A prioridade é o mercado interno
Volume das exportações deverá ser menor em 2009
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A indústria orizícola no Rio Grande do Sul já trabalha com a expectativa de exportar menos em 2009. Com a produção brasileira avaliada em 12,4 milhões de toneladas, conforme o levantamento de fevereiro da Conab, o país vai precisar comprar mais do que vender no mercado internacional para suprir sua necessidade de abastecimento sem dificuldades. Isso somado à incerteza gerada pela crise financeira mundial deverá mobilizar o setor a apostar suas fichas no mercado doméstico para não deixar faltar arroz no prato do brasileiro.
Na avaliação do presidente do Sindicato das Indústrias de Arroz de Pelotas (Sindapel), Jairton Rosso, as empresas trabalham com o objetivo de manter o mesmo volume de exportações obtido em 2008, mas reconhece que será muito difícil em vista da atual conjuntura internacional. “O ano de 2008 foi excepcional para a cadeia produtiva como um todo. Indústrias que eram ociosas retomaram sua capacidade de produção com o programa de exportação”, observa.
Para o dirigente, o bom momento experimentado em 2008 mostrou que as indústrias estavam – e estão – estruturadas para atender as mais diferentes clientelas internacionais. “Além da disponibilidade das empresas tivemos uma safra cheia, um produto de qualidade e a vantagem de estarmos próximos do Porto de Rio Grande. O resultado da união destes fatores é que os países compradores aprovaram o arroz parboilizado brasileiro, especialmente o do RS, que parece ser o melhor produto de exportação”, destaca Rosso, que também é vice-presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Arroz Parboilizado (Abiap) e membro efetivo da Câmara Setorial do Arroz.
É esta mesma versatilidade demonstrada pelo setor que na visão de Jairton Rosso deverá fazer a diferença no ano de 2009. “Teremos desafios pela frente, pois ainda é cedo para avaliar o impacto da seca no RS e na Argentina ou das cheias em Santa Catarina, porque este arroz ainda nem chegou ao mercado. Em abril é que teremos melhores condições de avaliar corretamente todos estes aspectos”, argumenta o presidente do Sindapel. Mesmo assim reforça que o abastecimento do mercado doméstico estará garantido.
A opinião é compartilhada pelo presidente do Sindicato das Indústrias do Arroz do Rio Grande do Sul (Sindarroz-RS), Élio Coradini, que previa uma safra menor em relação à anterior em função das condições climáticas pouco favoráveis às lavouras no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. “Com uma possível redução na produção, que acabou não sendo confirmada pelo levantamento da Conab, a indústria teria menos matéria-prima. Ainda assim é preciso levar em conta que a disponibilidade da Argentina, do Uruguai e do Paraguai para exportar será menor em 2009. Em outras palavras: a prioridade da indústria brasileira será para abastecer o mercado interno”.
Momento prematuro
Para o presidente da Abiap, Alfredo Treichel, o momento ainda é prematuro para a indústria fazer cálculos para exportar, mas reconhece que é preciso manter os canais abertos porque o produto brasileiro, sobretudo o arroz parboilizado, vem obtendo uma aceitação muito boa no mercado internacional. “Acredito que vamos continuar exportando, mas não o mesmo volume do ano passado porque foi um espaço conquistado com muito sacrifício. Por outro lado, vamos importar mais, então não será tão parelho como em 2008”, prevê.
Treichel estima que o volume da produção em 2009, somado aos estoques do Governo (o mais baixo dos últimos anos) e às importações, deva fechar o consumo doméstico. Já em relação à crise mundial e seus possíveis reflexos no país sugere que o setor tenha cautela em relação a novos investimentos porque na prática a indústria orizícola já mostrou ter versatilidade de sobra para superar os desafios.