Arroz preto, sim, senhor!

Produto importado alcança R$ 50,00 o quilo no mercado.

Novidade na lavoura brasileira, com sua primeira safra comercial colhida no mês de abril, o arroz preto está atraindo o interesse de muitos agricultores em todo o país. O motivo principal é que o cereal cultivado em apenas 30 hectares, numa propriedade de Pindamonhangaba, no interior paulista, alcançou um preço mínimo de R$ 18,00 o quilo. Ou seja, obteve por quilo mais do que um saco de 50 quilos de arroz alcançava, no mesmo período, no Rio Grande do Sul. Toda a produção foi comprada por um distribuidor de Campos do Jordão para abastecer hotéis e restaurantes da cidade, servindo à preparação de pratos exóticos.

Responsável pelo desenvolvimento do IAC-600, o Instituto Agronômico de Campinas tem recebido inúmeros pedidos de informação sobre o arroz preto, que apresenta alto valor nutritivo, com aproximadamente 20% mais proteínas e 30% fibras do que o branco integral. “Mas essa nova variedade não pode ser vista como a salvação da lavoura”, avisa o melhorista Cândido Ricardo Bastos, explicando que o produto foi criado de acordo com as condições climáticas e de solo específicas de São Paulo.

“Sua utilização em outros estados aumentaria sobremaneira os riscos inerentes à atividade orizícola”, acrescenta o pesquisador do IAC. Ele ainda destaca que o arroz preto apresenta um rendimento bem menor do que o branco e um custo maior de produção, além de ter um mercado bastante restrito no Brasil. Mesmo assim, Cândido Bastos não tem dúvidas de que a área cultivada com o cereal deverá aumentar bastante nos próximos anos, principalmente em São Paulo, mas prefere não arriscar números.

PIONEIRO

O agricultor Francisco Ruzene, de Pindamonhangaba, foi o primeiro a apostar no cultivo do arroz preto. Em uma área inicial de testes de dois hectares, ele colheu cerca de seis mil quilos de arroz no ano passado. O plantio animou o produtor, que aumentou a lavoura em 15 vezes para esta safra, quando manteve o mesmo rendimento.

Saiba mais

• O arroz preto é originário da China, onde é plantado há mais de quatro mil anos. Foi a partir de uma variedade asiática que o Instituto Agronômico de Campinas desenvolveu, a partir de 1994, seu IAC-600, que apresenta – após o cozimento – um aroma forte e gosto semelhante a pinhão e castanha.

• O cultivar adapta-se tanto ao sistema de plantio irrigado como o de terras altas (sequeiro) com irrigação suplementar. Tem porte baixo e é precoce, com seu ciclo durando cerca de 85 dias do plantio à colheita. Destaca-se, também, a alta resistência à brusone, principal doença do arroz.

• O IAC-600, de acordo com testes feitos em uma universidade do Texas, tem 10 vezes mais compostos fenólicos – benéficos à saúde humana por serem antioxidantes – que o melhor material já analisado pela instituição. Por isso, terá sua classificação pleiteada como alimento funcional.

Mercado

As variedades importadas de arroz preto chegam a custar até R$ 50,00 o quilo. O preço do cereal nacional ficará, nesta safra, em menos da metade desse valor. Um dos motivos é a necessidade do produto nacional, que nada deve em qualidade ao arroz preto importado, entrar no mercado, mostrando sua potencialidade. Outro é que o produto cultivado em Pindamonhangaba está sendo entregue em embalagens simples, ao contrário do que vem do exterior, que chega a ser acondicionado em caixinhas especiais.

A PLANTA

• Altura média: 65-85 centímetros

• Floração média: 68-80 dias

• Maturação média: 100-110 dias

• Perfilhamento: bom

• Cor das folhas: verde-escura

• Pubescência da folha: pubescente

• Cor das glumelas: palha com manchas marrons

• Cor do ápice: amarela

• Arista: ausente

• Exerção da panícula: completa

• Degrane: difícil

• Acamamento: resistente

FIQUE DE OLHO
O arroz preto IAC-600, assim como as diversas cultivares de branco plantadas em todo o Brasil, é da espécie Oryza sativa e não deve ser confundido com o integrante da Zizania sp, que representa uma gramínea nociva para a lavoura. O primeiro apresenta a casca cor de palha e os grãos pretos, como o cereal integral, enquanto a invasora tem a casca preta e cachos que caem com grande facilidade.

RECEITA

Cavaquinha com arroz preto e manga 

Ingredientes: 100g de arroz preto, 1/2 cebola, 1 dente de alho bem picadinho, 4 colheres de sopa rasas de azeite, caldo de legumes para o preparo do arroz, arroz integral, 6 cavaquinhas, 1 manga, 30 unidades de ervilha torta (orelha-de-frade), 1 maço pequeno de ceboullette bem picada, azeite extravirgem, sal e vinagre de boa qualidade.

Preparo: cortar a manga pela metade, tirar o caroço e grelhar do lado interno. Reservar. Grelhar as cavaquinhas temperadas com sal e pimenta moída na hora por mais ou menos cinco minutos. Cortar a manga grelhada em cubos, temperar com azeite e vinagre.

Montagem: formar uma flor com as ervilhas já cozidas em cada prato, enformar o arroz numa circunferência e desenformar sobre as ervilhas. Cortar a cavaquinha e montar sobre o arroz preto. Distribuir os cubos de manga temperados e servir.

• Cavaquinha é o nome popular de algumas espécies de crustáceos decápodes, parecidos com um lagostim (um grande camarão com aquelas duas garras maiores do primeiro par de patas).

O GRÃO

• Cor do pericarpo: preta

• Comprimento médio: 5,51 milímetros

• Largura média: 2,75 milímetros

• Espessura média: 1,87 milímetro

• Relação comprimento-largura: 2,01

• Peso médio: 2,55 gramas

• Classe: média

• Rendimento médio de grãos inteiros: 68%

• Teor de amilase: 19,3%

FRASE
“O arroz preto nunca substituirá o branco totalmente, mas é uma alternativa que pode surpreender a médio e longo prazos”. Cândido Ricardo Bastos, pesquisador do IAC