Arroz pode ser alternativa ao trigo na produção de farinha
Ao contrário do trigo, há dois anos o Brasil era auto-suficiente na produção de arroz, com uma colheita de 13 milhões de toneladas.
Se a produção de trigo não é suficiente para o consumo nacional, os arrozeiros têm a solução: o uso do produto quebrado na fabricação de farinha e, com isso, a garantia da rentabilidade e sustentabilidade da lavoura. O arroz servirá como matéria-prima para pães, massas e pizzas.
A aposta dos orizicultores de arroz é na possibilidade de aumento da produção superior à disponibilidade dos triticultores. Ao contrário do trigo, há dois anos o Brasil era auto-suficiente na produção de arroz, com uma colheita de 13 milhões de toneladas. Para o trigo, o mais perto da autosuficiência foi em 1988: quando foram produzidas 5,8 milhões de toneladas e importadas apenas 930 mil toneladas.
– O arroz pode ocupar o espaço desse trigo importado – diz Angélica Magalhães, pesquisadora do Instituto Riograndense do Arroz (Irga).
Segundo ela, a farinha de arroz pode ser usada por quem tem intolerância ao glúten, por exemplo, transformando-o em um produto diferenciado. De olho neste mercado, algumas indústrias já estão produzindo farinha de arroz. É o caso da Cooperativa Regional Agropecuária Sul Catarinense Ltda (Coopersulca). Os produtores estão usando parte do arroz quebrado para a fabricação de 300 a 400 toneladas mensais de farinha, que é revendida para indústrias de panificação e ração no Sul, Bahia e Rio de Janeiro.
Em Porto Alegre, a Mega Trigo Indústria e Comércio de Panificação Ltda está produzindo pão de forma, pizza e massas com farinha de arroz. Segundo Ricardo Mello, proprietário da empresa, a farinha recebe uma mistura de 30% do produto originado do arroz. De acordo com ele, isso barateia o custo final do produto. Hoje, uma saca de farinha de arroz vale R$ 50,00 a saca, enquanto a de trigo sai por R$ 65,00 a R$ 70,00 a saca (50 quilos). A empresa procura redes varejistas interessadas em vender o produto.
Em média, cerca de 10% da produção apresenta quebrados. E, com o uso diferenciado, o produto está se valorizando. Segundo a Safras & Mercado, em média o grão quebrado teve o preço reajustado em 15%, enquanto o inteiro teve 3% no acumulado do ano.
– Os outros usos podem estimular a produção do arroz e fortalecer a indústria – acredita Tiago Barata, analista da consultoria.
Além do destino para as indústrias locais, o Brasil também está exportando o grão quebrado. Cerca de 85% do volume embarcado de arroz até setembro foi de grão quebrado: 177,8 mil toneladas.
Para o analista Élcio Bento, da Safras & Mercado, a única maneira de o País diminuir a dependência do trigo importado é estimular a produção local.
– Só em último caso o consumo de arroz vai ganhar espaço do trigo. Com certeza não é uma saída para a escassez do cereal – diz.
A chefe-geral da Embrapa Arroz e Feijão, Beatriz Pinheiro, acredita que as formas diferenciadas de uso do arroz – e também do feijão – podem estimular a produção. Segundo ela, é preciso a promoção do produto, como a realizada pelo supermercado Carrefour, que até amanhã promove em todas as suas lojas no Brasil a “semana do arroz e feijão”.