Arroz perde espaço na mesa brasileira
Pesquisas e estatísticas
mostram queda gradual
no consumo do grão
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Pelo menos três indicadores apontam que o brasileiro está comendo menos arroz em suas refeições, corroborando uma tendência que já era notada pelo menos nas duas últimas décadas: a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o quadro de oferta e demanda da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e um levantamento de demanda nacional realizado pela consultoria Euromonitor, contratada pela Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz).
Por esta última pesquisa ficou estabelecido que o consumo per capita de arroz no Brasil é de 34 quilos (base casca) ao ano. O estudo confirma que o grão se mantém como um dos principais alimentos de norte a sul do país.
Como o método foi utilizado pela primeira vez, não é possível assegurar se houve aumento ou queda no consumo nacional, mas os números são bem inferiores aos indicadores históricos do IBGE e da Conab.
Pela pesquisa encomendada pela indústria, o Brasil consome 10,7 milhões de toneladas de arroz em casca por ano, ou 7,15 milhões em base beneficiado. O Sudeste é a principal região consumidora em volume, enquanto o Centro-Oeste tem o maior consumo per capita: 40 quilos por ano.
A Euromonitor ouviu 2.098 consumidores de Belém, Brasília, Recife, Porto Alegre e São Paulo em 2018, além de representantes do setor e um público selecionado, como profissionais da saúde e nutrição. Depois da divulgação desta pesquisa, a Conab publicou balanço de oferta e demanda e ratificou a trajetória de queda do consumo de 11,5 milhões de toneladas para 10,68 milhões base casca por ano no país, praticamente unificando as informações.
CENÁRIO
Para Elton Doeler, presidente da Abiarroz, a pesquisa aponta um cenário de crescimento da demanda no mercado interno. “Entre os fatores que reforçam a tendência está o fato de o produto ser considerado acessível e barato e oferecer saciedade”, cita. Além disso, contribuem para a expectativa as pressões por saudabilidade, que levam parte dos consumidores a incluir em suas refeições o arroz orgânico ou integral.
A alta disponibilidade de diferentes tipos do cereal e a ausência de glúten, podendo ser consumido por celíacos e pessoas que buscaram reduzir ou eliminar esse componente da dieta, igualmente indicam tendência de fortalecimento do consumo de arroz no mercado brasileiro.
O diagnóstico reforça a necessidade de ampliar o conhecimento dos consumidores sobre os valores nutricionais do grão.
ALARMANTE
“A pesquisa é um pouco alarmante, pois mostrou um número de 34 quilos por habitante ao ano, e o principal motivo disso é a falta de conhecimento. Mas, para o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), é bom saber que o nosso Programa de Valorização do Arroz (Provarroz) está no caminho certo, levando informações corretas aos formadores de opinião e ao consumidor final”, frisou a coordenadora do Provarroz Camila Pilownic em apresentação ao conselho deliberativo do Irga.
Sérgio Roberto Gomes Santos Júnior, da Conab, considera que a variável consumo tem sido fundamental para a formação dos preços ao longo da cadeia da orizicultura e também para o novo perfil no quadro de oferta e demanda. “A queda gradual no consumo explica muita coisa com relação à oferta e à procura por arroz no mercado brasileiro e os fatores que afetam a formação de preços”, diz.
Para Antônio da Luz, economista-chefe da Federação da Agricultura e Pecuária do Rio Grande do Sul (Farsul), a queda no consumo é clara e inegável: “Mensurar com precisão qual foi a queda é impossível, mas isso traz implicações ao mercado. O que eu posso afirmar é que o arroz não é, como alguns insistem em dizer, comida de pobre e fica evidente que o consumo do grão cai quando a renda familiar diminui”, resume.