Área de arroz em RR cresce 3 campos de futebol por dia
Rizicultores ignoram homologação de reserva e continuam a expandir produção. Área cultivada passou de 2.111 para 17 mil hectares de 1992 a 2008; produtores vêem potencial para crescer ainda mais 100 mil hectares.
A demarcação e homologação da terra indígena Raposa/ Serra do Sol (RR) não impediu o crescimento da área destinada à produção de arroz, a principal causa do imbróglio que será retomado no julgamento pelo Supremo Tribunal Federal.
Desde 2005, quando o presidente Lula assinou decreto que homologou a reserva, a área produtiva de arroz cresceu por dia uma média de três campos de futebol de dimensões oficiais. Por ano, a extensão de arroz dentro reserva, atividade considerada ilegal pelo governo, expande 750 hectares – ou cinco parques do Ibirapuera.
A Folha levantou os dados com base em pesquisa do INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), que acompanhou a evolução da área plantada de arroz, com imagens de satélites, entre 1992 e 2005, com a projeção da safra 2008/ 2009 feita pela Associação dos Arrozeiros de Roraima.
Os dados, além de contradizer os rizicultores, que afirmam ocupar a região com a monocultura desde pelo menos os anos de 1970, mostram como eles aumentaram significativamente a produção mesmo com a homologação da área pelo governo, medida que, se cumprida, deveria levar a interrupção da atividade dentro da terra indígena.
Em 1992, segundo o estudo “A invasão das monoculturas -O Desafio da Demarcação da Terra Indígena Raposa/Serra do Sol”, o arroz ocupava 2.111 hectares da reserva, que tem área total de 1,7 milhão de hectares. Seis anos depois, quando o governo FHC (1995-2002) demarcou a área, a superfície cultivada já era três vezes maior: 7.585 hectares.
Em 2005, último ano analisado pelo INPA, a rizicultura já respondia por 14.444 hectares. Para a safra 2008/2009, os cinco produtores da região têm disponíveis para cultivar arroz uma área de 17 mil hectares, embora a associação dos arrozeiros diga que a área de cultivo seja um pouco menor. As seis fazendas, juntas, ocupam quase 25 mil hectares, 1,5% da área total da Raposa/Serra do Sol.
Para Vincenzo Lauriola, sócio-economista ecológico e responsável pela pesquisa do INPA, “não há dúvida de que houve má-fé” por parte dos arrozeiros.
– Esses empresários se instalaram ali com o objetivo deliberado de que a demarcação não saísse. E isso foi apoiado pelo governo do Estado. Eles não foram para lá inocentemente – afirma ele.
Nelson Itikawa, proprietário da fazenda Vizeu, que fica dentro da área, e presidente da Associação dos Arrozeiros de Roraima, diz que a tendência de qualquer empreendimento é crescer. Segundo ele, a região da Raposa/Serra do Sol tem potencial de expandir mais 100 mil hectares.
– Nosso objetivo é aumentar [a produção de arroz] até chegar no limite.