Arroz irrigado no Norte atrai capital americano
A fazenda foi adquirida há dois anos e está começando a colheita da primeira safra de arroz em 7,6 mil hectares.
Produzir arroz em área alagada no Cerrado e ter uma margem superior a de um arrozeiro gaúcho. De tão improvável, o negócio atraiu investidores norte-americanos que, em parceria com dois brasileiros, colocaram US$ 32 milhões no projeto da Fazenda Dois Rios, em Lagoa da Confusão, no Tocantins.
A fazenda foi adquirida há dois anos e está começando a colheita da primeira safra de arroz em 7,6 mil hectares. Mas o gerente administrativo Amilton Bardini de Souza conta que o projeto é atingir 20 mil hectares em quatro anos. Na semana passada, a Dois Rios comprou 22 colheitadeiras com esteiras adaptadas para terrenos alagados para começar a colheita.
– Essas máquinas atendem à demanda da área plantada este ano, mas teremos que comprar outras ao longo do processo de expansão – afirma Bardini.
A grande vantagem da região formada pelos municípios de Dueré, Formoso do Araguaia e Lagoa da Confusão, nas várzeas do Rio Tocantins, é a garantia de duas safras cheias por ano. No verão, a fazenda planta arroz. No inverno é feito o plantio de soja para a produção de sementes.
– A grande vantagem é que colhemos a soja sem nenhuma gota de chuva, o que garante sementes de alta qualidade – diz Bardini.
Essas condições atraíram o interesse da Harvest Capital Group LCC, uma empresa norte-americana fundada em 1996 por duas famílias de agricultores que desejavam investir na produção agrícola na América do Sul buscando terras mais baratas. Do lado brasileiro do negócio estão os produtores agrícolas Auke Djkstra e Juarez Slavieiro.
Scott Oakes, um dos fundadores da Harvest, mantinha uma parceria de consultoria no mercado de grãos com a cooperativa paranaense Batavo desde 1993 e aproveitou seu conhecimento sobre o mercado brasileiro para adquirir uma fazenda de 8,5 mil hectares no Maranhão.
Foi assim que ele começou a ter contato com o mercado de terras nas áreas de fronteira da agropecuária no Brasil, experiência que hoje Oakes coloca a serviço de empresas e investidores por meio de sua consultoria, criada ao lado do produtor Scott Thornburgh, ex-executivo de vendas da Cisco Systems que deixou a área de tecnologia para fazer dinheiro comprando terras baratas e de alto retorno na América do Sul.
A Harvest Capital foi responsável pela capitalização dos US$ 32 milhões necessários para o moderno projeto da Fazenda Dois Rios, que conta com um sistema de subirrigação para garantir a produtividade e a qualidade do arroz.
A Dois Rios é o principal projeto da empresa norte-americana.
Retorno garantido – Apesar do investimento inicial mais elevado em função do sistema de irrigação e ao menor rendimento das máquinas em terreno alagado, o gerente da Dois Rios garante que a atividade é mais lucrativa que a produção de arroz de sequeiro, comum no Centro-Oeste, por atender um mercado consumidor distante dos pólos produtores.
– O arroz irrigado tem qualidade superior ao arroz de sequeiro, por isso há um grande mercado que paga bem pelo nosso produto no Norte e Nordeste, onde o produto do Sul chega mais caro devido ao frete – constata ele. Além disso, o fato de se colher duas safras de alta produtividade no mesmo ano torna a margem de lucro maior que a dos arrozeiros gaúchos.
Segundo Bardini, as condições das estradas em Tocantins são boas e a produtividade da área irrigada garante a alta taxa de retorno esperada, que não foi divulgada. A Dois Rios está com 15% da safra colhida e terá uma produtividade entre 5,5 a 5,6 toneladas de arroz por hectare, comparável apenas à média do Centro-Sul nesta safra, de 5,1 mil hectares, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
A previsão de safra da Conab para o ciclo 2006/2007 mostra que a produção de arroz está crescendo no Norte, Nordeste e Centro-Oeste do País, justamente onde os preços são mais altos, enquanto o Sul reduz a produção.