A volta por cima do terras altas

 A volta por cima do terras altas

Nas mãos dos pesquisadores da Embrapa Arroz e Feijão surgem as novas cultivares para o Centro-oeste

Do declínio ao desafio e, depois, à recuperação.

O arroz de terras altas cultivado nas regiões do Brasil Central e Norte vinha experimentando um forte declínio em sua área de plantio e deixando de ser uma importante atividade comercial da região. Podem ser destacadas duas razões principais: variedades de porte alto, acamadoras e de baixa capacidade de resposta ao uso de tecnologia; perda de competitividade do produto colhido por problemas de qualidade, com fortes reflexos em seu preço e no estímulo ao plantio. Esses problemas se transformaram em grandes desafios ao programa de melhoramento genético do arroz de terras altas da Embrapa Arroz e Feijão. Hoje, a sociedade já percebe o reflexo dos resultados obtidos. 

As variedades que são atualmente colocadas no mercado têm porte baixo e folhas eretas, com maior eficiência fisiológica e mais responsivas ao uso de tecnologias, isto é, produzem tanto mais que as variedades tradicionais quanto maior for o nível tecnológico e de produtividade. Produtividades entre cinco e seis toneladas, junto aos produtores, têm sido a cada dia mais freqüentes. Nos campos experimentais, produtividades de até oito toneladas são a cada ano mais comuns.

Qualidade no foco

A falta de qualidade de grãos, na região de terras altas, tornou-se um problema insustentável. O produto colhido era de grãos “longos”, hoje de baixa aceitação, proveniente de uma grande diversidade de variedades locais e melhoradas, muito diferenciadas quanto aos aspectos da qualidade, tanto industrial, comercial quanto culinária. A dificuldade de abastecimento com produtos de qualidade similar limitava a criação de marcas comerciais do produto, um desastre comercial quando se considera que 70% dos consumidores compram a marca e não o produto. 

Com essas características, o cereal chegou a valer, no mercado de Goiânia, a metade do preço do “longo fino” de outras regiões. Atualmente, todas as variedades de arroz de terras altas em processo de liberação para o mercado são de grão longo fino e o preço recebido é similar ao pago aos produtores de outras regiões, o que significou um elevado salto nos preços recebidos pelos produtores. 

O arroz de terras altas que estava ameaçado de desaparecer como opção de cultivo comercial retorna como um importante produto, já com crescimento de área plantada. A expectativa da Embrapa Arroz e Feijão e de seus parceiros é que tecnologias como variedades melhoradas possam permitir a continuidade do crescimento da produtividade brasileira e aumento da oferta de alimento para o seu povo. Fartura de alimento induz à redução de seus preços e à maior facilidade de acesso da população a ele, especialmente pelas camadas da população de mais baixa renda.

Características de algumas cultivares da Embrapa 

1. BRS PRIMAVERA

Ciclo precoce (105 dias) nas condições de Goiânia. Boa tolerância às doenças, de maneira geral, excetuando-se a brusone, em relação à qual se recomenda o uso das práticas de controle. Apresentando bons resultados em diversas situações, tais como: sistema barreirão (plantio consorciado com pastagem), plantio direto em área de soja e até plantio em safrinha. Cultivar com excelente qualidade culinária. Em termos de rendimento de grãos inteiros, pode-se obter bons resultados com a colheita na época correta, com a umidade dos grãos entre 20% e 25%.

Pontos fortes da cultivar: ampla adaptação e excelente qualidade culinária.

2. BRS TALENTO

Possui na base genética uma forte contribuição de ancestrais altamente adaptados a essas condições. Ciclo semiprecoce nas condições de Goiânia (115 dias). Resistente à escaldadura e à mancha de grãos e moderadamente à brusone. Em 198 ensaios conduzidos nas regiões centro-oeste, meio-norte e norte do Brasil, a BRS Talento apresentou estimativas de rendimento médio anual superior às das testemunhas mais produtivas. Seu rendimento de grãos inteiros, quando colhida com 20% a 22%, pode superar ao obtido para a BRS Primavera. Seus grãos são “longo fino”, de boa qualidade culinária após um período de descanso (60 dias).

Pontos fortes da cultivar: ampla adaptação, alto potencial de produção e tolerância ao acamamento.

3. BRS SOBERANA

Cultivar para plantio nos estados do Mato Grosso e Goiás. Ciclo precoce (105 dias) nas condições de Goiânia. Mantém boa resistência à escaldadura e à mancha de grãos. Com relação à brusone, se mostra tolerante às raças normalmente encontradas infectando a cultivar Primavera, mas é sensível a outras. Excelente qualidade culinária e rendimento de grãos inteiros, no beneficiamento, superior ao da BRS Primavera. Seus grãos são confortavelmente classificados como “longo fino” e translúcidos.

Pontos fortes da cultivar: qualidade culinária e industrial de seus grãos.

4. BRS AROMA

O arroz cultivado no Brasil, ao ser cozido é pouco perceptível ao olfato, a não ser pelos condimentos agregados no preparo. Entretanto, em outros países, como Índia e Tailândia, muitas variedades apresentam perfumes típicos. No Brasil, o interesse por este tipo de arroz é ainda muito pequeno, em razão do desconhecimento da maioria dos consumidores sobre sua existência.
A BRS Aroma é uma cultivar com melhor desempenho na região do Brasil Central, onde apresenta potencial produtivo similar ao da BRS Primavera. Possui ciclo precoce (110 dias). Destaca-se pelo desempenho frente à brusone, sendo mais resistente que a BRS Primavera. Possui grãos classificados como “longo fino”, sendo muito similar à BRS Primavera quanto às qualidades culinárias e industriais, exigente em relação ao ponto de colheita.

Pontos fortes da cultivar: grãos aromáticos.

5. BRS CURINGA

De alta produtividade e capaz de responder, com produção de grãos, aos investimentos em tecnologia. Ciclo semiprecoce (115 dias) nas condições de Goiânia. Nos ensaios e nos campos de produção de semente básica e fiscalizada destaca-se tolerância à brusone maior do que em outras cultivares. A BRSMG Curinga possui plantas de porte baixo, com folhas eretas e com boa capacidade de perfilhamento. Em ensaios realizados em condições de várzeas úmidas mostrou também alta produtividade. Seus grãos são “longo fino”, de boa qualidade culinária, especialmente em torno de 60 dias após a colheita. Pode apresentar nível de gessamento de grãos superior ao observado na cultivar BRS Primavera, entretanto sendo superior a ela em rendimento de grãos inteiros na indústria de beneficiamento.

Pontos fortes da cultivar: alta produtividade, estabilidade de produção, resistência ao acamamento e tolerância às doenças de modo geral.

6. BRS BONANÇA

Possui ciclo semiprecoce (112 dias). Mantém tolerância estável à brusone, embora sensível a ela. Geralmente os danos têm sido baixos. Resiste bem à escaldadura e mancha de grãos em condições de campo, geralmente dispensando medidas adicionais de controle. Possui porte baixo, folhas eretas, muito tolerante ao acamamento, altamente responsiva ao uso de tecnologia. Rústica, suporta os veranicos com maior estabilidade que as demais cultivares. Seus grãos têm dimensões muito próximas ao limiar entre as classes “longo” e “longo fino”, e por isso ocorrem freqüentes problemas de enquadramento em classes. Possui boa qualidade culinária após um período (60 dias) de repouso de seus grãos e na indústria apresenta um alto e estável rendimento de grãos inteiros.

Pontos fortes da cultivar: alta produtividade, resistência ao acamamento, qualidade industrial dos grãos e tolerância às doenças de modo geral. 

Fonte: Embrapa Arroz e Feijão

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