A força da Emater na lavoura familiar de arroz

 A força da Emater na lavoura familiar de arroz

Entrevista com o presidente da Emater/RS-Ascar e secretário substituto da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Rio Grande do Sul, Caio Rocha, sobre o cenário da orizicultura familiar gaúcha.
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PLANETA ARROZ – Qual a importância das ações estabelecidas pelo Governo do Estado e executadas pela Emater/RS-Ascar na expansão e sobrevivência da orizicultura familiar?

CAIO ROCHA – “O trabalho que desenvolvemos é fundamental não apenas para expandir a orizicultura familiar, mas também a lavoura gaúcha e, por extensão, o agronegócio do arroz. A Emater/RS-Ascar se orgulha de estar envolvida neste segmento tão expressivo para a economia gaúcha. A movimentação financeira promovida por uma única safra de arroz ultrapassa R$ 5 bilhões.

É dentro desse contexto que se insere a atuação da Emater/RS-Ascar, com atividades das mais variadas, desde a recomendação de uma prática até a conscientização para a produção ser a mais racional possível, com o uso racional da água e o manejo da cultura de forma sustentável. Nesse aspecto, lembro sempre o amplo e decisivo trabalho que colocamos em ação com a sistematização de solo, técnica há vários anos adotada.

É imprescindível ressaltar que as orientações aos agricultores familiares são para plantar de acordo com a disponibilidade de área e manejo correto. Tarefas que incluem o controle adequado de invasoras, com o uso da rizipiscicultura e do marreco-de-pequim sobre o arroz vermelho. A produção de arroz orgânico, no litoral norte e na depressão central, é outro tema importante que vem ganhando destaque nas ações da Emater”.

PLANETA ARROZ – É possível mensurar o crescimento no volume de agricultores familiares atendidos pela Emater nos últimos anos?

CAIO ROCHA – “Costumo ressaltar sempre as peculiaridades de cada cultura, enaltecendo a missão da Emater/RS-Ascar, que tem característica de atender as pequenas propriedades. No caso da cultura do arroz, estamos atendendo cerca de seis mil produtores. Desses, três mil com área média de 15 hectares, com produtividade alta, acima de 7,5 mil quilos por hectare. Além do trabalho da Emater, todos estão engajados no Programa Arroz RS/Projeto 10, desenvolvido em parceria com o Irga.

A metade dos produtores gaúchos atendidos pela Emater ocupa uma área de 48.627 hectares de lavouras com arroz irrigado, pré-germinado, plantio em linha e cultivo mínimo com preparo de verão. Outros três mil agricultores também assistidos trabalham em cerca de mil hectares do arroz em terras altas e se voltam para a produção e consumo da propriedade, como cultura de subsistência. A produtividade média dessas áreas é de dois mil quilos por hectare, mas com potencial para chegar aos cinco mil quilos por hectare”.

PLANETA ARROZ – Existe uma melhor qualidade de vida entre os agricultores que recebem orientações da Emater?

CAIO ROCHA – “Estou certo que sim. Na região da depressão central, por exemplo, observa-se o alto nível de qualidade de vida dos arrozeiros, situação de extrema importância para o contexto socioeconômico rio-grandense. Além do fator econômico, destaca-se que esses agricultores são proprietários da terra. Uma importância social de significado enorme, pois é um trabalho econômico. São pequenas áreas, mas com altas produtividades nas lavouras obtidas através do manejo correto, da mão-de-obra familiar e da agregação de tecnologias sempre de acordo com suas possibilidades”.

PLANETA ARROZ – Quais os destaques no trabalho da Emater/RS-Ascar?

CAIO ROCHA – “O serviço de extensão rural se orgulha de atuar com agricultores que estão conseguindo aumentar a produtividade e reduzindo o consumo de água, ponto de partida para o agronegócio do arroz se desenvolver. A sistematização do solo é, sem dúvida, um dos destaques, já que foi adotada por mais de 1,5 mil produtores que colocaram em prática técnicas que melhoram a qualidade do solo. Este sistema é usado em 35 mil hectares de sete municípios da região central do estado (Agudo, Dona Francisca, Faxinal do Soturno, Nova Palma, Paraíso do Sul, Restinga Seca e São João do Polêsine)”.

PLANETA ARROZ – Mas há também uma preocupação com os recursos naturais?

CAIO ROCHA – “Claro que sim. Nosso trabalho se destaca também por levar os produtores a consumirem com maior eficiência os recursos hídricos, uma economia de água na lavoura de arroz que chega a 62% em relação ao sistema convencional. Resumindo: são pequenos, gastam menos, produzem bem e são eficientes. São profissionais do arroz com tendência a serem mais eficientes ainda, aumentando a produtividade e trabalhando de forma sustentável. A transferência de tecnologia também é um destaque, pois é com responsabilidade que levamos experiência aos produtores, usando recursos que vão desde o aprendizado em sala de aula até os programas via rádios e TV”.

PLANETA ARROZ – Quais as dificuldades enfrentadas pela orizicultura familiar gaúcha?

CAIO ROCHA – “Cada vez mais estamos ouvindo o produtor, que por sua vez é mais inclinado a ouvir outros produtores do que os especialistas. O dia em que nos aproximarmos mais dos agricultores, vamos conseguir melhorar o resultado não só das propriedades, mas também do perfil do agronegócio do arroz. Todos temos o desafio de produzir alimentos sem agredir o meio ambiente. Estamos começando a conviver com essa situação da melhor forma, desde a preservação da mata ciliar, cuidados com a aplicação de agroquímicos e respeito à legislação”.

PLANETA ARROZ – Mas existem outros desafios…

CAIO ROCHA – “Sem dúvida. Veja um exemplo: as exportações brasileiras de arroz confirmaram as expectativas de crescimento com relação aos anos anteriores. O mês de dezembro apresentou a saída de 21.235,1 toneladas (base casca) do cereal, sendo que os principais destinos foram Suíça e Trinidad e Tobago. Com isto, o ano de 2005 fechou em 399.610 toneladas de arroz exportados, maior valor registrado nas últimas duas décadas. Encontrar novos mercados para valorizar o preço do arroz produzido no Brasil é um desafio de toda a cadeia produtiva. Mas o compromisso da Emater/RS não é só com a qualidade do produto e com o mercado. É também com a qualidade de vida do produtor e do meio em que ele vive. E tenho certeza que estamos no caminho certo”. 

O dia em que nos aproximarmos mais dos agricultores, vamos melhorar o perfil do agronegócio do arroz

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