Andando no limite

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Colheitas brasileira e argentina reduziram significativamente

Mercosul reduz quase 1,9 milhão de t em duas safras de arroz

Por mais que tenham avançado como fornecedores sobre mercados internacionais, os quatro países que compõem o Mercosul – Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai – estão terminando de colher a menor safra dos últimos tempos. Em apenas dois anos, o bloco regional reduziu quase 1,9 milhão de toneladas em produção de arroz.

A seca que afetou a região nos dois últimos anos é uma das explicações plausíveis, mas não é possível deixar fora o grande aumento dos preços dos insumos e dos custos de produção que inviabilizaram a atividade para uma série de orizicultores, em especial os de menor capacidade econômica.

A chegada de novas tecnologias – também ajudadas pelo clima mais seco dos últimos anos – que permitem o cultivo de culturas de sequeiro, como soja e milho, e potencializam a rotação com pastagens nas terras baixas foi outro fator que permitiu reduzir áreas de arroz sem que, necessariamente, permanecessem em pousio.

“É uma tecnologia que veio para ficar, que se soma do ponto de vista de recuperação das qualidades do solo e traz muitas vantagens agronômicas. Do ponto de vista econômico, também é interessante no portfólio de negócios da propriedade e do setor agropecuário”, reconhece Rodrigo Machado, presidente do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga).

Queda
Da safra 2021/22 para a atual, 2022/23, a queda da superfície semeada no Mercosul chegou a 8,6%, o que equivale a 183,9 mil hectares. São 209,7 mil hectares em dois anos, segundo números oficiais dos países, ou cerca de 10%. Em termos de produção, a retração é de 5,8%, o que equivale a 839,4 mil toneladas.

Em dois anos, são 1,887 milhão de toneladas. A seca que atingiu com força o norte da Argentina e a fronteira oeste gaúcha, limítrofes, gerou impacto forte nesta redução. Mas não foi apenas ela.

Alfredo Lago, presidente da Associação dos Cultivadores de Arroz do Uruguai (ACA), explica que em seu país os produtores reduziram minimamente a área, mas para se adequarem à disponibilidade de água para a irrigação. “Ainda assim, os custos chegaram a mais de US$ 2,2 mil. E este também é um fator preocupante, mesmo em um país que se colhe mais de nove mil quilos por hectare de média. Então, se pesa muito a relação entre o risco e o investimento”, observa.

Guillermo Zub, da Câmara Paraguaia do Arroz, observou, em reunião setorial, que a forte estiagem de 2021/22 exigiu uma mudança mais rápida das lavouras no mapa do Paraguai e apressou grandes investimentos.

Reduziram os cultivos de arroz em Misiones e Itapúa, cresceram na região central pela disponibilidade de água. Mas essa mudança exige um grande esforço tecnológico e econômico. E isso tem um alto custo que precisará ser pago com arroz.

A informação bate com os dados oficiais da colheita paraguaia, que indica também uma migração das zonas de cultivo.

Argentina
Muito além da crise econômica

A produção de arroz da Argentina será, proporcionalmente, a mais afetada no Mercosul pela redução de oferta. O país semeou, segundo o governo, 204 mil hectares de arroz, e colherá menos de 160 mil, conforme o mercado, por causa da seca e da crise econômica. A produção é estimada em 1,07 milhão de toneladas, sendo 250 mil, menos da metade do usual, dirigidas à exportação. O consumo aproxima-se de 700 mil t.

O ministro da Produção de Corrientes, Claudio Anselmo, alertou para a oferta de arroz ajustada no segundo semestre de 2023. A província produz metade do arroz do país e teve redução de 50% na colheita. “O normal seriam 100 mil hectares, mas semeamos 70 mil. Destes, 20 mil não foram colhidos ou tiveram rendimentos mínimos”, observou. A queda na oferta fica entre 20% e 25%. Em ano normal, a Argentina colhe de 1,2 a 1,5 milhão de toneladas.

Paraguai
Recuperação em nova geografia

Único país do Mercosul a elevar a área semeada em 2022/23, o Paraguai mostra forte potencial de recuperação. A temporada anterior teve uma seca grave e perdas, e com isso demostrou a necessidade de deslocamento de parte das lavouras para regiões distantes do Rio Tebicuary – que esgotou a capacidade de irrigação – e próximas de caudais como os rios Paraná e Paraguay.

De acordo com relatório do Instituto de Biotecnologia Agropecuária (Inbio) e a União das Guildas Produtivas (UGP), foram destinados 172.229 hectares ao cultivo de arroz no país, ou 13.938 a mais que na safra anterior, quando a lavoura atingiu 158.291 hectares. O departamento Central passou de 3.804 para 8.515 hectares. Misiones, Itapúa e San Pedro reduziram as lavouras. A colheita é estimada em 1,120 milhão de toneladas de arroz limpo e seco. Cerca de 750 mil deverão ser carregadas para o Brasil, e mais de 60% deste volume já está negociado.

Uruguai
Próximo de novo recorde

A colheita de arroz nos 159,7 mil hectares do Uruguai foi concluída em meados de maio. A seca não causou tantos problemas, porque, exceto em áreas específicas do leste uruguaio, as lavouras foram dimensionadas para a disponibilidade de água, o que exigiu eficiente gestão da irrigação. A média deverá ultrapassar nove mil quilos por hectare pela terceira vez na história e o terceiro ano consecutivo, o que mostra avanços tecnológicos, gerenciais e produtivos no setor.

Não surpreenderá se o recorde de 9.450 kg/ha da colheita de 2021 for quebrado, com a média batendo em 9.500 quilos. O preço definitivo da safra 2021/22 foi fixado em US$ 12,27. Descontando o pagamento do fundo arrozeiro, o produtor receberá líquidos US$ 11,75. Nicholás Lawlor, presidente da Gremial de Molinos, e Alfredo Lago, da Associação de Cultivadores de Arroz, consideraram o acordo justo.

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