Alterações climáticas podem afetar a agricultura na América do Sul

Bruscas mudanças climáticas podem afetar a produção de grãos na América Latina, principalmente no Brasil e na Argentina. Essa é uma das conclusões dos cientistas que participaram da Cúpula sobre Mudança Climática, em Buenos Aires.

A produção de alimentos na Argentina e no Brasil pode ser reduzida nos próximos anos, em consequência de eventos climáticos extremos, como tempestades e secas, que já se fazem sentir na região. Esse cenário, um pesadelo para muitos países latino-americanos, cujas economias dependem em grande parte da agricultura, não parece tão distante, segundo afirmaram grupos de ambientalistas e cientistas que participam da Cúpula sobre Mudança Climática em Buenos Aires.

Apesar de a produção de alimentos no Brasil e na Argentina ter crescido nos últimos anos por causa dos bons preços dos produtos e da expansão das áreas de cultivo, principalmente da soja, o impacto da alteração climática pode ofuscar esse panorama. Segundo Dieter Schoene, funcionário do fundo da Organização das Nações Unidas (ONU) para a agricultura e a alimentação (FAO), Argentina e o Brasil teriam queda na produção agrícola.

Schoene acredita que o impacto será notado em cerca de 20 anos, prazo considerado rápido.Em algumas áreas agrícolas da Argentina, as chuvas aumentaram cerca de 40% na última década, explicaram cientistas durante a convenção da ONU.

– Não só chove mais, mas chove com mais frequência e em quantidades extremas, afirmou Vicente Barros, doutor em climatologia da Universidade de Buenos Aires.

Ele explicou que houve um aumento nas chuvas violentas, que danificam as lavouras.Em 2002, grandes inundações afetaram cerca de três milhões de hectares na província de Santa Fé, uma zona rica em produção agrícola e na criação de gado. No Brasil, a seca no Nordeste e a possibilidade da repetição de fenômenos incomuns, como o furacão que atingiu a Região Sul pela primeira vez em março de 2004, são riscos que já ameaçam o país, segundo o próprio governo.

– As áreas cultivadas com soja podem responder rapidamente porque têm produtores fortes que podem desenvolver variedades resistentes. O problema vai ser com os pequenos produtores, disse Magda Aparecida de Lima, pesquisadora da Embrapa.

Os cientistas afirmaram que o impacto da alteração climática sobre a agricultura é diferente de acordo com a região. Em algumas áreas tradicionalmente férteis, as altas temperaturas ou o excesso de chuvas podem atrapalhar as culturas. Mas as novas condições permitirão plantar em locais onde antes era impensável.

O desmatamento é outro fator considerado de alto risco. Nas colinas do Chaco, na província argentina de Salta, cerca de 24,5 mil hectares foram desmatados anualmente entre 1997 e 2001, um ritmo quatro vezes maior que o mundial. O desmatamento também é um problema na Amazônia, em que as queimadas contribuem com três quartos das emissões brasileiras de gases que provocam o efeito estufa, o que transforma o país em um dos maiores poluidores do mundo, segundo dados recentes.

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