Arroz e feijão são as novas vítimas do clima nesta safra
Seca e excesso de chuvas em regiões produtoras estão causando prejuízos aos produtores e à safra brasileira.
O arroz e o feijão engrossam a lista de produtos que terão perdas expressivas na próxima safra em consequência de problemas climáticos – seja por excesso de chuvas, seja pela seca.
Os problemas climáticos fizeram com que as operações de custeio agrícola que contam com mecanismo de proteção contra os efeitos do clima, por meio do Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) e do Seguro Agrícola, atingissem na safra 2008/2009 o montante de R$ 7,5 bilhões, o que corresponde a 40% dos recursos que o Banco do Brasil (BB) destinou ao agronegócio nesta temporada agrícola.
O volume total de recursos do BB para o setor teve um incremento de 37,5%, num total de R$ 18,3 bilhões. O anúncio foi feito ontem por Luís Carlos Guedes Pinto, vice-presidente de agronegócios do Banco.
Como antecipou o DCI, o número de pedidos pelo Proagro durante o primeiro semestre do ano-safra 2008/2009 alcançou a marca de 16.521. Em igual período do ano anterior foram 3.561 pedidos. Segundo a diretoria do BB, a instituição tem incentivado a prática .
– A utilização desses mecanismos de mitigação de risco possibilita aos produtores proteção contra os efeitos do clima em sua atividade e das oscilações de preços das commodities agropecuárias – disse Guedes Pinto.
A demanda pelos chamados mitigadores de risco deve se acelerar ainda mais nos próximos dias já que novas perdas nas lavouras, especialmente no Sul, continuam sendo anunciadas. Após a quebra em boa parte da produção de milho, as maiores perdas são de produtos que vão direto para a mesa do consumidor: o arroz e o feijão.
A quebra na produção de feijão no Paraná, da ordem de 38,6%, anunciada pelo Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura do Estado veio acima do esperado mesmo para os mais pessimistas. O volume previsto para o principal estado produtor caiu de 610,4 mil toneladas para 375 mil.
Segundo Rafael Poerschke, analista de feijão da Safras & Mercado, a produção nacional neste ano agrícola ainda é superior a safra anterior, mas apenas em função do aumento da área.
– Os produtores vinham de 2008 bem capitalizados, todo mundo acreditou na safra.
No entanto o resultado da colheita será muito abaixo da expectativa.
– Eles esperavam colher em média 1.550 quilos por hectare, e agora a produtividade é de apenas 1.200 quilos por hectare. Reduziu bastante – avaliou Poerschke.
Cálculos da Federação de Agricultura do Estado de Santa Catarina (Faesc) mostram que a quebra de safra de feijão chega a 50%, em algumas regiões como em Araranguá onde a perda já é de pelo menos 75 mil toneladas. No estado, as maiores perdas estão concentradas na lavoura de arroz. Das quase 1 milhão de toneladas estimadas nessa safra cerca de 300 mil toneladas já foram perdidas.
De acordo com Enori Barbieri, vice-presidente da Faesc, a perda por tonelada é de 16,6 sacas. Levando-se em conta que o preço médio é de R$ 33 por saca o prejuízo dos rizicultores de SC em razão das enchentes já é de R$ 164,34 milhões.
Além da demora no acesso ao seguro rural, que só pode ser tomado com a colheita finalizada, os produtores terão que provar a seguradora que os eventos climáticos se trataram de uma catástrofe.
– Para o arroz irrigado há uma cláusula que não garante o seguro em
caso de enchente. Vamos ter que enquadrar o evento como tromba d’água, esta sim passível de ser assegurada – disse.
Tanto no caso do arroz como do feijão os preços estão balizados na oferta e demanda, por isso a expectativa é de alta ao longo do ano.
No arroz, a situação do consumidor se agrava pela seca em outros países produtores e pelo aumento das exportações. Os estoques internos do grão, 50% inferiores ao da safra passada, estão nos menores patamares da década, abaixo de 1 milhão de toneladas.
O governo insiste em apontar exportações da ordem de 400 mil toneladas em 2009, mas os produtores não parecem interessados em recuar na meta de exportar 10% da safra, após garantirem um aumento de 500% no faturamento no último ano.