A hora de revelar a crise

Autoria: Cleomar Ereno, Eng. Agrônomo e ex-vice-presidente da Federarroz e presidente da Ass. de Arrozeiros de Alegrete (RS).

“A sociedade tem em si mesma algo de sagrado.”
Com esta frase de Émile Durkhein (1912), abro este artigo escrito a pedido do amigo Nilson Gomes.

Toda organização de classe brota da sociedade, pela iniciativa de pessoas com interesses convergentes que, por força antropológica unem-se, buscando demarcar suas posições sejam ela sociais, religiosas, políticas ou econômicas.

Dentro destas premissas, embora implícitas, um grupo de produtores de arroz organizou, em 1985, a Associação dos Arrozeiros de Alegrete. Uma entidade com o propósito soberano de promover a base econômica da produção orizícola, através de ações focadas na rentabilidade da atividade.

Desde a sua fundação, muitas diretorias atuaram, cada uma dentro da realidade da sua época, mantendo a entidade voltada exclusivamente para a construção da politica setorial do arroz, nunca associada à politica partidária, pois os interesses dos produtores sempre foram de ordem coletiva e devem transcender as posições ideológicas ou os interesses pessoais.

A cada gestão, coube manter estes elementos ativos, exercendo a interlocução com todas as forças ideológicas que por ventura venham a ocupar o poder no Estado, somando-se, em segundo plano, às demais entidades afins locais, nas ações de interesses comuns dentro da comunidade, inovando de forma inteligente e participativa, sempre envolvendo o produtor, visando garantir a coesão da base ao propósito fim da própria entidade. Os propósitos e valores, bem como o foco no objetivo, são garantidos pelo contato estreito e permanente com o produtor. É ele quem deve gerir os rumos da entidade, pois é o real termômetro da situação da atividade a cada momento.

Dito isto, saltando para a atualidade, quando estamos mais uma vez diante de uma Semana Arrozeira, idealizada na sua primeira edição há oito anos, pelo então presidente Gilberto Pilecco, o qual teve a nobre visão de promover a integração da classe com os demais elos da cadeia. Também visa gerar um ambiente de debates sobre os principais problemas da produção, bem como de promover o desenvolvimento econômico, fomentar cultura e profissionalismo aos produtores e colaboradores no interior e, finalmente reforçar à sociedade e aos escalões mais elevados e distantes do poder a visão da realidade e da importância deste setor para economia e sociedade.

Hoje, na sua oitava edição, o tema em pauta será “INOVAÇÃO E INTELIGÊNCIA”. Ousado e oportuno, o tema confirma que além de tudo que vem sendo feito e da força desprendida pelo arrozeiro, na sua atividade dentro da porteira, será necessária muita inteligência – termo que na sua raiz significa “ver as coisas como elas realmente são”- para que, diante de mais uma grande crise, quando mais uma vez o setor está sendo colocado à prova, surja alguma ação impactante e pontual em regime de urgência a ser adotada.

No decorrer do tempo, apesar da competência produtiva do arrozeiro, da geração de riqueza que circula ao longo da cadeia, levando em conta a falta de liquidez, o caráter de seriedade e honra que prevalece na grande maioria dos produtores, visando cumprir seus compromissos e na expectativa que as coisas melhorem, forçou o produtor apelar para os agentes financeiros, com isso agravando seu comprometimento, chegando a níveis de exaustão, tornando-o refém do próprio negócio.

O setor produtivo precisa reagir a tudo isso, enfrentar a dura realidade sob pena de sucumbir, a exemplo de outras culturas que deixaram rastros de pobreza ao longo da história, quando toda comunidade acaba pagando a conta de forma indireta. Tomando como exemplo Alegrete, onde o arroz representa em torno de 60% do PIB, certamente comprometerá os fornecedores, o nível de emprego e a economia de forma geral.

Mais uma vez é hora de revelar esta dura realidade, antes que seja tarde para muitos produtores e, somente levando em conta estes aspectos, a 8ª SEMANA ARROZEIRA não fugirá dos seus propósitos e estará atendendo a razão primeira da existência da Associação dos Arrozeiros de Alegrete, que é prioritariamente, a de promover políticas que garantam rentabilidade ao produtor.

Sem isso, não há razão para outras ações.

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