A Cadeia do Arroz agora irá vender felicidade!
Autoria: José Nei Telesca Barbosa – Engenheiro Agrônomo e Advogado, Especialista em Agronegócios.
O novo posicionamento da Cadeia do Arroz percebido a partir da Abertura da Colheita em Mostardas-RS, na qual os seus integrantes sinalizaram uma postura voltada para o mercado, mostra a necessidade da implementação de novas atitudes no agronegócio orizícola.
Primeiro é convencer-se que ocorreu uma grande mudança no hábito alimentar do brasileiro, provocada pelo funcionamento das empresas comerciais no horário do meio-dia e pela entrada da mulher no mercado de trabalho, direcionando o consumidor para o almoço fora da sua residência. A refeição agora é feita nos bufês dos caros espaços urbanos, que não podem ser ocupados por muito tempo pelo mesmo cliente.
Esta refeição rápida e frugal em que é paga a quantidade consumida, faz com que o consumidor dê preferência às carnes e a outros pratos mais sofisticados e de menor peso, para não retornar ao trabalho sonolento pela quantidade ingerida. Este fato, aliado a maior renda do “Novo Consumidor”, está a indicar a diminuição do consumo de arroz voltado para a “panela ou à hora do almoço”. Se por um lado é um problema, por outro pode ser uma grande oportunidade em fazer o produto ser consumido noutros momentos do dia e em produtos com maior agregação de valor.
São as bolachinhas com farinha de arroz para o seu delicioso lanche e os snacks e barras de cereais para dar as suas mordiscadas, enquanto cumpre a sua jornada de trabalho.
O etanol de arroz será usado como combustível no seu carro Flex no ir e vir do trabalho, que aliás, está com o consumo mais elevado em face ao caótico trânsito das cidades. Do resíduo da produção do combustível à base de “arroz gigante”, sobra ainda o DDGS para a alimentação do gado, que irá fornecer a carne a ser consumida no bufê do restaurante ou no hambúrguer do fast food. Chegando em casa o álcool do cereal ainda será servido no seu drink ou na cerveja no happy hour com os amigos.
Como o nosso consumidor chegou cansado pelo trabalho e pelo trânsito, está ansioso para ver seus programas de entretenimento na TV e participar das redes sociais no computador, tendo levado para casa uma comida pronta congelada, então lhe será servido no seu sofá um “peito de peru com ervilhas ao molho branco e arroz”.
A sua felicidade somente estará completa quando entregar os cereais matinais e os sucos de arroz com frutas no café da manhã, para os filhos ou netos, além do pacote com a ração à base de arroz e cordeiro para o seu pet, que o recebe amistosamente, todos os dias, na porta do apartamento.
Com as necessidades do consumidor atendidas, mesmo tendo desembolsado um maior valor por estas comodidades, estará extremamente satisfeito e terá repassado uma maior renda ao produtor, que poderá externar um novo ânimo e olhar o mercado e as suas oportunidades, contagiando os seus familiares, técnicos e demais colaboradores com o sucesso obtido.
Este novo entusiasmo deverá lhe proporcionar convicção e autoridade para um sopro de modernização no relacionamento produtor e proprietário da terra, que envolve cerca de 11.000 arrendatários. Quem sabe a criação de um departamento ou associação estadual que represente os arrendatários?
Também a contratação de consultores técnicos, financeiros, administrativos, de recursos humanos e de mercado, que lhe auxiliem na complexa tarefa de condução de uma agropecuária empresarial e comercial, que modernize a relação produtor e engenho ou produtor e fornecedor de insumos para a lavoura.
Quem sabe também, a mudança do padrão de comercialização do arroz em casca para arroz beneficiado com a comercialização efetivada em bolsas de mercadorias, melhorando a transparência nas negociações realizadas com a efetivação de contratos a termo com preços previamente assegurados.
A diversificação das atividades do arroz com a soja ou o sistema de integração lavoura pecuária, preconizados pela Agricultura de Baixo Carbono, que já estão sendo feitos, poderão ser incrementados em mais propriedades, se os contratos agrários forem estendidos por longo prazo com a utilização em tempo integral das áreas de cultivos, estes também poderão acessar os investimentos facilitados oferecidos pelos programas de crédito de armazenagem.
Há ainda, a oportunidade de cultivo do arroz orgânico, biodinâmico ou agroecológico, a produção integrada com Identificação Geográfica, o preto e o integral, a ser oferecido a um segmento crescente de novos consumidores preocupados com a saúde. Também a função nutracêutica do farelo de arroz poderá ser explorada, pois tem como componentes: o óleo, fitatos, fitosterol, inositol, γ-orizanol e ácido ferúlico (segundo WARREN; FARREL, 1990 apud Faccin, G.C., 2009).
Com todas estas possibilidades que o mercado está a nos mostrar para o arroz, agora “MULTIUSO”, mais as que os nossos especialistas em marketing vão desenvolver, o atual engenho deverá sair apenas do beneficiamento primário e adentrar na indústria de alimentos, chegando à indústria de nutrição. Para isso poderá contar com as linhas de investimento do FINAME com taxas pré-fixadas e prazo longo, que tanto já aproveitam as indústrias de máquinas e equipamentos e outros tantos setores.
Claro está, que a quantidade mais significativa da produção, ainda será vendida no “cinquentão e guerreiro” saquinho para as refeições de uma grande parcela da população, que almoça no domicílio ou para os nossos valorosos trabalhadores brasileiros, que se alimentam com o tão saboroso arroz das comidas prontas elaboradas nas cozinhas industriais.
Agora sim, enquanto o nosso “rei consumidor” repousa feliz e encantado com o tratamento recebido, nós, os agentes da cadeia de produção devemos seguir estudando o mercado, juntamente com as entidades de classe e de pesquisa (esta ainda com o foco muito voltado para a produção e produtividade), monitorando e contribuindo com o governo para que desempenhe as suas reais funções de Estado.
1 Comentário
Excelente artigo, parabéns Sr. José Nei Tedesca! Creio que sua análise exprima perfeitamente o movimento do mercado consumidor das refeições. Com o aumento do poder aquisitivo do brasileiro, o incremento da mulher no mercado de trabalho, elevou o consumo nos restaurantes e estabilizou os do supermercado. Porém, onde o gráfico do PIB antes era ascendente, hoje, se localiza na descendente e isso pode gerar consequências a médio prazo, caso o crescimento e geração de empregos no país não se recupere.
Em 2007 o Brasil cresceu 7%, hoje se fecharmos o ano com 1% será lucro. Àquela época, aumentava a demanda pelo arroz de excelência, fato que levou as grandes marcas a lançarem ou aumentarem seu esforço para a migração de seus produtos tops, consolidou-se os Prato Fino, Camil Reserva, Albaruska de Pilão, Tio João, Santa Grão, Raroz Prime, dentre outros, hoje o caminho pode estar no inverso…
A criação do novos nichos de mercado que atendam a demanda atual é uma saída para o setor que tanto sofre com os sobe e desce da economia.
Farinha de arroz para empanar e confeitar, biscoito de arroz, etanol, casca triturada como esfoliante, crótons de arroz, arroz em bandejas de refeições congeladas, variedades exóticas, arroz integral, creme de arroz ( similar ao creme de leite – muito bom, já provei ), arroz instantâneo seco, são alguns dos produtos que podem servir de válvula de escape, porém, o velho cinquentão referido ainda tem que ser tratado com mais respeito. Deve-se criar mecanismos para a rentabilidade também do setor bruto.
Cooperação, exportação, controle de safra, aquisição de silos, podem ser um norte.
Parabéns mais uma vez pelo artigo!!