Água do arroz sai mais limpa do que entra
Pesquisas buscam o potencial poluidor da lavoura
.
A cultura do arroz irrigado é considerada pela legislação ambiental uma atividade altamente poluente. A base científica que levou a esta conclusão, no entanto, é desconhecida dos pesquisadores. Num momento em que a preocupação com o meio ambiente torna-se uma tendência mundial com implicações para o setor agrícola, trabalhos de pesquisa começam a ser realizados com o objetivo de identificar o verdadeiro impacto negativo ao ecossistema provocado pela lavoura arrozeira. Trabalhos estes que demonstram, preliminarmente, que a realidade é bem diferente do que está escrito nas leis.
Os dados iniciais coletados pelos pesquisadores indicam que o nível de poluição da lavoura orizícola é baixo, longe de alcançar a condição de altamente poluente. Um destes trabalhos é coordenado pela engenheira agrônoma Vera Mussoi Macedo, pesquisadora da área de solos e água da Divisão de Pesquisas do Irga. Na safra 1999/2000, Vera Macedo começou a monitorar a qualidade das águas que entram e saem das lavouras de arroz para a irrigação. O monitoramento iniciou na Estação Experimental do Arroz no Irga, em Cachoeirinha-RS, com água do Rio Gravataí, um dos mais poluídos da região metropolitana de Porto Alegre. O projeto exploratório foi montado com recursos da Fapergs.
As coletas
Como foi feita a pesquisa
A primeira coleta ocorreu em 15 de janeiro de 2000 em condições extremas, no Rio Gravataí, que tem um grande aporte de lixo, resíduos industriais e resíduos domiciliares. "A água que entrava na lavoura estava em uma condição bastante drástica. Era uma água muito escura e com muita espuma", revela Vera Macedo.
Em abril, quando foi feita a drenagem final para a colheita, nova coleta foi realizada para fins comparativos. O resultado se contrapõe ao que diz na legislação: "Preliminarmente, a conclusão é de que a água que sai da lavoura está mais limpa do que a que entra. A lavoura funciona como um filtro e devolve a água ao manancial em melhores condições do que retirou", afirma.
Onde a água é monitorada
• Rio Gravataí – EEA/Irga – Cachoeirinha
• Barragem do Capané – Depressão Central
• Rio Jacuí – Depressão Central
• Rio Uruguai – Fronteira-oeste
• Lagoas dos Patos e dos Barros – Planície Costeira Interna
• Barragem do Duro – Planície Costeira Externa
O que é analisado
• Qualidade da água de irrigação e drenagem
• Compostos orgânicos e níveis na água
• Composição química da água
• População dos protozoários e fitoplânctons nos sistemas de cultivo pré-germinado, convencional e direto
• Monitoramento de resíduos de herbicidas
Os resultados
Conclusão preliminar
• A água do Rio Gravataí que entra na lavoura é rica em nutrientes como fósforo e potássio.
• Esta água se assemelha a um composto nutritivo pela sua composição de detritos. Tanto que retorna mais limpa da lavoura, onde seu poder nutricional é absorvido no volume necessário para as plantas.
• A lavoura funciona como um filtro. Os nutrientes ficam no solo e a planta retém parte do que, para consumo humano, seriam considerados componentes poluentes.
• Os nutrientes se apresentam na forma de compostos solúveis na água, prontos para serem aproveitados.
• No dia da coleta, a presença de metais pesados (chumbo, cobre, níquel) no Rio Gravataí estava abaixo dos níveis de tolerância. Na saída, em abril, os níveis destes componentes na água da lavoura eram ainda mais baixos.
• O nível de nutrientes encontrados na água do rio no dia que foi realizada a coleta, na entrada da lavoura, era quase o mesmo necessário para atender todo o ciclo da planta, se fosse permanente, no que diz respeito aos níveis de nitrogênio.