Alta na lavoura, queda no preço
Cotações em queda e oferta elevada marcam a safra 2024/25 em Santa Catarina
Os preços médios mensais do arroz ao produtor seguiram em queda de junho até o início de julho, ficando 41% abaixo dos registrados na safra anterior em Santa Catarina, segundo informações do Cepa/Epagri. A economista Gláucia Padrão apontou que o principal fator desse comportamento foi a maior oferta, provocada pelo aumento de área em 2024, motivada pelos preços elevados. Ao longo de julho, os preços tenderam a uma leve alta.
Ela observou que o Plano Safra influenciou a troca de áreas de soja por arroz. O clima favorável contribuiu para o aumento da produtividade no Mercado Comum do Sul (Mercosul).
Para Gláucia, a ampla oferta derrubou os preços internos, e o Brasil enfrentou dificuldades para exportar no primeiro semestre devido ao alto custo de produção, o que tornou os países vizinhos mais competitivos.
Cerca de 90% da produção foi comercializada até junho, com preço médio de R$ 79,88. No atacado, os preços enfraqueceram: R$ 98,14 por fardo de 30 kg em junho — uma queda de 37,6% em relação ao ano anterior.
Ainda, Gláucia Padrão entende que, nos próximos meses, não há chances de uma grande recuperação nos preços, diante da elevada oferta e da baixa competitividade. “A perspectiva da próxima safra depende da área a ser semeada pelos gaúchos. Preços pouco atrativos podem levar à migração para a soja, que exige menor investimento, é mais competitiva e possui maior liquidez”, destacou.
SAFRA
A safra 2024/25 de arroz em Santa Catarina foi concluída com recordes: 145 mil hectares plantados (estável), produção 12,19% maior e produtividade inédita de 8,95 t/ha (+12,5%). O desempenho foi impulsionado por condições climáticas favoráveis, alto nível tecnológico e pelo uso de cultivares da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri).
O sistema de cultivo pré-germinado predominou (89%) e a área arrendada atingiu 53%, apesar do custo elevado. Apenas 23,8% dos produtores enfrentaram problemas graves, como brusone e plantas daninhas. O resultado no campo foi positivo para os agricultores, mas os preços de comercialização frustraram as expectativas de uma rentabilidade próxima ou equivalente à de 2024.
Taxa zero ao consumidor catarinense

O governo do Estado de Santa Catarina sancionou uma lei que zera a alíquota do ICMS sobre alimentos essenciais da cesta básica — como arroz, feijões (preto e carioquinha), farinha de trigo, milho e mandioca —, desde que sem adição de ingredientes ou vitaminas. A medida entrou em vigor em 1º de agosto de 2025 e valerá até 30 de abril de 2026, com o objetivo de reduzir o custo da alimentação básica, especialmente nas cidades com preços elevados, como é o caso de Florianópolis.
A alíquota caiu de 7% para 0%, gerando uma renúncia fiscal estimada em R$ 130 milhões até abril de 2026. Para compensar a perda de arrecadação, o governo aumentou as alíquotas de ICMS sobre gasolina e diesel, em vigor desde fevereiro de 2025. Especialistas alertaram que isso pode elevar os custos de transporte e reduzir parte do impacto positivo da isenção no preço final ao consumidor.
A economista Crystiane Peres, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em Santa Catarina, afirmou que a medida fortalecerá uma tendência já observada de queda nos preços: entre janeiro e junho de 2025, o feijão caiu 29% e o arroz, 18% em Florianópolis. Ela ressaltou, porém, que o efeito da isenção não será imediato e que o benefício só chegará, de fato, ao consumidor final se houver fiscalização por órgãos como o Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) — e também por parte do próprio setor varejista.
Além do foco na cesta básica, o pacote do governo traz amplos incentivos ao setor agropecuário e à indústria, com destaque para: crédito presumido para aves e suínos vivos vinculados à exportação, com impacto estimado em R$ 116,6 milhões por ano; renovação de incentivos a insumos agropecuários, totalizando cerca de R$ 700 milhões por ano; redução técnica no crédito presumido de abatedores, com impacto positivo de R$ 100 milhões por ano; e isenção de ICMS para macroalgas usadas na agricultura e na alimentação animal.
Questão básica
A agroindústria catarinense representa cerca de 30% do produto interno bruto (PIB) estadual, respondendo por 70% das exportações e empregando cerca de um milhão de pessoas. A política fiscal adotada busca estimular a economia, aliviar o custo de vida e preservar o equilíbrio financeiro do Estado. Na área do arroz, a capacidade estática de processamento ultrapassa 1,6 milhão de toneladas por ano, o que torna necessária a importação de matéria-prima de outros estados, como o Rio Grande do Sul, e de países do Mercado Comum do Sul (Mercosul), Itália, entre outros.
Fique de olho
Os primeiros efeitos concretos da medida deverão aparecer nos boletins do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) a partir de agosto de 2025. A iniciativa é considerada positiva e necessária diante do histórico de inflação elevada dos alimentos, que tem superado o índice geral de preços na última década.

