A segunda Revolução Verde

 A segunda Revolução Verde

Zeigler (de camisa branca): impacto profundo em milhões de agricultores

Diretor-geral do Irri, Bob Zeigler, vem ao Brasil em fevereiro. E defende que
o arroz mundial
vive novo salto tecnológico
.

A segunda Revolução Verde em arroz está em curso há pelo menos seis anos, avalia Robert (Bob) Zeigler, diretor-geral do Instituto Internacional de Pesquisa do Arroz (Irri), sediado nas Filipinas. Esta segunda Revolução Verde, ou RV2.0, busca beneficiar as áreas de cultivo de arroz mais desfavoráveis no mundo e não deixar nenhum agricultor fora do processo evolutivo. Zeigler abordou o tema para cerca de 1.500 participantes de 69 países na cerimônia do 4º Congresso Internacional do Arroz (IRC2014), em Bangcoc, na Tailândia, o maior encontro da ciência e da indústria de arroz do mundo, e tem reiterado essa posição.

Em sua mensagem de abertura, o chefe do principal centro de pesquisas do mundo para pesquisa de arroz informou que “já existe um impacto profundo em vários milhões de agricultores em todo o mundo que tenham adotado uma das primeiras tecnologias da segunda Revolução Verde, que é o arroz tolerante a inundações. Muitos desses agricultores pertencem aos mais pobres, que, por várias razões, não foram alcançados plenamente pela primeira Revolução Verde em arroz”, apontou Zeigler.

Ele se refere aos produtores de regiões marginais, especialmente da Ásia, da África e de alguns países da América do Sul, como um foco adicional de pesquisa para o Irri. Para exemplificar a situação, Robert Zeigler contou a história do senhor Asha Ram Pal, um fazendeiro pobre do estado indiano de Uttar Pradesh que semeia um hectare de terra em uma área hostil à cultura do arroz. Em 2008, ignorando o conselho de seus vizinhos, ele tomou a decisão de não replantar sua safra de arroz depois que seu campo havia ficado submerso por 17 dias por duas inundações seguidas.

A variedade que o senhor Pal havia plantado era uma nova cultivar, com o gene de tolerância SUB1 para inundação. A lavoura recuperou-se, pois a variedade está adaptada para isso, e pôde produzir 4,5 toneladas de média por hectare. “Desde então, variedades de arroz SUB1 se espalharam como fogo na Índia Oriental e em outras regiões onde as inundações são um problema perene para os arrozeiros”, disse ele. De acordo com o pesquisador, variedades tolerantes aos estresses hídricos, por excesso ou falta, alguns minerais, pragas, doenças e invasoras são parte deste processo inovador, seja por cruzamento tradicional ou com o uso de biotecnologia ou modificação genética. “Finalmente, muitas inovações estão deixando os laboratórios para os campos experimentais e o objetivo maior é alimentar o mundo. Mais e melhor”, avisa.

FIQUE DE OLHO
Robert Zeigler virá ao Brasil em fevereiro. Será palestrante inaugural da XII Conferência Internacional do Arroz para a América Latina e o Caribe no dia 23 de fevereiro, em Porto Alegre (RS). Apresentará o tema “Visão global para pesquisa de arroz em 2035”. Mais informações sobre o evento em www.planetaarroz.com.br.

Variedades modernas deram origem

A primeira Revolução Verde em arroz, com o advento das variedades modernas, Zeigler cita que começou em julho de 1963, quando o criador do Irri, Peter Jennings, encontrou as plantas de segunda geração de arroz (F2) a partir de um conjunto de 38 cruzamentos envolvendo variedades de arroz-anão de Taiwan. Gerações posteriores desta seleção resultaram na semianã IR8 e todas as que a sucederam e nortearam o desenvolvimento genético em todas as partes do mundo. “45 anos entre o início da RV1.0 e da RV2.0 é um tempo muito longo”, reconhece o cientista. “Mas muito precisou ser feito. A RV2.0 é cientificamente mais rica e complexa, é algo que realmente nos deixa animados, pois será frutífera e mais rápida, especialmente em ambientes de estresse hídrico”, prevê.

O diretor-geral do Irri destaca um leque muito variado de problemas, que se pensava ser absolutamente insuperável, que os investigadores podem agora encontrar soluções mais rapidamente usando ferramentas científicas que surgem de “revoluções paralelas” de alta ciência em genética, biologia molecular e fisiologia vegetal. Segundo Robert Zeigler, ao longo dos próximos 10 a 20 anos a atual revolução resultará na terceira Revolução Verde, com o aproveitamento das oportunidades de produção sustentável de arroz de forma que “nem imaginamos”.

FUTURO

Em outra previsão ousada, Robert Zeigler prevê o início da terceira Revolução Verde (RV3.0) para as proximidades do ano de 2030, quando os agricultores começarão a plantar as variedades C4, mais robustas, fortes e produtivas, fixadoras de nitrogênio e que produzirão um arroz ainda mais nutritivo, ao agrado dos consumidores. “Com o peso da segunda Revolução Verde em arroz, a terceira será uma safra de jovens cientistas vibrantes e inteligentes, ligados ao Irri através da Parceria Ciência Arroz Global (GRiSP), que espalhou-se por toda a Ásia, África e América Latina, muitos dos quais participaram do seu primeiro Congresso Internacional do Arroz agora e têm muito a oferecer em campos amplos da ciência para esta cultura”, disse Zeigler, ele mesmo, um fitopatologista que se destacou muito jovem com trabalhos em vários grupos de plantas.

Mais resistentes: variedades vão incorporar tolerâncias a estresses climáticos

FALOU E DISSE
“O futuro da ciência do arroz está em jogo. Sem sangue novo nos campos experimentais e laboratórios, as perspectivas para a segunda Revolução Verde não seriam tão boas e não teríamos o mesmo entusiasmo para uma terceira Revolução Verde”.
Robert Zeigler, diretor-geral do Irri

Na cartola
Características das variedades que a pesquisa deve transferir dos
laboratórios para os campos

PRIMEIRA etapa – Variedades mais produtivas, com diferenciação de grãos e ciclos mais curtos, com menor dependência de água e mais rústicas e adaptáveis às diferentes regiões e ao câmbio climático (aquecimento global). Destacam-se vantagens como as tolerâncias a seca, frio, calor, submersão prolongada, sal, solos pobres, alguns metais (ferro, alumínio), insetos, herbicidas e doenças fúngicas, bacterianas e virais.

SEGUNDA etapa – Variedades dirigidas a nichos de mercados, combinando diversas tolerâncias e características agronômicas desejáveis e de consumo, como o aporte de nutrientes, sabor, cozimento, aroma, óleos mais saudáveis e proteínas, entre outros. Também servirão como “biofábricas” e para fins terapêuticos, comportando vitaminas – como a pró-vitamina A do golden rice para regiões de grande deficiência, que pode causar a cegueira em crianças – minerais, enzimas, vacinas e antibióticos.

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