Arroz dos hermanos poderá esbarrar nos laboratórios

Importações não estão passando por análises que identifica toxinas. Ações na Justiça Federal tentam explorar este ponto fraco.

Os produtores de arroz do Rio Grande do Sul deverão receber nas próximas horas uma decisão da Justiça Federal que inviabilizará o ingresso de arroz da Argentina e Uruguai no mercado brasileiro. Na última quarta-feira, depois de quase um mês de mobilizações e protestos na fronteira dos países hermanos, a cadeia produtiva ingressou simultaneamente com pelo menos cinco ações judiciais em diferentes regiões do estado (Santa Cruz do Sul, Rio Grande, Santa Maria, Uruguaiana e Livramento) pedindo que amostras de todos os carregamentos de arroz da Argentina e Uruguai passem por análise de laboratório.

O estudo, além de burocratizar, irá identificar a possível presença de substâncias no arroz que provocam câncer no ser humano. “É uma questão de saúde pública. O ingresso deste arroz está causando danos irreparáveis na economia brasileira e, para piorar, ninguém sabe exatamente se estas importações não estão contaminadas com produtos tóxicos”, alerta o presidente da União Central dos Rizicultores (UCR) e vice-presidente da Federarroz, Gilmar Fraitag. Segundo ele, a exigência da análise, levantamento obrigatória que só pode ser feita em laboratórios sofisticados, deverá inviabilizar as importações. “Estamos tratando de dois temas importantíssimos, protegendo a saúde e o bolso dos brasileiros”, resumiu Freitag.

ARGUMENTOS

No processo encaminhado pela UCR, na Justiça Federal em Santa Cruz do Sul, os argumentos são de que não há monitoramento dos resíduos de agrotóxicos no arroz e que a população pode estar consumindo produtos cancerígenos. O herbicida Clonotec, usado para combater plantas invasoras da lavoura de arroz, é uma das cerca de 50 variações de componentes que são de livre utilização no Uruguai, mas proibido no Brasil.

No pedido de imediata e urgente análise de todas as cargas, os produtores levaram ao conhecimento da Justiça laudos técnicos e documentos mostrando que o Clonotec, assim como outros herbicidas proibidos no Brasil, pode ser comprado sem restrições na cidade de Rivera, no Uruguai.

MOBILIZAÇÃO

Nesta segunda-feira, a partir das 19h, no CTG José Bonifácio Gomes, os produtores de arroz de Cachoeira do Sul e cidades da região vão se reunir para discutir formas de manifestação da categoria. Até segunda-feira, é esperada uma decisão da Justiça para o pedido de tutela antecipada no processo de análise das importações.

A reunião será coordenada pelo presidente da UCR, Gilmar Freitag, que nas últimas semanas esteve em todas as mobilizações dos arrozeiros nas cidades de fronteira com Argentina e Uruguai. A reunião de segunda-feira é direcionada aos produtores e representantes das indústrias e cooperativas de arroz. “Nesta segunda-feira vamos definir o que faremos aqui em Cachoeira”, resumiu Freitag.

CHINA

A discussão lançada pelos produtores de arroz do Rio Grande do Sul, cobrando que todas as cargas tenha amostras analisadas em laboratório, é um procedimento semelhante ao ocorrido no ano passado, quando exportações de soja foram barradas na Ásia, principalmente na China, sob alegação de que os grãos estavam contaminados com fungicidas.

Se a estratégia der certo, a reação dos preços acontecerá lentamente. A lei da oferta e procura, que dita os preços no mercado, tem movimentos lentos e que certamente irão valorizar a produção nacional. Depois de várias décadas de melhoramentos e ampliação de área cultivada, somente nas duas últimas safras o Brasil foi auto-suficiente na produção de arroz.

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