Acordo permite comparar informações sobre germoplasma de todo o planeta
Desde 2007, Embrapa e Crop Trust colaboram para construção de um sistema mundial que garanta a conservação da diversidade genética das culturas utilizadas para alimentação e agricultura.
Nesta sexta-feira (15), o presidente da Embrapa, Maurício Antonio Lopes, assinou, em Washington, acordo de parceria com o Fundo Global para Diversidade de Cultivos (Global Crop DiversityTrust – GCDT). A partir de agora, a Embrapa, que já tinha acesso a dados globais sobre recursos genéticos de diferentes partes do planeta,disponibiliza on line informações sobre recursos genéticos vegetais da Empresa. O cruzamento de informações será feito com a conexão do Banco de Dados Alelo, da Embrapa, e o Portal Genesys, mantido pelo Crop Trust, e permitirá uma busca comparativa mundial de acessos entre diferentes coleções.
O Genesys permite que o interessado possa procurar, ao mesmo tempo, em diversas coleções ao redor do mundo, o material genético mais apropriado para ajudar na solução de um determinado problema da agricultura. Desde 2007, Embrapa e Crop Trust colaboram em atividades para construção de um sistema mundial que garanta a conservação da diversidade genética das culturas utilizadas para alimentação e agricultura.
Defesa por mais recursos para o GCDT
Além da assinatura do documento, Maurício Lopes participou da reunião do Conselho Diretor do GCDT com financiadores e doadores de recursos para fortalecimento do sistema global de conservação. Os membros do conselho executivo desempenham papel fundamental na conscientização de dirigentes públicos e empresários sobre a importância de assegurar a conservação e disponibilidade de diversidade global de culturas para sempre.
O presidente estava acompanhado pelo coordenador do Laboratório Virtual da Embrapa nos Estados Unidos (Labex-EUA), Geraldo Martha, e o encontro contou com a presença de ministros e representantes de diversos países e entidades globais do setor público e privado. Um dos temas foi o financiamento das atividades do GCDT. O presidente da Embrapa é membro do Conselho Diretor do GCDT e foi escalado para falar aos participantes e ajudar a defender o aporte de recursos ao programa mundial de conservação dos recursos genéticos junto a financiadores de todo mundo. Maurício Lopes descreveu a experiência brasileira em pesquisa de recursos genéticos e melhoramento vegetal e explicou como os agricultores de todo o planeta se beneficiaram da existência de bancos de germoplasma do sistema mundial de preservação.
Garantia de segurança alimentar para países pobres
O GCDT é uma organização mundial que busca salvaguardar os recursos genéticos para alimentação e agricultura existentes em bancos de germoplasma públicos, para contínua utilização em programas de melhoramento de plantas ao redor do planeta. A manutenção segura e com qualidade desses recursos genéticos é primordial para a segurança alimentar das populações do planeta, em especial dos países menos desenvolvidos.
Maurício Lopes é integrante do Conselho Executivo do Fundo Global para Diversidade de Cultivos desde 2014. Para ele, "a conservação de recursos genéticos de nossas culturas é fundamental para garantir o lançamento constante de novas variedades capazes de suportar os múltiplos desafios que a produção global de alimentos enfrenta: mudanças graduais de temperatura e precipitação, pragas, doenças e até mesmo desastres naturais.
O GCDT financia alguns dos bancos de germoplasma mais importantes do mundo, onde está depositada muito da diversidade de culturas em perigo de desaparecimento. Ao mesmo tempo, ajuda a desenvolver uma nova geração de tecnologias de informação para fazer a diversidade das culturas do mundo acessível onde quer que seja necessário.
O Brasil, por meio da Embrapa, foi um dos primeiros apoiadores do Fundo Global da Diversidade Agrícola. "O GCDT é fundamental para garantir a disponibilidade permanente de diversidade de culturas para o nosso desenvolvimento sustentável", diz Maurício Lopes.
Apenas em seus primeiros dez anos, o Fundo Global da Diversidade Agrícola regenerou e resgatou cerca de 80.000 variedades de culturas, financiou 75% dos depósitos armazenados com segurança no Silo Global de Sementes de Svalbard (o mais importante do mundo, localizado na Noruega).
Bancos de germoplasma em vários países formam uma rede internacional para intercâmbio de material genético. "Com a Convenção sobre a Diversidade Biológica, aprovada a partir da Rio-92, esforços de conservação e melhoramento passaram a ser organizados legalmente para combater a biopirataria e garantir o reconhecimento do esforço daqueles que ajudaram a conservar a manter os recursos até o presente. Até então, o material genético circulava sem muito controle e passou a atender a uma lógica de reciprocidade apoiada por tratados internacionais", explica Lopes.
Banco Genético em Brasília
A conservação das espécies vegetais de importância alimentar é preocupação da Embrapa desde a sua criação, em 1973. O resultado é que a Empresa possui hoje o maior banco genético vegetal da América Latina, com mais de 120 mil amostras de sementes de cerca de 670 espécies agrícolas de importância socioeconômica conservadas a 20ºC abaixo de zero na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília. Pragas como a ferrugem asiática da soja tiveram grande impacto e foram vencidas rapidamente com a capacidade dos cientistas de transferir características de uma planta para outra. Isto só foi possível porque havia um acervo à disposição para testes.
Ao final da reunião, em Washington, Maurício Lopes afirmou que espera que o Brasil e a Embrapa possam seguir contribuindo cada vez mais para a conservação global da diversidade dos cultivos agrícolas, em benefício da segurança alimentar e da busca de um futuro sustentável.