Acidentes e mortes em silos de grãos no Brasil

 Acidentes e mortes em silos de grãos no Brasil

Autoria: Bruno Santos – Eng. Agrícola e Ambiental (UFV), Pós-graduado em Georreferenciamento Rural, especialista em perícias e avaliações e e perito judicial.

Os silos têm grande importância no armazenamento de grãos no Brasil. A safra 2020/2021 de grãos deve alcançar 268,3 milhões de toneladas, ou 4,4% (11,4 milhões de toneladas) superior ao obtido em 2019/2020. Os dados fazem parte do 5º levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab)

Com o aumento da colheita, outro número, não tão animador, também tem crescido no país: a morte de trabalhadores em silos e armazéns de grãos.

O Estado de Mato Grosso é o que mais tem registrado morte de pessoas após acidentes de trabalho em silos que armazenam os grãos. As cidades de Sorriso, que é a maior produtora de grãos do Brasil, e Canarana lideram o ranking nacional.

A seguir vemos as estatística de mortes em armazéns de grãos no Brasil.

Os Estados que tiveram mais casos são os mesmos que lideram o ranking de produção de grãos: Mato Grosso (28), Paraná (20), Rio Grande do Sul (16) e Goiás (9). Houve mortes em 13 Estados distintos, em todas as regiões do país.

Os dados são estarrecedores”, diz Idelberto Muniz de Almeida, professor de Medicina do Trabalho da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Botucatu.

Segundo ele, o levantamento indica que o trabalho em silos está entre as atividades com mais acidentes fatais no país, depois das profissões sujeitas a mortes no trânsito.


FALTA DE ESTATÍSTICAS

Não há estatísticas oficiais precisas sobre mortes em armazéns de grãos no Brasil. Quando trabalhadores sofrem acidentes, cabe ao empregador informar a ocorrência ao Ministério da Previdência Social. No formulário de notificações, porém, não há um código para armazéns agrícolas, englobados pela categoria mais abrangente de “depósitos fixos”.

MORTES POR SUFOCAMENTO

Somente entre 2009 e 2020, foram contabilizadas 125 mortes de trabalhadores soterrados em armazéns de grãos – até novembro de 2020 haviam sido divulgadas oito ocorrências. Além disso, em função da metodologia empregada, é bem provável que os dados estejam subestimados, pois foram coletados em sites de buscas, jornais locais e mídias sociais, em que nem todas as mortes são divulgadas.

Os acidentes vão desde o soterramento a quedas, queimaduras e intoxicação. Alguns fatores estão entre as principais razões: explosões e incêndio no interior das estruturas; exposição a ruído; poeira e agentes biológicos; diferença de nível (altura) da massa de grãos; choque elétrico; postura ergométrica inadequada para o trabalho; níveis incorretos de oxigênio; presença de gases e vapores tóxicos e inflamáveis; tráfego no interior dos estabelecimentos sem os itens recomendáveis de segurança (Equipamento de Proteção Individual, EPI) e dissonância cognitiva.

SOTERRAMENTO É O GRANDE VILÃO

O soterramento representa a morte mais comum em silos, pois, envolto pelo grão, o trabalhador raramente sobrevive. Em outros casos, de menor ocorrência, a estocagem imprópria, assim como a inexistência de medidas técnicas estruturais, dentre outros fatores, levam ao colapso da parede do armazém, com possível soterramento de trabalhadores.

O PORQUÊ DISSO?

As precauções mais importantes na utilização destas estruturas continuam sendo as primárias, como determinação das propriedades de fluxo de cada produto a ser estocado, projeto de fluxo que envolva todas as possibilidades de uso quanto ao tempo e formas de carregamento e descarregamento e conhecimento aprofundado das ações passíveis de ocorrer, além de um protocolo de segurança correto de verificação constante da integridade da estrutura.

CAUSA DOS PROBLEMAS

Como causa inicial, apresentam-se os problemas funcionais que são devidos diretamente ao tipo de fluxo ocorrido no interior do silo. Como exemplo, citam-se a formação de arcos coesivos e efeito tubo cuja ruptura repentina causam enormes sobrecargas na estrutura (Figura 1). Outra falha, agora estrutural é o aparecimento de pressões não previstas em projeto (Figura 2).

FALHA DE PROJETO

Dessa forma, as falhas de projeto e/ou execução estão entre as mais comuns causas de acidentes com silos assim com as pressões exercidas por rajadas de vento, como pode ser visto abaixo (Figura 3). As explosões também se apresentam como umas das diversas causas mais presentes nos acidentes com estas estruturas (Figura 4).

HOSTILIDADE

Antes de mais nada, o interior de um silo é um ambiente hostil. Há necessidade que a pessoa designada para executar qualquer tarefa em seu interior esteja devidamente treinada, orientada quanto aos riscos de acidentes e com boa saúde. Antes de entrar num silo para executar qualquer tarefa, os profissionais de Saúde e Segurança do Trabalho recomendam que:
O operário nunca entre sozinho num silo;
Use equipamento de descida;
Tenha permissão prévia do seu superior;
Verifique se há gases e poeiras perigosas;

ULTIMO ACIDENTE REGISTRADO

No dia 28/02/2021 um silo carregado de grãos, em Erechim-RS, se rompeu. Toneladas de cereais ficaram esparramadas. Um carro que estava perto foi esmagado pela estrutura. As causas ainda não são conhecidas.

NOTA TÉCNICA

Entretanto, conforme informações técnicas “quando se inicia a descarga de um silo é um dos momentos mais críticos. Se começa pelo centro do silo, e o movimento dos grãos descendo vai forçando os outros para as laterais, se tiver alguma parte da estrutura com problema, ou alguma chapa com desgastes, pode acontecer o rompimento”.

Assim sendo, além disso o formato em cunha do trigo e do milho exercem pressão ainda maior sobre as laterais do silo. 

NORMAS REGENTES

Portanto, os silos e os armazéns são construções indispensáveis ao armazenamento da produção agrícola e influem decisivamente na sua qualidade e preço. Entretanto, por sua dimensão e complexidade, podem ser fonte de vários e graves acidentes do trabalho. Por serem os silos locais fechados, enclausurados, perigosos e traiçoeiros, são conhecidos como espaços confinados e são objeto da NR33 – Espaços Confinados, da NBR 14.787 da ABNT e de alguns itens da NR 18 – Construção Civil do MTE.

1 Comentário

  • Gostaria que o sr Bruno, fizesse também algum comentário ou análise, ou estudo, sobre o caso específico do armazenamento de arroz, pois sabemos que pela sua abrasividade a maioria dos casos descritos não se aplicam. Por outro lado os produtores de arroz são obrigados a seguirem as mesmas normas aplicadas ao milho, à soja, trigo, sorgo e outros cereais onde acontecem a maioria dos acidentes descritos, Este site trata de arroz, e esse tipo de ‘análise’ somente dificulta mais ainda a vida do produtor, que se obriga a seguir algumas normas de segurança sem sentido. Me parece que o autor está somente cuidando do negócio dele mesmo.

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