A Fenarroz, feito a lavoura, diversificou as culturas

 A Fenarroz, feito a lavoura, diversificou as culturas

Bancário aposentado e especialista em seguros agrícolas, Tomaz Santa Cruz Arbelo, 62 anos, presidirá a 25ª Feira Nacional do Arroz, a Fenarroz, em Cachoeira do Sul (RS), entre os dias 17 e 22 de junho. Ele é o nosso entrevistado desta edição.

Planeta Arroz – Como estão os preparativos para a Fenarroz 2025?
Arbelo – “Apesar das correrias de última hora, estamos com tudo planejado. Todos os espaços negociados, um ótimo parque de 10 hectares passando pelas últimas manutenções e preparativos e estamos ajustando agora apenas os pequenos detalhes”.

Planeta Arroz – Como é o desafio de organizar uma feira deste tamanho?
Arbelo – “É grande. Nossa Comissão Executiva é comunitária, pessoas ligadas a clubes de serviços e entidades comunitárias e setoriais, sem remuneração. Os recursos são todos advindos de patrocinadores e expositores, portaria. Então, contamos com a comunidade de Cachoeira do Sul e região, além do próprio setor do agronegócio, para viabilizar cada edição e fechar as contas no azul. É preciso um grande espírito comunitário para integrar esta equipe e doar-se em prol da feira”.

“Agora somos uma multifeira do agronegócio”

Planeta Arroz – Atualmente, a feira tem foco no arroz, mas também uma programação diversificada, ligada a outras culturas.
Arbelo – “Sim. A Fenarroz, assim como a própria lavoura orizícola, precisou diversificar as culturas para buscar sua viabilidade e acompanhar a expansão do agronegócio. Atualmente, temos cerca de 100 mil hectares de arroz cultivados na Região Central, sendo 25 mil deles em Cachoeira do Sul. Aqui, já tivemos 38 mil hectares. Hoje, Cachoeira planta 110 mil hectares de soja e, na região, são quase 300 mil. Temos ainda outros 100 mil hectares de milho, 500 mil hectares destinados à pecuária, além de outros importantes segmentos, como a noz-pecã, a olivicultura e a agricultura familiar, que também demandam a programação do evento. Por isso, agora, somos uma multifeira do agronegócio, embora preservemos a tradição da Feira Nacional do Arroz, que já tem mais de meio século”.

Planeta Arroz – E o que muda no perfil da feira?
Arbelo – “Tudo. A programação é diversificada, os expositores também realizam suas atividades, trazem seus convidados de diversas áreas, a agricultura familiar tem espaço nobre, o Espaço AgroTech amplia a gama de participantes ligados à tecnologia, inovação e ao ambiente universitário e científico, mas é importante frisar que não perdemos a essência de uma feira de negócios que têm o arroz como grande protagonista”.

Planeta Arroz – De que maneira?
Arbelo – “O arroz está na origem de tudo, já que Cachoeira do Sul é pioneira na mecanização e nos sistemas irrigados para a lavoura, sendo uma das primeiras, senão a primeira, lavouras de arroz irrigado do país de que se tem notícia. Assim, além de os expositores oferecerem o máximo em tecnologia para as lavouras e indústrias arrozeiras, temos uma programação de grande relevância para a orizicultura, como o Seminário do Irga, e uma área especial, que é o Memorial do Arroz — um museu que está com um projeto de ampliação, com um grande e especial acervo que conta a história da evolução do arroz irrigado no Rio Grande do Sul”.

“O arroz está na origem de tudo”

Planeta Arroz – Quais as novidades da feira nesta edição?
Arbelo – “Sem dúvida, o Espaço AgroTech será um diferencial. Aqui será lançada a lei e o programa de inovação de Cachoeira do Sul, mas também teremos interação e apresentação de produtos tecnológicos de empresas, universidades, além do suporte do Sistema S, entre outras atividades de grande relevância para o desenvolvimento e o futuro do agronegócio”.

Planeta Arroz – Mas há também uma agenda política?
Arbelo – “Sim, a política setorial está pulsante na Fenarroz. Como nas edições passadas, teremos um grande movimento pela securitização das dívidas dos agricultores atingidos pelas catástrofes climáticas recentes, sejam as enchentes, sejam os três ou quatro anos de secas históricas. Esperamos contar com a presença do governo federal para ouvir, mais uma vez, essas demandas. Mas, desta vez, esperamos que sejam apresentadas soluções reais e efetivas”.

Planeta Arroz – O que o senhor espera em termos de comercialização?
Arbelo – “Olha, sabemos que este é um ano em que, tirando a pecuária, as nozes e o azeite de oliva produzidos em nossa região, todas as commodities estão enfrentando problemas sérios, seja em relação aos preços, seja quanto ao endividamento dos produtores. Isso afeta as empresas fornecedoras e, em última análise, os nossos expositores. O momento do agronegócio é de resiliência, então, sabemos que a comercialização não deve ser expressiva a ponto de comemorarmos grandes recordes. Mas torcemos para que todos tenham bons negócios, para que haja renegociações, em especial com os bancos, que as regras sejam boas para agricultores e revendas e que todos saiam satisfeitos da feira e voltem no ano que vem”.

Planeta Arroz – Haverá também um seminário especial pra tratar de securitização das dívidas agrícolas?
Arbelo – “Exatamente. Numa parceria com o senador Luis Carlos Heinze (PP/RS), estaremos recebendo um seminário muito importante para tratar da grave situação do endividamento dos produtores rurais. É uma situação em que, das últimas cinco safras, tivemos perdas severas em pelo menos quatro delas. Dados da Farsul indicam que o Rio Grande do Sul, em cinco anos, perdeu o equivalente à metade do seu PIB em um ano. É algo muito sério e afeta todos os segmentos da economia gaúcha, com impacto social também. Não é apenas um problema da lavoura de grãos ou da pecuária, mas de toda a sociedade”.

“A política setorial está pulsante”

Planeta Arroz – Então haverá uma grande concentração de produtores?
Arbelo – “Sem dúvida. Apenas neste evento, esperamos em torno de cinco a seis mil produtores de grãos de todo o Rio Grande do Sul. Será um momento especial, que pautará as negociações e tratativas em nível nacional. Sabemos que as medidas anunciadas no fim de maio não são suficientes para atender às necessidades dos produtores. A prorrogação atenderá uma pequena parte dos agricultores, mas a maioria seguirá com dificuldades de acesso ao crédito e, também, de pagar as suas contas. E isso tem sido deixado claro pelas manifestações nas rodovias e junto ao governo federal e ao Congresso Nacional”.

Planeta Arroz – A feira, em junho, é melhor do que em maio?
Arbelo – “Há uma série de fatores que determinam a data da Fenarroz, e um deles tem o objetivo de contemplar uma época em que já estejam disponíveis os recursos do Plano Safra ou, pelo menos, que seja possível encaminhar o acesso às linhas de crédito, como forma de fazer com que os produtores tenham acesso às aquisições de insumos, máquinas e serviços necessários à sua estrutura e às próximas safras”.

Planeta Arroz – Qual a sua expectativa para a feira?
Arbelo – “A melhor possível. Teremos visitantes de todo o país e até estrangeiros, uma programação técnica de alta qualidade para o interesse de toda a cadeia produtiva do agronegócio brasileiro, ambientes de negócios, inovação, integração e atividade de política setorial, feira da agricultura familiar, entretenimento para a família, atividades do Memorial do Arroz. Ainda haverá a presença de autoridades estaduais e nacionais debatendo a política setorial, securitização, agricultura, pecuária, dinâmica de máquinas e exposição, shows regionais e parque diversões. Teremos atrações para todos os gostos. Estão todos convidados”.

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