A última novidade nem sempre é o melhor
Pré-germinado e transplante de muda são reprovados nas várzeas do Agudo .
Nem pré-germinado nem transplante de mudas. As duas tecnologias recentemente introduzidas na produção orizícola no Rio Grande do Sul estão sendo desaprovadas pelo produtor Paulo Adolfo Prochnow, da Várzea do Agudo, na cidade de Agudo, Depressão Central do Rio Grande do Sul. Ele planta, em parceria com o sogro Verno Wilke, 80 hectares de arroz com financiamento parcial do Sicredi. Líder comunitário, conselheiro de cooperativas e do Instituto Rio-grandense do Arroz (Irga), Prochnow é considerado um produtor de ponta.
Prochnow se destaca em sua comunidade como um agricultor que sempre procura novas tecnologias para melhorar sua lavoura. Por uma série de problemas de manejo na introdução de novas práticas e sistemas, sua produtividade média caiu de 7,5 mil kg/ha para 6,5 mil kg/ha nos últimos anos. A lavoura 1999/2000 da parceria foi formada 70% no sistema convencional, 25% com transplante de mudas e 5% no pré-germinado. As variedades utilizadas são Irga 417, 418 e 419.
Há dois anos ele vinha insistindo com o pré-germinado em até 50%. "Tivemos muitos problemas de manejo e apareceram muitas invasoras, inclusive aquáticas, realizamos três aplicações de herbicidas e o custo tornou-se muito alto, inviabilizando a continuidade do sistema", explicou Prochnow. Segundo ele, o custo com herbicidas beirou os R$ 150,00 por hectare.
A partir deste momento houve a decisão de reduzir muito a área com pré-germinado até dominá-lo. "Estamos pretendendo adotá-lo para controlar o arroz vermelho e alternar o sistema, que é uma prática que conserva o solo, controla invasoras e mantém a produtividade alta", frisou Prochnow.
Com todos estes reveses, Prochnow e seu sogro ainda conseguiram colher oito mil quilos por hectare na lavoura da última safra. Onde houve problemas de manejo a média baixou para 6,5 mil kg/ha.
Questão básica
Qual é o problema do transplante?
A região colonial da Depressão Central gaúcha é recordista em produtividade. A média é alta, beirando os sete mil quilos por hectare. É também o berço da introdução do sistema de plantio por transplante de mudas, uma tecnologia importada do Japão que muitos produtores e técnicos acreditam que poderá revolucionar a produção de sementes de qualidade no estado e reduzir o custo de produção da lavoura orizícola.
O transplante reduz muito o risco com arroz vermelho. "É verdade que se gasta menos com semente, mas a redução de custo que todos esperavam, no entanto, não acontece", afirma Paulo Adolfo Prochnow. "O aumento dos custos com mão-de-obra para implantação do sistema e manutenção do viveiro de mudas é muito grande e acaba não compensando o que reduz na semente", acrescentou.
Pela experiência que teve com o sistema, Prochnow acredita que a prática é mais recomendada para quem produz de 10 a 20 hectares e se dedica a produzir sementes com mão-de-obra familiar. "O sistema assegura altíssima qualidade à semente, mas não é fácil de implantar, tem custos altos e exige muita mão-de-obra e atenção", avisou. O produtor e seu sogro, Verno Wilke, ainda pretendem produzir sementes de qualidade, mas ainda não sabem quando vão chegar lá. "Por enquanto vamos trabalhar em área de experiência, pois pelo que investi no transplante de mudas era para estar com uma lavoura-padrão. E não estou", queixa-se. A máquina transplantadeira de mudas só é fabricada no Japão e na China e custa muito caro para um só produtor.
Produtores inventam muito
O agrônomo do Irga na região, Roberto Bento da Silva, destacou que o problema maior da não-adaptação de novos sistemas é que todos os produtores acabam inventando alguma coisa além ou aquém do que é recomendado pela pesquisa. "São quadros grandes demais, lavouras desniveladas, desobediência ao prazo de 20 dias de lâmina d’água na área e a invenção de coisas que não existem no manejo. Estas falhas comprometem o sistema e, por conseqüência, o resultado da lavoura", frisou Silva
Falou & disse
"O sistema de transplante de mudas ainda está em fase de pesquisa pelo Irga e com o produtor, a campo. A deficiência é que o Irga ainda não tem uma orientação muito clara sobre o sistema. Quando a gente adota uma nova tecnologia espera que ela dê resultado imediato. Estamos descobrindo que nem sempre é assim"
Paulo Prochnow, produtor da Várzea do Agudo e conselheiro do Irga
Grão
Informação prioritária
Além da transplantadeira, o viveiro de mudas, com 350 metros quadrados, piso em alvenaria, revestimento de tela e caixas de madeira, pesa muito no orçamento do produtor dentro do sistema de transplante de mudas. Outra característica negativa é que pelo sistema há um alto custo com mão-de-obra. "Aqui foram necessários sete homens para plantar 21 hectares e levamos, em média, seis dias para plantar 10 hectares", explicou.
Há quatro anos, 11 produtores da região de Restinga Seca se organizaram em uma associação e realizaram a primeira importação. Paulo Prochnow era o único arrozeiro de Agudo a integrar o grupo. Depois organizou um grupo com cinco produtores de Agudo e entrou num pacote de importações do Irga, em 98. O custo da máquina é de 17 mil dólares. Com a alta cotação do dólar, tornou-se inviável o negócio. "No pacote do Irga nós importamos a máquina por R$ 19 mil, o dólar estava quase um por um e ainda conseguimos isenções de taxas e impostos", afirmou. Ele ainda não tirou o custo do equipamento na lavoura e nem tem estimativa de quanto tempo isso levará para acontecer.