Arroz GM: além do horizonte

 Arroz GM: além do horizonte

Golden Rice: o arroz enriquecido contra a desnutrição

Transgênicos podem enfrentar a fome
e limitações agronômicas
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No final de outubro, o Instituto Internacional de Pesquisas em Arroz (Irri, na sigla em inglês), das Filipinas, divulgou artigo do pesquisador Adam Clayton Barclay, avaliando a situação das suas pesquisas mundiais sobre o arroz geneticamente modificado (GM). O Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações em Agrobiotecnologia (SAAA) prevê que, até 2015, pelo menos 20 milhões de agricultores, em mais de 40 países, usarão os produtos da biotecnologia, incluindo culturas GM, em 200 milhões de hectares. Ainda em 2013, a comercialização do arroz GM não será uma realidade.

No entanto, o Centro de Avaliação de Risco Ambiental indica que duas variedades de arroz transgênico (LLRice60 e LLRice62) com resistência a herbicidas foram aprovados nos Estados Unidos em 2000. Posterior a esta aprovação, outros tipos de arroz foram aprovados no Canadá, Austrália, México e Colômbia. Nenhum chegou à aprovação comercial. Em 2009, a China concedeu a aprovação de biossegurança para o arroz transgênico resistente a pragas, mas sem uso comercial.

Apesar disso, as pesquisas de variedades transgênicas avançam, tanto no setor público quanto privado, em todo o mundo: Argentina, Austrália, Brasil, China, França, Índia, Indonésia, Itália, Irã, Japão, México, Filipinas, Espanha e Estados Unidos têm desenvolvido testes em laboratórios – e alguns a campo – com uso da tecnologia. Bangladesh e Coreia do Sul também estão envolvidos em pesquisas similares. Os pesquisadores buscam cultivares com maior rendimento, resistência a pragas, doenças e herbicidas, tolerância à seca e salinidade, valor nutricional e benefícios para a saúde e eficiência no uso do nitrogênio.

A abordagem do Irri em suas pesquisas para desenvolver tais variedades é baseada em que a modificação genética pode oferecer segurança agronômica aos produtores e alimentar para os consumidores, além de benefícios que não podem ser alcançados por métodos convencionais de melhoramento. A modificação genética é utilizada como ferramenta de investigação para compreender a função do gene, mesmo quando não há nenhuma intenção de desenvolver uma variedade de arroz GM, e para desenvolver novas variedades transgênicas com características que não podem ser encontradas no conjunto de genes do arroz.

“Em comparação às grandes culturas, como o milho ou o trigo, o arroz tem uma base de recursos genéticos extraordinariamente diversificada, que se espalha por pelo menos 24 espécies diferentes”, explica Eero Nissilä, diretor de melhoramento de plantas do Irri. “Isso significa que existe um conjunto de genes de arroz úteis que os cientistas podem usar para desenvolver novas variedades, com características melhoradas. Menos de 5% do nosso melhoramento concentra-se no fornecimento de variedades GM”, acrescenta.

As tecnologias geradas pelo Irri serão futuramente repassadas aos centros nacionais de pesquisas para serem testadas e aprovadas, tanto por cientistas quanto produtores e consumidores. Ao mesmo tempo, o Irri promove a formação de especialistas em biotecnologia e modificação genética de arroz, com o objetivo de promover habilidades especiais, difundir o conhecimento de tecnologias e capacitá-los para conduzir pesquisas em suas unidades e responder às oportunidades de desenvolvimento de projetos relacionados em seus países.

O que vem por aí

Golden Rice
O exemplo mais avançado da pesquisa do Irri em arroz GM é o Golden Rice (Arroz Dourado). Ele contém betacaroteno, uma fonte de vitamina A importante à nutrição infantil. Ao trabalhar com algumas das principais organizações agrícolas e de saúde, o Irri ajuda a desenvolver e avaliar o Golden Rice para combater a deficiência de vitamina A, apontada como razão de desnutrição infantil em muitos países. A variedade é testada em diferentes ambientes para avaliar características agronômicas, adaptação, impactos ambientais e riscos de cruzamento.

Resistência à seca
A Dra. Inez Slamet-Loedin lidera os esforços do Irri para identificar genes de tolerância à seca que podem levar ao desenvolvimento de qualquer organismo GM ou variedades de arroz tolerantes e não GM. Este propósito é mais desafiador do que o enriquecimento nutricional do grão, pois a própria seca é complexa, bem como a forma com que isso afeta as lavouras, pelas condições de solo, intensidade, duração e período em que ocorre, bem como em diferentes tipos de solo. Além disso, a nova variedade precisa de um bom desempenho em condições não secas.

Linhas promissoras de arroz GM foram desenvolvidas. Algumas delas incluem genes adicionais da planta arabidopsis. Nos últimos anos, o desempenho das linhagens foi testado em condições de estiagem em casas de vegetação. Em 2011 e 2012, o Irri e o Ciat completaram os estudos de campo com bons resultados.

Arroz turbo C4

Testes nas Filipinas buscam um arroz com maior poder fotossintético

A tentativa mais ambiciosa do Irri em modificar geneticamente o cereal é o seu projeto de arroz C4, com parceiros internacionais, para gerar uma variedade com maior poder de fotossíntese. O arroz utiliza um caminho fotossintético C3, menos eficiente do que o milho, por exemplo, que utiliza a via C4. Embora disponha de todos os componentes necessários à fotossíntese C4, eles são distribuídos de maneira diferente no interior das células de arroz. Por rearranjo das estruturas fotossintéticas dentro das folhas, usando modificação genética, é teoricamente possível alterar este caminho para C4, potencialmente aumentando sua produtividade até 50%. A variedade em estudo é chamada de superarroz e associada à segurança alimentar de diversos países. A pesquisa tem um longo caminho a percorrer, mas os cientistas identificaram genes cruciais para montar a via de fotossíntese mais eficiente. O próximo passo é a criação de plantas para testes.

Rico em ferro

Inez Slamet-Loedin (dir.) coordena equipes que buscam variedades de arroz GM

Um projeto para combater a “fome oculta” ou desnutrição de micronutrientes desenvolve uma variedade de arroz GM rico em ferro, capaz de prevenir a anemia, que afeta mais de 1 bilhão de pessoas no mundo. A deficiência contribui no aumento da mortalidade materna e afeta o desenvolvimento cognitivo e físico das crianças. O Irri acrescentou dois genes em variedades populares. Um deles é ferritina, originado na soja, que codifica a planta para armazenamento de ferro. O arroz tem seu próprio gene, mas acrescendo outro aumenta a capacidade de armazenar o nutriente, que pode facilmente ser absorvido e usado no corpo humano.

Outro gene, proveniente do arroz, ajuda no transporte de ferro ao grão. Como bônus, aumenta a proporção de zinco. As variedades testadas alcançaram concentração quase em dobro do padrão normal. Estima-se que a cultivar pode fornecer 30% das necessidades de ferro para mulheres e até 100% às crianças, mas ainda depende de testes agronômicos e ambientais.

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