A agropecuária tem que produzir dinheiro novo!
Autoria: José Nei Telesca Barbosa, engenheiro agrônomo e advogado, especialista em Agronegócios.
Mas, respaldados por mais de 30 análises, já efetuadas sobre o setor agropecuário da região sul do RS, verificamos que é imperioso afirmar que ele tem que produzir mais dinheiro ou dinheiro novo! Esta é a necessidade para a qual a agropecuária deve redirecionar o seu foco.
Sem dúvida, temos que enaltecer e congratularmo-nos com os avanços ocorridos na agricultura em termos de produção e produtividade. O avanço tecnológico, na área de insumos, equipamentos, crédito e conhecimento são surpreendentes. No entanto, todo este avanço tecnológico ocorrido, em especial nos últimos dez anos, tem trazido pouco aumento da riqueza das comunidades rurais ou este aumento poderia ter sido bem maior.
Quais seriam as razões que poderiam alicerçar esta afirmação?
Por primeiro, podemos ter que o foco desmesurado no aumento da produção e da produtividade, turvou o olhar dos agricultores e dos técnicos, quanto ao aspecto da relação custo benefício no emprego das técnicas para alcançar este fim. Muitas das tecnologias são utilizadas como pacotes ou receitas de bolo, sem a realização de uma análise de solo, uma observação mais acurada do efetivo ataque das pragas e doenças, de uma análise financeira ou do estudo da capacidade de pagamento no caso da aquisição dos equipamentos agrícolas.
A forma de comercialização tem se mantido no modelo de décadas atrás. O comércio do arroz e do boi vem desenvolvendo-se da mesma forma há anos, sendo que o do boi para quem não oferta lotes maiores têm grande dificuldade de colocação, além da novela que se processa até a concretização do negócio. No comércio do arroz a grita dos agricultores é histórica e justa, pois que além do preço de venda do produto em si, têm o preço do arrendamento da terra e da água, travestido de parceria, a abocanhar uma fatia considerável da renda final.
A baixa evolução das agroindústrias de um modo geral é outro ponto importante a ser registrado. Ocorreu uma evolução significativa nos processos operacionais de beneficiamento da produção, mas ainda é muito baixa a transformação em outros produtos a serem ofertados aos novos consumidores. Estamos fazendo bem feito algo que está trazendo pouco resultado a nossa economia agropecuária. Precisamos entender os desejos destes novos consumidores, com maior renda, novos hábitos alimentares e com menor tempo para as refeições. A própria cultura da soja com sua liquidez na comercialização, pode ter questionada a sua exportação na forma bruta, com baixo valor agregado e com baixo recolhimento de tributos aos cofres públicos.
Como último item, deve ser analisada a destinação ou a reinversão do lucro obtido pelos agentes do agronegócio ao final do ciclo agropecuário. Eis que, predomina, há muito, a aplicação do lucro obtido dos empreendimentos, que resultam superavitários em imobilização deste capital em aquisição de imóveis rurais ou urbanos, que geram uma baixa circulação da riqueza produzida.
Os quatro itens apontados têm provocado baixa movimentação econômica nos municípios originários da produção, um baixo emprego de profissionais com maior nível de qualificação e menor renda aos próprios agentes envolvidos no agronegócio.
Há urgência na criação de novos negócios nos municípios da região, que resultem na produção de dinheiro novo, que acabe também aportando nas finanças municipais e estadual, entes que mostram-se desesperados por mais recursos. Ou mesmo para atender os justos reclamos dos próprios agentes envolvidos na produção e de suas lideranças, que pedem mais ações em infra-estrutura e logística. Obras necessárias, mas dependentes da geração de muita riqueza para a sua construção, visto o alto dispêndio para a sua realização.
Estamos certos que este dinheiro novo virá com a mudança da atual visão, de somente plantar e colher e vender na forma bruta para uma postura empresarial, em que predomine a incorporação da inovação e do empreendedorismo.
1 Comentário
É necessário ter coragem de sair da zona de conforto e agregar mais valor as comoddites, mas para que isso ocorra a classe deve se unir e criar uma sustentabilidade maior economica , social e ambiental. Coragem!