A profissionalização do produtor nunca foi tão necessária
Planeta Arroz – A Associação dos Arrozeiros de Alegrete, desde sua fundação, em dezembro de 1985, tem se caracterizado por diretorias empenhadas na defesa da classe orizícola. O senhor poderia nos falar sobre sua formação e que razões o levaram a atuar em prol dos interesses do produtor de arroz?
Henrique Dornelles – Sou engenheiro mecânico, formado em Porto Alegre. O início de minha carreira profissional foi no setor automotivo, da qual tenho boas lembranças, principalmente dos colegas de trabalho que ainda mantenho contato. Meu retorno a Alegrete ocorreu em consequência da fragilidade da saúde de meu pai. Apesar da liderança sempre ter sido uma característica pessoal, não possuía ambições maiores. Entretanto, não costumo omitir-me de ocupar posições de responsabilidade, como a presidência da Associação dos Arrozeiros de Alegrete.
Planeta Arroz – O senhor defende que o setor precisa quebrar certos paradigmas na forma de atuar frente aos desafios do mercado. Na sua visão, qual a importância de se formar novas lideranças para defender os pleitos dos produtores, sobretudo nas negociações com o governo?
Henrique Dornelles – Acredito que o setor possui certos vícios ou problemas que precisam ser encarados. Para isto, muitas vezes é necessário mudar uma geração para que paradigmas sejam quebrados. Eu já possuía esta visão, adquirida principalmente através de leituras, mas quando comecei a me relacionar com as lideranças dos arrozeiros de Alegrete percebi o quanto eu estava correto em minhas convicções. Nossa associação possui a tradição de não reeleger presidentes. Isto se deve ao pensamento dos líderes influentes da entidade, ou seja, promover a formação de novas personalidades com qualidade, capazes de negociar profissionalmente assuntos do setor em qualquer nível.
Planeta Arroz – Qual deve ser a postura do produtor rural, de arroz principalmente, frente a estes novos tempos?
Henrique Dornelles – Produtividade não garante rentabilidade. Principalmente o arrozeiro, que deve ser um exímio administrador. Enquanto a soja desembolsa R$1.200,00 por hectare, o arroz necessita três vezes mais, sem falar nos investimentos. E quando o assunto é comercialização, os problemas somente aumentam. Portanto, a profissionalização do produtor nunca foi tão necessária.
Planeta Arroz – A 5ª Semana Arrozeira de Alegrete, realizada entre 27 de maio e 2 de junho, discutiu muito questões como gestão, economia e liderança. Que avaliação o senhor faz do evento?
Henrique Dornelles – A 5ª Semana Arrozeira de Alegrete consolidou-se como o principal evento do setor na Fronteira Oeste. Isto deve-se à vasta programação, inclusive no interior do município, onde, envolvendo os colaboradores da lavoura, conseguiu aliar prazer, informação, política, treinamento e lazer em um único momento. Um dos diferenciais da Semana Arrozeira de Alegrete em relação a outros eventos do segmento é o seu enfoque na qualificação de recursos humanos e a inserção de novas tecnologias. Este trabalho, no entanto, não se limita a proprietários e colaboradores, mas abrange as famílias do meio rural e toda a comunidade. Certamente, é o único neste formato no Brasil.
Planeta Arroz – Sua região é a maior produtora de arroz do RS. É também a que registra produtividades mais altas no estado. Como o senhor avalia o desempenho da colheita na Fronteira Oeste? Foi a região que menos reduziu área plantada nesta safra? Os preços, na média de R$ 27,00, estão remunerando bem o produtor?
Henrique Dornelles – A Fronteira Oeste foi a região que menos reduziu área plantada nesta safra e produziu o dobro do volume de arroz da segunda região maior produtora. Isto se deve principalmente à recuperação das barragens e ao fato da região não possuir solos e clima adequados para o cultivo, por exemplo, da soja. Infelizmente, o preço de R$ 27,00 não remunera bem o produtor, o mínimo seria R$ 30,00.
Planeta Arroz – Nos últimos 10 anos, o produtor da Fronteira Oeste, apesar de extremamente eficiente, vem acumulando prejuízos que podem colocar em risco a manutenção da atividade produtiva. Como o senhor avalia a situação este ano e a atuação dos governos federal e estadual frente às demandas do setor?
Henrique Dornelles – Não posso afirmar que o governo federal não vem atuando. Acredito que o enfoque não seja o mais adequado. Como exemplo, o PEP é o único mecanismo de mercado que favorece o escoamento, todos os outros são para estocar. Em consequência disto, o RS vem vendendo cada vez menos para o mercado doméstico. Para contribuir, no recente pacote de desoneração do atual governo do estado o arroz não foi contemplado. Para comentário, no olho da crise do ano passado, ouvi de um importante chefe de estado que no “setor do arroz não havia solidariedade”. Será que esta mesma pessoa seria capaz de repetir esta afirmação?
Planeta Arroz – O ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro, ao assumir a pasta, disse que ia mudar bastante o perfil da relação do governo com o arroz, fazendo valer com medidas estruturantes. O senhor tem observado isso na prática?
Henrique Dornelles – O ministro Mendes realmente tem mostrado que possui uma identidade muito íntima com o setor. Entretanto, as questões estruturais não têm evoluído. Acredito que uma das causas seja o staff um tanto reduzido. Também penso que, realmente, o grande protagonista para a solução, encaminhamento e alternativas dos problemas estruturais da lavoura é o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga).
Planeta Arroz – O senhor tem acompanhado as discussões em torno do novo Código Florestal Brasileiro?
Henrique Dornelles – Francamente, tenho acompanhado pouco este assunto, principalmente por confiar no trabalho que está sendo executado pela Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), especificamente no Eduardo Condorelli e no deputado federal Luis Carlos Heinze.
Planeta Arroz – Como o senhor avalia a importância das exportações de arroz da Fronteira Oeste para a Nicarágua e que impacto isso tem para a região?
Henrique Dornelles – A Nicarágua é um novo cliente, uma nova alternativa de comercialização. Pessoalmente, realizei a venda para este destino com tolerâncias de impureza, umidade e defeitos condizentes, o que normalmente seria bem mais ajustado por parte das nossas indústrias. Para a Fronteira Oeste isto foi muito positivo, porque estamos escoando parte da nossa grande produção.
Planeta Arroz – Como o senhor avalia o trabalho realizado pela CPI do Arroz?
Henrique Dornelles – Foi um trabalho detalhado e abrangente. Os principais pontos foram aprofundados e fiquei muito satisfeito com os encaminhamentos. Mas os resultados dependem de outras circunstâncias. Pessoalmente, agradeço ao deputado estadual Jorge Pozzobon pela coragem e atitude.