Além do feijão com arroz

 Além do feijão com arroz

Urruticoechea, o CEO da empresa, busca alvos para aquisições no Brasil

A Sodexo já é a maior empresa de alimentação corporativa do Brasil. Agora, ela quer incluir em seu cardápio serviços de manutenção.

O espanhol Juan Pablo Urruticoechea, formado em jornalismo e com doutorado em administração de empresas e filosofia, passou os últimos 18 meses no Brasil estudando um pouco mais. Nesse período, tanto quanto procurar se adaptar aos costumes e hábitos locais, o executivo de 52 anos usou boa parte do tempo para conhecer o ambiente de negócio, em especial o do mercado de restaurantes corporativos. A preparação foi uma prévia para assumir, em março, a posição de CEO da divisão de serviços dentro da francesa Sodexo, que atua em 80 países e no Brasil é líder com receita de R$ 2,7 bilhões. Mas o executivo acredita que pode fazer mais.

Urruticoechea está de olho nos demais departamentos das médias e grandes empresas que atende de norte a sul. Hoje, 90% do faturamento obtido no Brasil vem do feijão com arroz. O restante é obtido com outros serviços, como limpeza e portaria. Uma relação bastante diferente da existente nos demais países onde esses serviços gerais garantem 25% da receita global de E 18 bilhões. Trata-se de um segmento que movimenta R$ 22 bilhões por ano no Brasil e no qual o executivo espanhol vislumbra grandes perspectivas. “Nossa estratégia é clara”, diz Urruticoechea. “Enquanto prevemos crescer 10% no mercado de refeições coletivas, podemos avançar 30% nessas outras áreas.”

O setor que entrou no cardápio da Sodexo é extremamente pulverizado, o que abre espaço para que um jogador com a musculatura da companhia francesa mire na aquisição de rivais de menor porte. “Queremos comprar empresas no Brasil, mas ainda não achamos alguma com a estrutura que nos interessa e que estivesse à venda”, afirma Urruticoechea. O foco da multinacional será o chamado “serviço pesado”, que inclui manutenção predial, instalação e administração de sistemas de ar-condicionado e escadas mecânicas, bem como serviços elétricos para fábricas e escritórios. Os demais, chamados de leves ou complementares (limpeza, recepção e jardinagem), vão ser oferecidos apenas para completar o portfólio dos clientes.

Isso, por sinal, já vem sendo feito no caso de clientes como a Petrobras. Para fechar o contrato de atendimento de 30 plataformas de petróleo da estatal, os franceses precisaram agregar também serviços de hotelaria e limpeza. “As grandes empresas querem que as suas prestadoras de serviços de alimentação executem atividades complementares”, afirma Antonio Guimarães, diretor-superintendente da Associação Brasileira das Empresas de Refeições Coletivas. “A competição, além disso, é maior no segmento de refeições, o que faz com que a rentabilidade seja baixa, entre 3% e 5% da receita.” Afora a Sodexo, duas outras grandes empresas disputam o negócio: a GRSA, do grupo inglês Compass, e a paulista Sapore. O mercado de alimentação empresarial está mais bem estruturado.

“A terceirização de refeições começou já nas décadas de 1960 e 1970, nos EUA, e depois na Europa, chegando ao Brasil nos anos 1980”, diz o francês Aymeric Marraud, diretor de planejamento estratégico da Sodexo. Um cenário bem diferente do que acontece na área de manutenção predial. Para adicionar esse prato ao cardápio da companhia, Urruticoechea sabe que terá de trabalhar duro. Até porque, para uma operação que ocupa a segunda posição entre as 80 subsidiárias da Sodexo, a cobrança será sempre maior. “O Brasil é um mercado prioritário para o fundador e principal acionista da empresa, Pierre Bellon”, diz Urruticoechea. “E seu desejo é ver os negócios se perpetuando por aqui.” Com o chefe, não se discute.

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