A safra brasileira e suas perspectivas
Regina Célia Gonçalves Santos (*).
Observa-se no quadro I que para o ano-safra 2007/2008 a oferta total está estimada em 14.582.300 toneladas e a demanda em 13,5 milhões de toneladas, resultando no estoque final de 1.082.300 toneladas. Para a próxima campanha projeta-se que serão produzidas 12.356.900 toneladas (no ponto médio), resultando na oferta de 14.439.200 toneladas para o consumo total mantido nos mesmos níveis do presente ano. O estoque final deverá resultar em 1.139.200 toneladas, portanto próximo da estimativa para a presente safra, mas um dos menores dos últimos anos.
Representado no quadro II, no Rio Grande do Sul, mesmo com os pequenos problemas ocorridos em sua implantação, a cultura se desenvolve em ritmo satisfatório e a expectativa é de que a produção gaúcha deverá ser da ordem de 7,6 milhões de toneladas.
Em Santa Catarina a colheita se encontra em fase inicial. As enchentes verificadas no mês de novembro de 2008, aliadas ao surgimento de doenças, provocaram perdas importantes na produtividade.
Com o bom desempenho da produtividade nas principais regiões produtoras, o Brasil deverá colher 12.356.900 toneladas de arroz na safra 2008/2009, representando assim um aumento de 2,5% em relação ao volume produzido na safra passada.
O ritmo de negociação no mercado de arroz ainda segue lento. Depois de atingir o pico em outubro de 2008, com a saca cotada a R$ 35,94 no Rio Grande do Sul, as cotações baixaram em resposta à intervenção governa-mental na ponta compradora. Em novembro a média recuou para R$ 32,97 e em dezembro para R$ 31,82.
Em janeiro a média foi de R$ 32,22. Com a suspensão das vendas dos estoques públicos a partir de novembro, as cotações estão mais comportadas e a quantidade ofertada está atendendo à demanda.
A valorização do produto no mercado internacional abriu opor-tunidade para o Brasil, que desde a safra 2004/2005 já vinha buscando novos mercados, ganhando assim a possibilidade de ampliar suas vendas externas.
Para o presente ano-safra a Conab estima que serão exportadas 700 mil toneladas de arroz base casca, sendo que no período de março a outubro de 2008 já foram embarcadas 598,8 mil toneladas, correspondendo a 85,54% do projetado, e o que é mais importante, 57,13% em arroz beneficiado.
Analisando o fluxo mensal nota-se que boa parte dos embarques vem ocorrendo nos últimos meses. Em julho foram exportadas 95,7 mil toneladas, em agosto obteve-se o recorde com 122,4 mil toneladas, em setembro mais 83,6 mil toneladas, com um pequeno recuo, mas em outubro o volume embarcado também foi importante, com 117 mil toneladas. Para o próximo ano não é esperado o desempenho das exportações nos mesmos níveis dos atuais, já que é pouco provável que os preços internacionais repitam os bons valores deste ano. Desta feita, a previsão é de que as exportações atinjam cerca de 400 mil toneladas.
Dos fatos expostos é necessário levar em conta que no início da safra tudo indicava normalidade no mercado, apresentando um cenário em que o Governo Federal deveria executar suas políticas de formação de estoques e apoio à comercialização em volumes significativos, como vinha ocorrendo nas três últimas safras. Entretanto, em razão da súbita elevação dos preços internacionais as cotações internas também foram valorizadas e começaram um processo de elevação bem substancial.
Estoques – Os estoques públicos são da ordem de 629,4 mil toneladas e certamente boa parte irá compor o estoque de passagem para a próxima safra. Deve-se ter em mente que esse volume de produto não é bom para a formação de preços da próxima safra, pois pode agir como depressor. É necessário que se leve em conta que na próxima safra não deverão se repetir os bons preços no mercado interna-cional. Na verdade a Conab sempre trabalhou com a ideia de que os preços médios deveriam ficar entre os valores observados atualmente e aqueles da safra anterior; algo entre 600 e 650 dólares por tonelada para o arroz tailandês.
Neste fato há de se analisar que a recente situação financeira mundial está obrigando a muitos ajustes e é possível que os preços internacionais venham a reduzir-se mais do que o esperado. Se for este o caso e os preços internacionais caírem menos do que 450 dólares por tonelada, com o câmbio próximo a R$ 2,00 por dólar, isto fará com que o arroz nacional fique gravoso, dificultando as exportações e consequentemente viabilizando as importações.
Nesse caso é possível que os preços internos venham a reduzir-se abaixo dos preços mínimos oficiais, especialmente no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, levando a que o Governo Federal implemente seus programas de apoio à comercialização e formação de estoques. Neste sentido, já foi prevista no Plano Safra 2008/2009 a possibilidade de aquisição de até 1,6 milhão de toneladas de arroz.
Da mesma forma, para os programas de apoio à comercialização estão alocados recursos no orçamento para 2009 em volume que dará para fazer frente às necessidades da safra de arroz. De tudo, pode ser esperado um ano comercial mais difícil do que o atual, mas certamente melhor que os três últimos que o antecederam.
(*) Administradora de empresas, técnica de planejamento e especialista no mercado de arroz. E-mail: regina.santos@conab.gov.br