já as importações devem se manter estáveis, em torno de 1,4 milhão de toneladas, tanto na safra passada quanto na atual.
Fique de olho
Com estoques elevados, o mercado poderá enfrentar pressões para queda nos preços ao produtor nos próximos meses. A situação exige atenção redobrada à gestão de estoques, às estratégias de exportação e ao monitoramento dos preços internacionais, para evitar acúmulo excessivo de produto e prejuízos ao setor produtivo.
Mapa define novos preços mínimos para a safra 2025/26
Produtores de culturas de verão e produtos regionais têm novos preços mínimos estabelecidos para as safras 2025/2026 e 2026, conforme publicado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Os valores, definidos pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), têm como base estudos e propostas técnicas elaborados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que também é responsável por executar os instrumentos da Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM), assegurando, na prática, o acesso dos agricultores aos mecanismos de proteção de renda.
Os preços atualizados abrangem produtos como milho, arroz, soja, feijão, além de sementes. Os valores variam conforme o tipo e a região produtora, com vigência escalonada a partir de julho de 2025 até meados de 2027, a depender dos arranjos produtivos de cada cultura. A soja apresentou recuo de 6,87% no valor mínimo. O arroz teve valorização.
A PGPM é a política pública voltada a garantir remuneração mínima ao produtor rural e proteção frente à volatilidade dos preços. Quando os valores de mercado ficam abaixo do mínimo estabelecido, o agricultor pode acionar instrumentos como subvenção direta ou aquisição do produto pelo governo. Esses mecanismos são efetivados pela Conab, que atua no processo técnico-operacional da política, desde a formulação da proposta de preços até a execução junto ao público.
As regras e condições estão no Manual Operacional da Conab (MOC), publicado no site da companhia. Já a íntegra da Portaria Mapa nº 812, de 7 de julho de 2025, com os preços mínimos por produto e região, está disponível no Diário Oficial da União.
Baixo volume exportado impacta na CDO
O Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) apontou, com base na taxa de cooperação e desenvolvimento da orizicultura (CDO), que o beneficiamento e as exportações de arroz do Rio Grande do Sul tiveram desempenho fraco no primeiro semestre de 2025. Com uma média mensal de 605.660,5 toneladas (base casca) processadas ou exportadas, o estado alcançaria um total de 7,27 milhões de toneladas, o segundo menor valor desde 2019. Esse volume é baixo diante da colheita de mais de 8,3 milhões de toneladas e do estoque previsto. A esperança, agora, está na retomada das exportações e do consumo.




