Cultivo do arroz tem mais de 7 mil anos de história
O cultivo do arroz é tão antigo quanto a própria civilização. Embora a origem ainda seja um mistério para historiadores e pesquisadores, estudos recentes apontam que o arroz pode ter uma origem mais antiga do que se imagina. O cultivo pode ter iniciado 12 mil anos atrás, na China. Porém, a teoria mais aceita é de que o início das lavouras de arroz foi há mais de 7 mil anos, no continente asiático. Cientistas apontam a Índia, em regiões com maior diversidade de espécies e largo consumo, como as províncias de Bengala, Assam e Mianmar, como centro da origem do cultivo.
É de lá que surgiu a espécie Oryza sativa, uma variedade cultivada de maneira espontânea em solos de terras baixas. Nessa época, o arroz era utilizado como oferenda em cerimônias religiosas e como complemento de uma alimentação baseada, sobretudo, na pesca e caça. Da Índia, o consumo se estendeu até a China e a Pérsia, atual Irã, devido ao clima mais úmido e maior quantidade de água para irrigação. Em seguida, o cultivo se espalhou para o sul e leste, passando pelo Arquipélago Malaio e alcançando a Indonésia em torno de 1500 a.C. A cultura antiga do cultivo de arroz nas Filipinas e, no Japão, foi introduzida pelos chineses nos séculos seguintes.
Na África, há destaque para o arroz da espécie Oryza glaberrima, que começou a ser cultivada ao longo do delta do rio Níger, expandindo-se até o Senegal. Já em Madagascar, estima-se que o arroz asiático (Oryza sativa) teria chegado à região por volta de 1000 a.C, sendo negociado e servido como moeda de troca para comerciantes indianos. No Egito, o arroz já era cultivado desde o século I d.C, como atestam antigos pergaminhos e escrituras. Após a invasão romana, os então governantes tentaram criar arrozais na Síria, Palestina e Ásia Menor, a atual Turquia, para servir como fonte de alimento para seus exércitos, porém as tentativas foram frustradas.
Já no século VIII, os árabes aperfeiçoaram o cultivo de arroz, levando-o para o sul do Iraque e para a Europa. Pesquisadores apontam regiões da Espanha, como a ilha da Sicília, Portugal e algumas ilhas gregas como as primeiras a cultivar no continente em larga escala. Na sequência, os espanhóis foram os responsáveis por levar o arroz para a Itália no século seguinte. Portugal espalhou o cultivo na África Ocidental.
No período das Grandes Navegações (XV-XVIII), variedades asiáticas e africanas de arroz foram trazidas para as Américas com os espanhóis, que estavam interessados em cultivar também outras culturas na região, como a cana-de-açúcar. O documento mais antigo que atesta a chegada do grão na região é de 1522, com um carregamento de arroz e trigo que chegou ao México.
No Brasil, estima-se que os portugueses já cultivavam arroz no país por volta da década de 1530, como forma de adaptá-lo ao clima tropical. Em outros territórios das colônias espanholas e portuguesas, tinha a função de servir apenas como ração das tropas e primeiros colonizadores, porém não demorou muito antes de seu cultivo ser estimulado e expandido. Na Colômbia, por exemplo, o cultivo é datado por volta de 1580.
Linha do tempo
O arroz no Brasil
Alguns autores apontam o Brasil como o primeiro país a cultivar esse cereal no continente americano. Muito antes da chegada dos portugueses, o arroz era o “milho d’água” (abati-uaupé) que os índios tupis já colhiam nos alagados próximos ao litoral. Registros mostram que alguns integrantes da expedição de Pedro Álvares Cabral, após uma caminhada de 5km em solo brasileiro, traziam consigo sacos de arroz, confirmando os escritos de Américo Vespúcio que fazem referência a cultivos desse cereal em grandes áreas alagadas do Amazonas.
Em 1587, lavouras arrozeiras já ocupavam terras na Bahia e, por volta de 1745, no Maranhão. Em 1766, a Coroa Portuguesa autorizou a instalação da primeira descascadora de arroz no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro. Anos depois, em 1781, os portugueses decidiram proibir a importação de arroz brasileiro, para proteger o cultivo e lucro da venda do grão no país europeu. Essa proibição permitiu que o arroz fosse introduzido na alimentação do exército, favorecendo a expansão do cultivo em diferentes regiões do Brasil, mesmo que em quantidade limitada.
No sul do país, por exemplo, o pesquisador botânico Auguste de Saint Hilaire registra o cultivo do grão no Rio Grande do Sul em meados de 1820. Há também histórias de imigrantes alemães em Santa Cruz do Sul e Taquara como os primeiros a cultivar arroz no estado, sempre em pequenas lavouras, ao estilo colonial.
Poucos anos antes, a partir do ano de 1808, a abertura dos portos brasileiros por Dom João VI permitiu que o Brasil recebesse mais quantidades de arroz, o que contribuiu para modificar os hábitos alimentares da época. Com o passar dos anos, a produção brasileira de arroz se espalhou por todo o território nacional, para atender as necessidades do público consumidor, reduzindo a dependência da importação do grão de Portugal. A prática da orizicultura no Brasil, de forma organizada e racional, aconteceu em meados do século XVIII e daquela época até a metade do século XIX, o país foi um grande exportador de arroz.
Considerado pela Organização Mundial de Alimentação e Agricultura (FAO) como um dos alimentos mais importantes para a nutrição humana, o arroz tem 90% de sua produção nos países asiáticos. Entretanto, parte do grão é produzido no Brasil, gerando emprego e renda para milhares de pessoas, nos mais diversos segmentos da cadeia produtiva.
O arroz é o segundo cereal mais cultivado no mundo e o principal alimento para mais da metade da população, ocupando uma área de quase 163 milhões de hectares. O Brasil é o maior produtor e consumidor de arroz fora da Ásia e o décimo maior produtor mundial. O suprimento anual alcança, em média, 15 milhões de toneladas de arroz para atender ao consumo. Da safra brasileira, cerca de 75% – ou 9 milhões de toneladas – são colhidos no sul do país, nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, em 1,25 milhão de hectares, sob clima subtropical.
Estima-se que no Brasil existem mais de mil indústrias especializadas em arroz, destas, 70 são consideradas de médio e grande porte, sendo responsáveis pelo abastecimento de 85% do mercado interno. Outras 40 empresas atuam com exportação: a qualidade do grão brasileiro é um diferencial no comércio mundial, com presença consolidada em mais de 70 países da África, América do Sul, Caribe, Oriente Médio, e Europa.
Colaboração de Corteva