Arroz, feijão e economia

O crescimento da classe média exige ampliação da produção de alimentos. Ao reduzir a área de arroz e feijão e expandir a de soja e milho, o Brasil está seguindo justamente essa tendência.

O consumo cada vez menor de arroz e feijão revela mais que uma mudança no hábito alimentar da população. Traz à tona transformações na renda urbana e no perfil do meio rural, mostrou a Gazeta do Povo na última semana. Do consumidor ao agricultor, o momento é de transição econômica, especialmente para o Paraná, que se dedica cada vez mais à produção de commodities. Sai o feijão com arroz e entram a soja, o milho, o frango, o suíno. Um fenômeno determinado pelo mercado, mas que merece atenção do governo, para o bem da sociedade e inclusive para o controle da inflação.

O Paraná é o maior produtor de feijão do Brasil. Responde por cerca de 20% do volume colhido em âmbito nacional. Seria atingido em cheio pela simples redução no consumo, que passou de 2,8 para 1,4 quilo por pessoa ao mês nas últimas duas décadas. Mas não é exatamente isso que acontece. O meio rural vem se adaptando e ampliando a produção de outros alimentos. Em resumo, o agronegócio é um dos setores que mais crescem, elevando as exportações.

O aumento na produção de soja e milho segue tendência internacional. O grão, ingrediente da ração, alimenta o frango e o suíno criados, muitas vezes, pelo mesmo agricultor familiar que está deixando de plantar feijão. A carne de ave é o símbolo desse momento. Exportada do Paraná para 152 países, permite a geração de renda nas pequenas propriedades e a estruturação de indústrias, fortalecendo cooperativas e ampliando a geração de impostos.

No Rio Grande do Sul, maior produtor nacional de arroz, a história se repete, comprovando que o meio rural vem garantindo sua sobrevivência ao acompanhar a evolução do consumo global. Apesar de enfrentar secas com maior frequên­­cia que outras regiões agrícolas do país, o produtor gaúcho evolui em tecnologia e acompanha a expansão no cultivo de commodities.

A ampliação do consumo de carnes e outras proteínas, na Ásia e no próprio Brasil, reflete o aumento na renda da população. Paralelamente, programas que ajudam a melhorar as condições de vida das camadas mais pobres apresentam resultados que vão além das questões sociais. Produzem reflexos econômicos positivos para setores que, há pouco tempo, não cogitavam ser beneficiados indiretamente pela distribuição de alimentos ou programas pelos programas de garantia de renda mínima.

O crescimento da classe média, observado com atenção pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), exige ampliação da produção de alimentos. Ao reduzir a área de arroz e feijão e expandir a de soja e milho, o Brasil está seguindo justamente essa tendência. Com cerca de 50 milhões de hectares de pastagens que podem ser transformados em lavouras – dobrando a extensão cultivada atualmente –, redesenha seu perfil agropecuário.

É possível que, mesmo com queda no consumo, o brasileiro pague cada vez mais por alimentos tradicionais como o arroz e o feijão. E essa valorização contínua não se deve ao risco de falta de comida, mas à tendência de todos os setores produzirem o que é mais rentável.

Altos e baixos nos preços tornam o feijão e o arroz culturas de risco na comparação com a soja, cujas cotações oscilam em patamares bem acima dos verificados nas últimas quatro décadas – período em que o cultivo da oleaginosa ganhou escala no Brasil. Pequenas propriedades arrecadam mais quando dispõem de estruturas como aviários e criadouros de suínos, produtos que incluem o grão em sua cadeia.

O risco é de a população urbana continuar pagando a conta dessas transformações. Quem não abre mão do feijão, pode ter os gastos com o alimento multiplicados em questão de semanas, como ocorreu neste ano. Ao melhorar de renda e consumir mais proteína, a população está sujeita ao encarecimento de itens básicos.

Os programas que regulam o mercado agrícola e garantem preços mínimos aos produtores de alimentos como o arroz e o feijão tornaram-se importantes instrumentos no controle da inflação. Ao equilibrar as cotações no campo, evitam que o consumidor de baixa renda ganhe de um lado, com o acesso a novos produtos, e perca do outro, diante do encarecimento da alimentação tradicional. Com um setor produtivo bem estabelecido, o país evita a pobreza no meio rural e a migração para as cidades. E com uma política social integrada aos principais setores econômicos, é possível continuar evoluindo economicamente sem retrocesso.

1 Comentário

  • tava na hora do arroz melhorar pois eu foi um dos que reduziu a area em 50%,migrando pra soja

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