Arroz energético
Produção de etanol de arroz é alternativa para reduzir a oferta de
menor qualidade.
O Rio Grande do Sul tem área, potencial e estrutura para elevar em pelo menos 20% sua produção de arroz sem grande esforço, apenas ampliando áreas de várzea que estão em pousio ou ociosas ou mesmo em rotação de cultura com soja e milho. Isso ainda não aconteceu, principalmente pela limitação de preços no mercado doméstico, que exige um equilíbrio bem ajustado entre oferta e demanda para compensar ao agricultor. É consenso que para o Brasil ampliar a produção do cereal e gerar renda e empregos nas zonas produtoras precisa conter a enxurrada de importações do Mercosul e aumentar o consumo interno do grão. As duas alternativas são de difícil solução, a não ser que uma nova forma de consumir arroz seja encontrada.
Pois, ao que tudo indica, a cadeia produtiva de arroz do Rio Grande do Sul encontrou uma válvula de escape capaz de absorver parte da oferta, principalmente de cereal de baixa qualidade comercial, e gerar energia, renda e empregos na zona arrozeira, a chamada metade sul gaúcha: a produção de etanol. Além de utilizar arroz dos tipos 3, 4 e abaixo do padrão, a usina de etanol poderá utilizar um tipo de arroz especialmente desenvolvido pela Embrapa Clima Temperado, de Pelotas (RS), destinado a fins energéticos. A variedade, que está em fase final de avaliação, tem alta produtividade, baixo custo de produção e alto teor de substâncias desejáveis para a produção de etanol, mas não tem qualidade para chegar aos padrões comerciais do consumo humano.
Embora já existam algumas usinas que aproveitam entre suas matérias-primas para etanol o arroz, casos de São Gabriel, Santa Cruz do Sul e na região metropolitana de Porto Alegre, em baixo volume, a grande notícia ligada a esta área energética veio em janeiro de 2013, com a assinatura de um protocolo de intenções entre o governo do Rio Grande do Sul e a Vinema Multióleos Vegetais. O protocolo foi assinado pelo governador Tarso Genro e o sócio-diretor da empresa, Vilson Neumann Machado, concedendo benefícios fiscais para o desenvolvimento do projeto de biorrefinarias de etanol a partir de cereais, principalmente arroz.
A partir do documento foi criada a Vinema Biorrefinarias do Sul. Incluindo os benefícios fiscais, o investimento será de R$ 720 milhões e prevê a construção de seis biorrefinarias no Rio Grande do Sul até 2020, sendo a primeira construída no município de Cristal até o final de 2014. O presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Renato Rocha, considera este projeto de suma importância para o futuro do mercado do cereal. “Se trata de um uso significativo para o arroz com retornos sociais e econômicos importantes para o setor e o estado e que agrega novas e importantes alternativas para a lavoura”, declara. Segundo Rocha, o aumento da demanda da matéria-prima trará equilíbrio ao mercado.
Neumann Machado (esquerda) com o vice-governador Beto Grill: demanda de 1,5 milhão de toneladas de arroz
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As biorrefinarias serão instaladas paulatinamente, considerando a realidade de escassez do produto no momento. “Vamos consumir 250 mil toneladas de grãos ao ano em matéria-prima, por usina, o que totalizará 1,5 milhão de toneladas quando as seis estiverem em operação”, explica Vilson Neumann Machado. Isso representa 18% da produção gaúcha e o mesmo volume dos estoques nacionais estimados pela Conab no início de 2014. Além do arroz desclassificado para uso humano a empresa utilizará sorgo granífero, triticale, aveia, centeio e batata-doce. “Mesmo com o uso de outras matérias-primas a demanda por arroz será substancial”, acrescenta.