Agricultor gaúcho deve R$ 9 bilhões
Desde a crise dos anos 90, o campo não devia tanto no RS.
O que há meses os produtores gaúchos alertam nos protestos e gabinetes de Brasília tomou forma ontem. O Banco do Brasil (BB), que concentra a maioria dos financiamentos do setor, divulgou o raio X do endividamento agrícola no Estado.
Desde a crise dos anos 90, o campo não devia tanto no RS. São R$ 9,02 bilhões: R$ 7,32 bilhões entre custeio, investimento e comercialização, e o restante em securitização e Pesa. O estudo está sendo usado pelo governo federal para a formulação do pacote de apoio, prometido para a próxima semana.
Segundo o gerente de agronegócio da superintendência estadual do BB, José Kochhann Sobrinho, R$ 4,08 bilhões vencem em 2006, a maior fatia a partir de junho, após a colheita de boa parte das safras de arroz, soja e milho. A expectativa do BB é manter a inadimplência histórica de 1%, mas Kochhann reconhece que o momento é delicado.
– Se absolutamente nada for feito, não será possível manter a adimplência nos mesmos patamares.
Pelos cálculos do presidente da Farsul, Carlos Sperotto, o endividamento chega a R$ 12 bilhões, somando os bancos privados. Segundo o dirigente, num esforço máximo, o setor conseguiria pagar a metade desse valor e ficaria descapitalizado. O relatório do BB aponta que a venda da safra das principais culturas renderá ao produtor gaúcho algo em torno de R$ 13 bilhões.
Mas, o presidente da Fetag, Ezídio Pinheiro, diz que, nesta conta, ainda é preciso incluir dívidas com fornecedores, comércio e cooperativas. Segundo a Fetag, nos últimos 11 anos, o custo para a aquisição de uma máquina aumentou mais de 100%.
– Em 1995, se precisava de 100 sacas de soja para comprar um trator. Agora, precisaram 210 – destaca.
A Fetag pretende reunir hoje oito mil produtores em Carazinho e Ijuí para brigar por prorrogações de dívidas por seis anos.
– Não adianta empurrar para o ano que vem.
De acordo com o BB, somente no Pronaf, as contas dos pequenos agricultores somam R$ 2,19 bilhões. A federação espera 30 mil participantes para as oito mobilizações previstas.