Arroz avança pouco em Minas
As cotações da saca de 50 quilos se recuperaram para até R$ 25, na média, em dezembro e no começo deste mês, emergindo do fundo do poço de R$ 19 no mesmo período de 2006 e do ano passado, mas não há garantia de que a valorização vá se manter fora da entressafra.
Nem mesmo a recuperação dos preços da saca anima os rizicultores brasileiros, a três meses do início da colheita: não há garantia de que a valorização vá se manter em plena A três meses do início da colheita e do processamento de arroz, faz pouca diferença para o desestimulado produtor de uma cultura que vem encolhendo em diversos estados, como Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, o cenário de recente retomada dos preços, aliado às projeções otimistas do ministro da Agricultura, Reinhold Stephannes, para a SAFRA de grãos 2007/2008.
As cotações da saca de 50 quilos se recuperaram para até R$ 25, na média, em dezembro e no começo deste mês, emergindo do fundo do poço de R$ 19 no mesmo período de 2006 e do ano passado, mas não há garantia de que a valorização vá se manter fora da entressafra. Este ano ainda deve ser um período marcado por perda de área plantada para a soja e o milho, cultivos bem mais rentáveis, e por desafios para o agricultor obter crédito e melhorar a eficiência na plantação.
O relatório do acompanhamento da safra brasileira divulgado semana passada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) mostra redução da área plantada em 16 estados produtores e no Distrito Federal, frente a nove em que haverá expansão. A estimativa de produção 5,5% maior veio ancorada no bom, mas solitário, desempenho dos produtores do Rio Grande do Sul, responsáveis por cerca de 70% das 11,94 milhões de toneladas projetadas para a próxima SAFRA. Para Eledon Pereira de Oliveira, gerente da área de avaliação de SAFRA da estatal, os números não representam mudança no dia-a-dia dos rizicultores.
– Todos os estados em que não há produção no sistema irrigado perderam área para o milho e a soja, culturas de melhor rentabilidade e menor risco. A recuperação dos preços foi pequena para alterar esse quadro, à exceção do Rio Grande do Sul – afirma Oliveira.
Em terras gaúchas, a área de plantio aumentou 10,96%, alcançando 103,7 mil hectares, em função do retorno dos produtores às lavouras que haviam sido eliminadas por causa das chuvas escassas.
Em Minas Gerais, principal produtor do Sudeste, de positivo no levantamento da CONAB, só se observa o aumento esperado da produtividade. A produção deve ser de 167,28 mil toneladas, das quais 43,6% em várzea úmida e 30,9% no sistema de sequeiro, representando volume 10,5% inferior ao da SAFRA passada.
A área plantada minguou um pouco mais, saindo de 85 mil hectares para os projetados 75,60 hectares, diferença negativa de 11,1%.
Produtor há quase 50 anos e um dos pioneiros da cultura na Zona da Mata, Joaquim Luciano de Paula se viu forçado a sacrificar a área produzida, mas está determinado a aumentar a produtividade.
– Os produtores de arroz estão mais desprestigiados do que os de leite. Continuamos muito devagar, mas tentamos dar a volta por cima modernizando o plantio.
Na Fazenda Ubazeiro, em Barão do Monte Alto, Joaquim pretende colher mais de 8 mil quilos por hectare nos 12 reservados ao arroz, área 80% inferior aos bons tempos da cultura na propriedade.
Para a indústria do arroz, falta uma política nacional de incentivo à cadeia de produção, incluindo estoques reguladores para que o produtor não se veja forçado a vender o grão abaixo do preço mínimo, segundo Jorge Tadeu Araújo Meirelles, presidente do Sindicato da Indústria do Arroz em Minas (Sindarroz).
– Nos últimos três anos, houve redução de impostos estaduais que nos deixaram mais competivivos em comparação à indústria gaúcha, mas isso não foi suficiente. Precisamos criar mecanismos de comercialização eficientes para o equilíbrio entre a oferta e a procura – afirma.
Só 20% do consumo do grão em Minas é suprido com produção local.
Melhor preço em 20 anos
Com expectativas favoráveis para as SAFRAS deste ano e de 2009, o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) prevê preços melhores e, ao mesmo tempo, um aumento expressivo da produtividade nas lavouras. Marco Aurélio Tavares, assessor de mercado do instituto, afirma que a redução expressiva dos estoques de passagem é um dos sinais de melhora das condições de produção.
– Temos estoques mais ajustados e, no mercado internacional, vivemos a maior valorização do grão nos últimos 20 anos – diz.
Os preços devem se manter em recuperação na SAFRA iniciada em março e tendem a oferecer maior remuneração ao produtor em 2009, mas ainda assim, segundo Aurélio Tavares, não há como fugir da depedência das negociações do crédito agrícola.
– O nosso objetivo é buscar mecanismos para que o governo pague um prêmio capaz de ajustar os valores de mercado e do custo de produção, em lugar de se ter como base um preço mínimo – afirma.
Os produtores esperam, ainda, créditos em EGF (Empréstimo do Governo Federal) de R$ 300 milhões para estocagem.
A dificuldade de acesso ao crédito agrícola se tornou uma grave causa de desestímulo dos rizicultores da Zona da Mata, de acordo com Cristiano Alberto Silva, técnico do escritório de Barão do Monte Alto da Emater-MG.
– Mesmo com a recuperação dos preços, não há mais o interesse que os meeiros tinham no passado – afirma.
Só no município, a área plantada diminuiu de 650 hectares para cerca de 250, mas há produtores que trabalham para aumentar a eficiência nas lavouras.
Na Fazenda Ubazeiro, Joaquim de Paula quer aperfeiçoar o resultado da colheita que tem variado de 5 mil a 6 mil quilos por hectare. Ele pretende adotar o plantio direto e a colheita mecanizada.
Campeões da produtividade no Brasil, os gaúchos alcançam 6,7 mil quilos por hectare, segundo a CONAB, e trabalham para obter novo ganho este ano. O resultado supera em três vezes a média nacional. Em Minas, a média é de 2,2 mil quilos por hectare.
Grão exótico é alternativa
Variedade ainda considerada exótica, o arroz preto conquista o consumidor de maior poder aquisitivo fora dos restaurantes finos e das delicatesses, mostrando as possibilidades que o produtor tem de aumentar a renda. Pioneiro no plantio desses grãos curtos e meio arredondados, com textura macia, cor preta e aroma acastanhando, o rizicultor José Francisco Ruzene apostou nesse mercado, como resposta à insatisfação com os baixos preços do arroz branco.
– O produto tem potencial, o desafio é torná-lo conhecido, desenvolver o mercado consumidor – afirma.
As sugestões dos chefes de cozinha – aliados importantes na divulgação da variedade cultivada na China há mais de 4 mil anos – valorizam as propriedades do arroz preto, combinado aos cortes sofisticados de porco ou a uma paella, receitas que não estão mais restritas aos bistrôs. A pesquisa no Brasil desse produto integral, rico em fibras biodigestivas e proteínas, foi iniciada em 1994 pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC).
Na Fazenda Mombaça, de Pindamonhangaba (SP), a lavoura ocupa 100 hectares, permitindo a marca Ruzene sair de São Paulo e do Rio, onde estão mais de 50% das vendas, para Minas Gerais, Amapá, Goiás, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Franciso Ruzene negocia o primeiro contrato de exportação e prepara para 2009 o lançamento do arroz vermelho, com grãos longos e finos, originários do Himalaia, com aroma de jasmim.
Surpreso com os resultados da primeira lavoura do arroz preto e da venda de sementes, o pesquisador do IAC Cândido Ricardo Bastos diz que a variedade representa uma mudança radical da tradição brasileira de consumir arroz.
– O produto vai continuar sendo um segmento desse mercado, com preços que ainda têm gordura para ser queimada, mas que refletem um produto gourmet – afirma.
Em BH, marcas da variedade eram encontradas na semana passada a R$ 30 o quilo.